Prólogo

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Na infância, tudo parecia um véu de flores indistintas, uma tapeçaria de cores suaves que se desenrolava ao meu redor. O mundo, tal como eu o via, era uma maquinaria sutil e segura, onde cada detalhe parecia exato e de alguma forma benevolente, como se cada sombra tivesse seu lugar no cenário e não me ameaçasse. Havia um certo perfume de margaridas, algo tênue e quase irreal, que impregnava o ar dos dias passados—um cheiro que hoje se mistura, na memória, com o toque das mãos que me guiavam e o eco de vozes que já esqueci.

Mas há uma inquietude em tudo isso, uma pergunta vaga que não se cala: teria sido tudo uma ilusão? Aqueles rostos que eu observava, as vozes que me rodeavam—perfeitos e imaculados na minha percepção de então—seriam de fato tão isentos de sombra quanto pareciam? Ou eu, cega pela inocência, olhava apenas a superfície de uma realidade opaca?

Sinto saudade desse perfume perdido, desse murmúrio que parecia proteger cada passo meu. Mas quando tento lembrar com exatidão, tudo se desfaz, como névoa ao toque, e percebo que o cheiro das margaridas se dissipou muito antes de eu me dar conta, como se tivesse sido sugado para longe pelo próprio passar do tempo, deixando-me apenas com o eco de uma lembrança fragmentada.

Dez anos atrás.

O primeiro dia de aula de Sakura era uma manhã tão luminosa quanto sua expectativa. Nunca antes seus pés haviam tocado o chão de uma escola, e as promessas de sua mãe ainda ecoavam em sua mente: lá, ela encontraria amigos de sua idade. Amigos, pensava consigo, uma ideia simples e ainda incompreensível, como algo aguardado com uma ansiedade doce e inexplicável.

Diante da escola, ela parou por um instante, talvez intimidada pela grandiosidade inesperada do lugar. O campo de areia se estendia vasto como um pequeno deserto, uma casinha de boneca em tamanho real espreitava à sombra de uma árvore, e ali, espalhados pelo pátio, estavam os brinquedos, desgastados pelo tempo, mas ainda assim fascinantes aos seus olhos, como relíquias de um reino desconhecido.

A professora, envolta em conversas com os pais, não parecia notar sua hesitação. Enquanto isso, seus olhos percorriam o cenário, até que se fixaram em um pequeno grupo. Ali estavam eles: uma garota de cabelos dourados que espelhava os dela, outra de cabelo escuro e uma franja meticulosamente cortada, e dois garotos – um loiro, o outro de cabelos negros, quase contrastando como o dia e a noite.

Aproximando-se com um nervosismo contido, ela deixou escapar um pedido tímido e esperançoso:

— Posso brincar com vocês?

A menina loira, de olhos brilhantes, abriu um sorriso largo e acolhedor.

— Claro que pode! — respondeu, com uma segurança que parecia incomum para alguém de sua idade. — Qual é o seu nome?

— Sakura — respondeu a nova aluna, hesitante, mas sorrindo. — E o seu?

— Ino — disse a loirinha, levantando-se rapidamente para puxar uma cadeira. — Vem, senta aqui.

Sakura aceitou o convite, sentando-se enquanto lançava um olhar curioso ao redor. Foi quando a menina de cabelo escuro, que até então permanecera calada, falou em um tom doce e tímido:

— Oi, eu sou a Hinata — disse ela, com um leve rubor nas bochechas, como se falar fosse, para ela, um pequeno desafio.

— E eu sou o Naruto! — anunciou o garoto loiro, com uma energia vibrante que preencheu o espaço ao redor. — E esse aqui é o Sasuke. — Ele apontou para o garoto de cabelos pretos, que apenas ergueu a mão em um aceno discreto, esboçando um sorriso quase enigmático.

Sakura não pôde evitar uma breve admiração. Havia algo magnético na postura do menino de cabelos pretos, uma beleza silenciosa e uma aura de mistério que despertavam sua curiosidade.

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