Inimigos

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Finalmente, o sinal anuncia o fim do intervalo. O que antes era um sinal de alívio agora se tornava meu maior inimigo, pois, naquele momento em específico, anunciava ter que encarar todos os demônios do passado que nunca enfrentei. Em um momento da minha vida eu decidi  que ia fugir deles, repetindo para mim mesma: "Quando eu finalmente me formar vou sumir daqui e nunca mais ver ninguém." Que ingênua eu era.

Será uma aula cheia, no auditório. Talvez alguém dissesse:"Eles nem vão te notar, você vai poder se misturar entre as pessoas." Mas o problema é que essa aula foi feita justamente para me fazer interagir com os outros alunos –eram aulas preparatórias para o fórum que aconteceria até o final do ano.

As aulas de "Preparação para o Fórum Acadêmico" são bem diferentes do que estamos acostumados. A cada dois anos, o Instituto Nacional de Excelência Educacional, ou INEE, lança um tema importante – mudanças climáticas, tecnologia, essas coisas – e a nossa escola, como as outras da região, precisa montar um fórum em cima disso. Basicamente, é uma chance de a gente mostrar nossas habilidades acadêmicas.

Todos os alunos são divididos em grupos , e os professores mais exigentes e detalhistas da escola pegam pesado na orientação. Eles querem que cada proposta seja original, prática e que faça o INEE nos notar. Afinal, essa é uma instituição super renomada, conhecida por destacar jovens talentos e, claro, deixar nossa ficha escolar mais atraente para as universidades de prestígio.

No final, o INEE manda uma equipe de avaliadores para julgar nossas apresentações. A escola ganha uma nota, e quem participa ainda consegue um diferencial no histórico escolar. Então, não é só uma aula; é uma oportunidade de deixar nossa marca e – quem sabe? – abrir portas para o futuro.

Saori entrelaça nossos braços e começa a andar como se fosse algo natural para ela, um hábito que eu deveria compartilhar. Mas algo em mim endurece. Tento parecer à vontade, solta, mas sinto cada músculo tenso. Gostaria de ter o mesmo jeito que ela, essa simplicidade que transforma tudo em leveza. Mas só de pensar nisso, fico mais nervosa.

Entramos na sala, já quase cheia, e meus olhos evitam os rostos ao redor. Sigo as meninas, me escondendo atrás delas, como se seus passos pudessem me proteger dos olhares curiosos. Sentamos ao fundo, perto da parede, e a proximidade me dá um alívio sutil.

Samui se senta ao meu lado, e percebo o quão discreta ela é. Não precisa de palavras; existe nela uma reserva que não pede explicações. Saber que não sou a mais fechada do grupo traz um conforto silencioso.

Olho para a porta, e lá está Sasuke. Sinto meu coração disparar, um impulso que quase me irrita pela força com que me arrasta – maldita paixão! Ele está cercado de garotos bonitos, provavelmente do time de basquete, seus companheiros de sempre. Mas, para ser sincera, conheço o nome de poucos; apenas Suigetsu me soa familiar, inseparável desde que o nosso grupo se desfez.

O professor Kakashi já está na sala. E, ironicamente, ele é mais um dos motivos para eu hesitar em frequentar essas aulas. Kakashi, com sua calma despretensiosa e simpatia irritante, parece sempre em paz com o mundo – e também em paz com a bagunça da turma. Explica tão bem sua matéria que é quase impossível desgostar de sua presença. E, ainda assim, as pessoas que mais evito parecem gravitar em torno dele. Às vezes, é como se ele percebesse a minha aversão velada, esse recuo que eu faço questão de disfarçar, e mesmo assim ele segue tranquilo, sem demonstrar um pingo de estranheza.

Naruto chega na aula, e é como se o espaço inteiro de súbito se inflamasse. Desde criança, ele é barulhento, sempre absorvendo olhares – especialmente os das garotas, com uma naturalidade quase absurda. Por mais que seja o oposto de Sasuke, sua presença carrega um encanto próprio, tão radiante quanto perturbador. Enquanto Sasuke se destaca por um silêncio quase hermético, Naruto é o grito do lado de fora, a personificação de uma alegria que beira o desconforto, uma intimidade que parece se infiltrar sem pedir licença. Ele é o líder do clube de natação, membro do time de basquete, e, ainda assim, diferente em tudo, mantém com Sasuke uma amizade sólida, como uma ligação entre polos opostos de um mundo dissonante.

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