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10 || Como um Parasita

"Até cortar os defeitos pode ser perigoso

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"Até cortar os defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro"

Clarice Lispector

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Agatha se sentia como um parasita, vivendo as custas de uma outra pessoa- Alyrya Tully, a menina morta. Era quase patético o quão pouco sabia sobre a menina que se afogou durante a infância, apenas sabia que ela era distraída e de lento aprendizado, difícil de controlar e com uma certa obsessão pelo rio que a matou- também sabia que ela tinha cabelos escuros, não tanto quanto a sua verdadeira mãe, dentes bastante tortos em um sorriso grande.

Agatha também teve dois dentes tortos em sua primeira infância.

Costumava passar a língua entre eles, repetidamente, quando estava nervosa.

Obviamente, sua mãe não iria permitir que nenhuma das filhas ostentasse dentinhos tortos, então, não demorou muito para que Agatha fosse obrigada a usar aparelhos durante anos- Frances achava o aparelho uma graça, no entanto, Agatha nunca se habitou ao tratamento desconfortável e os lábios sempre cortados pelos ferros. O pai demorou dois meses para perceber a sua nova aquisição, mas a Agatha ainda se lembrava como ele encarou os ferros em sua boca e permaneceu em completo silêncio... hoje em dia, começou a acreditar que ele apenas estava pensando em que momento o aparelho havia surgido- quando moraram juntos durante seu período na faculdade, foi ele quem a levou para cortar o seu longo cabelo e a elogiou pela mudança. Ela nem havia gostado, mas fingiu que sim... fingir sempre foi mais fácil.

Era boa em fingir ou, pelo menos, era boa nisso na maior parte do tempo.

Talvez, essa tenha sido a criação ideal para salvar a sua vida naqueles dias, já que a sua situação ainda era um completo mistério para si e, infelizmente, ela continuava a acordar em Porto Real dia após dia, por mais que desejasse ardentemente acordar em sua casa. Ela odiava sua situação, odiava a maior parte dos seus dias e, na maior parte do tempo, sentia vontade de chorar quando algum nobre desconhecido resolvia que era uma grande idéia conversar com ela, quase sempre sobre os seus anos em um septo- Agatha chorava durante a noite, quando não havia ninguém para julgá-la.

O pior de tudo era como se sentia uma parasita.

Durante a noite, tentava pensar na pobre Alyrya Tully e sua curta vida miserável- pensava em como Bernyce Blackwood deve ter sido cruel com a menina durante os anos que passaram juntas. Apenas uma criança com uma pai ausente e uma mãe falsa, nada além disso. Posteriormente, foi abandonada em um septo quando o avô acreditava não precisar mais dela, foi esquecida naquelas paredes mofadas e morreu sozinha naquele rio, afogada- o seu corpo foi encontrado dias depois, quase irreconhecível. Ninguém deve ter chorado por sua morte, nem pensado em como foi o seu momento final.

LINHA TÊNUE || DAEMON TARGARYENOnde histórias criam vida. Descubra agora