「 ✦𝐑𝐞𝐬𝐟𝐫𝐢𝐚𝐝𝐨✦ 」

300 20 3
                                    

「 ✦𝐑𝐞𝐬𝐟𝐫𝐢𝐚𝐝𝐨✦ 」

𝐋𝐄𝐍𝐂̧𝐎𝐒 que foram usados e amassados estavam espalhados por toda a parte do quarto do grande rei, criando uma paisagem melancólica a quem entrava naquele lugar. As cortinas, feitas de um tecido pesado e ricamente bordado com fios dourados, estavam quase totalmente fechadas, permitindo apenas uma fresta de luz a penetrar no ambiente. A luz se filtrava pela abertura lutava contra a escuridão, criando sombras que dançavam nas paredes cobertas de tapeçarias antigas e sombrias.

Cardan estava deitado sob sua cama, os lençóis de linho emaranhados ao redor de seu corpo magro. Sua cabeça repousava pesadamente no travesseiro, inclinada para cima, enquanto seus olhos semicerrados mostravam sinais de cansaço extremo. Abaixo deles, uma olheira quase imperceptível, e a ponta de seu nariz estava irritada e vermelha, consequência das constantes fungadas e do esfregar incessante com lenços de papel áspero.

O único som que poderia ser escutado daquele cômodo eram apenas tosses roucas e gemidos do jovem rei. Cada tosse fazia seu corpo tremer levemente, intensificando a sensação de fraqueza que o dominava.

Dois dias atrás, Cardan e eu havíamos ido para o mundo mortal, em uma viagem planejada para visitar Oak e Vivi. Ao chegarmos, encontramos Oak alegremente empanturrando-se com sorvete de morango.
Cardan, curioso como sempre, não conhecia a tal sobremesa e aceitou prontamente quando Oak lhe ofereceu um pouco.

Grande erro.

Cardan gostou tanto do sorvete que, em poucos minutos, devorou o pote inteiro, deixando Oak em lágrimas. Envergonhada, comprei outro pote para Oak, tentando remediar a situação. Mas Cardan, fez a questão de enfeitiçar os funcionários saindo dali com quase todo o estoque de sorvetes, para si.

Era nítido até para um cego saber que o garoto ficaria resfriado cedo ou tarde.

Subindo pela longa escada do palácio, cada degrau rangendo sob meus pés, eu me esforçava para manter a bandeja equilibrada. Nela, repousavam frascos de remédios, lenços limpos e um bule com chá.

Quando alcancei a porta do quarto, tentei abri-la lentamente, quase sem ruído, e meu olhar recaiu sobre a figura adormecida na cama. Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios ao vê-lo finalmente em repouso, mesmo que apenas por um breve momento.

Caminhei com cuidado até o criado-mudo ao lado da cama, depositando a bandeja ali com suavidade. Em silêncio, comecei a arrumar o quarto, recolhendo lenços usados e ajeitando o lençol com delicadeza. Meus dedos tocaram o pano molhado sobre a testa de Cardan, agora quente devido à febre que o atormentava, e retirei-o com cuidado, tentando não perturbá-lo.

Quando me virei para sair, uma mão quente e firme agarrou meu pulso, me puxando de volta para a cama. Um sobressalto percorreu meu corpo.
A visão dos olhos entreabertos de Cardan, lutando contra o peso da febre para me focar, fez meu coração acelerar.

Ele estava em um estado deplorável, abatido pela febre que o consumia, mas mesmo assim, havia uma beleza cruel e irresistível em seus traços. Seus olhos, apesar da exaustão, brilhavam com uma intensidade que me prendia. Era uma beleza que desafiava a doença, uma beleza que, mesmo nas piores circunstâncias, conseguia ser desgraçadamente linda.

Percebo que fiquei imóvel, hipnotizada pelos olhos penetrantes dele. O silêncio paira entre nós, enquanto tento reunir coragem para falar.

- Está se sentindo melhor? - minha voz sai trêmula, revelando meu nervosismo pelo seu toque e proximidade. Meus rosto cora instantaneamente.

Ele responde com um suspiro, sua voz rouca e fraca.

- Não muito. Minha cabeça está latejando, como se estivesse em chamas, meus olhos ardem e sinto uma fraqueza avassaladora.-

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬 - 𝐉𝐮𝐝𝐞 𝐞 𝐂𝐚𝐫𝐝𝐚𝐧.Onde histórias criam vida. Descubra agora