Nossa Família

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Essa já era a terceira vez que fazíamos a inseminação, nenhuma das outras duas haviam dado certo, o que me deixava sem esperança cada vez mais. A cada negativo que eu via em minha frente eu sentia um pouco do meu sonho de ser mãe ir embora. Eu sabia que o processo poderia ser demorado, algumas mulheres conseguiam de primeira, outras depois de dez tentativas.

Mas acho que eu acabei me empolgando demais, o que fez minha frustração ser maior ainda. Poderia ser minha ansiedade que estava atrapalhando o processo, ou até mesmo minha idade. Eu já não era mais nenhuma jovem. Ter adiado esse sonho por tanto tempo estava tendo suas consequências.

Fernando estava sendo um parceiro incrível, e mesmo não demonstrando eu sabia que ele estava tão frustado quanto eu.  Ele estava tendo que  ser forte por mim e por ele. Estava sempre ao meu lado quando eu iria fazer os testes, e tinha sempre que me consolar quando o resultado não era o esperado.

– tudo bem, acho que não devesse ser mãe mesmo. - digo indo jogar mais um teste no lixo, estávamos no banheiro da nossa casa.

– não fala isso, meu amor. - Fernando veio até mim e me abraçou. - só acho que fizemos cedo demais, lembra que o médico falou que demora? Talvez devêssemos esquecer um pouco e relaxar.

- e se a gente adotasse? - Fernando me olhou atento, tentando me entender. - tem tantos bebezinhos lindos precisando de uma família. Assim não teríamos que esperar tanto e nem eu teria que passar por tudo de uma gestação.

Dizer aquilo me doía. Porque eu queria sim passar por tudo de uma gestação. Queria poder sentir cada chute, cada desejo, meu corpo tendo que se adaptar para o bebê, queria poder conversar com ele na barriga e criar um vínculo com meu filho ainda no ventre. Queria ser a responsável por entrega-los todos perfeitinhos.

- Maraísa...

- amor, eu não quero mais passar por isso. - deixei que todo meu choro saísse, Fernando me apertou em seus braços tentando me acalmar. - e se a gente não conseguir nunca?

- não fala isso que vamos conseguir sim, só precisamos esperar o momento certo chegar.

Dormir naquela noite foi algo impossível, sempre que eu fechava os olhos via duas crianças correndo pela estrada chamando por "mamãe". E cada vez que eu tentava me aproximar deles eu os via mais longes. Até que as duas crianças sumissem de vez, restante apenas um cenário totalmente branco, uma claridade que me assustava.

Talvez fosse um sinal. Sinal para que desistisse de vez, deixasse esse sonho ir embora.

Durante aquela semana Fernando fez de tudo para me deixar feliz, aquilo tinha me deixado triste, e tudo que eu queria era apenas ficar na cama. Até mesmo a vontade de comer havia passado.

- amor, recebi uma ligação da minha mãe e ela nos convidou para passarmos a semana lá. - Fernando disse entrando no quarto com o celular em mão. - é aniversário de casamento dela e ela tá preparando uma festa.

- tudo bem...

- e parece que vai toda sua família. - Fernando se jogou ao meu lado da cama e me puxou para seus braços. - até sua madrasta foi convidada.

Eu ri e me aconcheguei melhor em seus braços.

Na quarta da semana seguinte fomos pegar o jato para irmos para o Tocantins, no vôo iria eu, Fernando, Maiara e minha mãe, meu pai e meu irmão já estavam por Araguaína. Eu havia dormido a noite toda e metade da manhã, mas meu corpo parecia que não havia descansado o suficiente. No carro eu estava quase dormindo novamente e agora eu só queria entrar no avião e dormir o vôo inteiro.

- Que sono é esse, Maraisa? Fernando me disse que você foi dormir super cedo ontem e ainda acordou tarde hoje. - minha mãe perguntou enquanto nos ajeitavamos nas poltronas.

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