Poucos homens

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Horas antes.

Lorena narrando

Estou no escritório de um amigo de Miguel. Chegamos na Espanha há uma semana. Já procurei em cada canto desse maldito lugar, mas ninguém consegue encontrar o lugar exato onde Fabrício leva os homens para o abate.

Ouço uma batida na porta e levanto com expectativa. Um dos meus homens entra.

— Encontramos!

— Já era hora. — Digo, sentindo um alívio percorrer pelo meu corpo. — Onde ele está? E como conseguiram encontrá-lo?

— Tive que oferecer uma fortuna para um dos capangas de Fabrício. Depois de uma semana me enrolando, ele me disse onde fica o galpão e até me mandou uma foto do senhor Miguel.

— Foto? Me mostra!

— Senhora, não recomendo... — Assim que Rick diz, encaro seus olhos de uma forma ameaçadora de imediato ele me entrega o celular.

— Céus... — Sussurro com o tamanho do pavor que sinto ao ver o estado do meu irmão. Bato o celular com força na mesa, fazendo-o quebrar. — Quero todos mortos, todos! Está me ouvindo?

— Sim, senhora, os homens já estão preparados, só estão esperando o caminhão com as armas que pediu chegar.

— Ok, pode sair e quando estiver tudo pronto, me avise. E deixe avisado que quero Fabrício de joelhos na minha frente. Estou ansiosa para vê-lo pessoalmente.

— Sim senhora!

— Ia adorar mostrar o que uma mulher de verdade é capaz de fazer com ele na cama, mas depois disso vou ter que matá-lo.

Rick sai demonstrando estar constrangido, sorrio e levo meu copo de bebida alcoólica na boca. Gabriela, que estava em silêncio ao ver a foto de Miguel, me encara.

— Tem certeza que quer lidar com Fabrício pessoalmente?

— Sim, por que? Acha que eu não consigo? — Digo, levantando a sobrancelha.

— Não é isso que eu quero dizer. Mas ouvi falar que Fabrício não é tão bonzinho como aparenta ser. Já vi vídeos dele em confronto quando estava na polícia. E confesso que estou com um pouco de receio.

— Isso se torna cada vez mais interessante. — Falo, mostrando meu interesse no assunto. — Qualquer coisa, levo ele para minha casa e faço dele meu novo brinquedinho.

— Você é louca. Dizem que ele mudou suas táticas de tortura, agora cada ação condiz com o que a pessoa fez. Se violentou, será violentado, se bateu, será espancado até a morte, e assim por diante. Com o roubo é diferente, ele corta partes de quem roubou. Descobri que antes de qualquer ação, ele investiga a vida da pessoa para ver se ela é realmente culpada ou inocente. — Gabriela fala com um pouco de admiração. Encaro seus olhos e ela logo desvia.

— Quem diria que o todo certinho está se saindo melhor do que imaginei. Porém acho uma bobagem, eu gosto de tortura, gritos e muito sangue. Não me importa se é inocente ou não. Tudo que sei foi Miguel quem me ensinou e com ele percebi que não existe pessoas boas, nem inocentes. Se fosse pelo meu pai, nunca estaria na frente dos negócios da família por isso honro a vida do meu irmão. — Alguns minutos se passaram e Rick ligou avisando que estávamos de saída. — Aguente, irmão, vou te tirar daí. Prometo que vou me vingar pelo que estão fazendo.

— Será fácil resgatá-lo! Rick disse que o galpão de Fabrício é de difícil acesso, então terá poucos homens. — Gabriela fala, colocando o colete à prova de balas e carregando a arma. — Você vem?

— Lógico! Nunca deixaria a vida do meu irmão nas mãos de pessoas tão imprestáveis como vocês!

Oliver narrando

Estamos aqui em mais uma sessão de tortura contra Miguel. O senhor Fabrício e o Caio virão hoje terminar o serviço. Este maldito está implorando por sua vida há dois dias, nem parece mais o temido mafioso que trouxemos aqui.

Me aproximo da cela onde ele está e jogo um saco com um salgado e uma garrafa de água para ele.

— Fabrício pediu para entregar sua última refeição.

Miguel está caído no chão, com dificuldades de falar. Ele olha para mim e volta a deitar a cabeça no chão.

— Você vai me matar mesmo... para que vou querer comer?

— Não vou insistir, você quem sabe.

Me retiro e vou checar as redondezas do galpão. Aqui é tranquilo, somente o pessoal do Fabrício sabe como chegar. Acendo meu cigarro, porém apago rapidamente quando vejo vários carros entrando na fazenda do Fabrício.

— Merda! — Digo, pegando o celular para comunicar os outros homens. Estamos em minoria, apenas cinco. Firmo meus olhos e percebo que Lorena está entre os vários homens. — Como esses malditos conseguiram nos achar?

Não demora muito e Lorena desce do carro com sua arma em punho, apontada na minha direção.

— Olha o que temos aqui! Se não é o cachorrinho adestrado do Fabrício. — Ela diz, sorrindo, um sorriso amargo sem emoção.

Lorena narrando

Assim que chegamos, damos de cara com o braço direito de Fabrício. Antes de terminar de falar, ele atira várias vezes, acertando alguns dos meus homens.

— Filho da puta! — Grito, mirando bem na sua cabeça, mas logo outro homem atira na nossa direção. — Inferno.— Olho para trás e vejo quatro dos meus homens caídos no chão, ensanguentados. — Bando de incompetentes! Não é possível que apenas quatro homens vão acabar com mais de vinte dos meus.

Começa um tiroteio. Vejo Oliver tentar se comunicar com alguém, mas um dos meus homens lhe dá um tiro na barriga. Oliver cai gemendo no chão.

Olho para a entrada do galpão. Gabriela e o homem que traiu Fabrício estavam carregando meu irmão, Miguel gritava de dor. Ele está irreconhecível, completamente machucado e cheio de sangue.

— Vamos sair daqui, já avisaram o Fabrício. — Gabriela grita, chamando minha atenção.

— Porra! Até que enfim.

Entramos no carro e fomos direto para o esconderijo próximo dali. Hoje em dia o dinheiro compra qualquer coisa e pessoa. Foi só molhar a mão de um fazendeiro que ele construiu um subsolo embaixo do seu estábulo. Trouxemos o médico que atende nossa família desde o meu nascimento.

— E aí, doutor, ele vai sobreviver? — Pergunto, segurando a mão de Miguel que está desacordado desde que o tiramos de lá.

— Não posso mentir, ele está muito mal. Precisamos levá-lo o quanto antes para a clínica. Sinto em dizer que se ele não receber o tratamento adequado, Miguel não vai sobreviver.

Encaro o médico na minha frente. Ele me olha e abaixa a cabeça.

— Você não tem escolha, doutor. Ou salva meu irmão e sai por aquela porta vivo e em segurança, ou eu mato um por um da sua enorme família, começando por sua linda netinha que acabou de nascer.

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