Família Escolhida

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"Vou sair."

A voz de Niklas era ressonante. Final.

Os dedos de Mina pararam sobre as moedas que ela estava contando enquanto se sentava curvada no chão, as tábuas de madeira ásperas arranhando a pele de seus joelhos. Ela olhou para ele, piscando, tirada do turbilhão de pensamentos em sua mente. Ela tinha passado o dia todo meticulosamente contabilizando cada pedaço de dinheiro que possuíam, fazendo uma nota mental de tudo o que poderiam comprar para o resto da semana. Não tinha certeza do que havia acontecido, mas após cada contagem final, o valor era muito menor do que ela esperava. Eles mal poderiam se alimentar nos próximos dias. Tudo o que podiam fazer era esperar que Peter viesse com seus ganhos.

O interior de sua boca começou a sangrar enquanto ela mastigava. Ela odiava que tivessem se tornado dependentes de Peter.

"Sozinho?" Ela perguntou, olhando para as tábuas do chão.

"Sim." Ele a encarava, esperando.

Mina teve que parar seus dentes de mastigar novamente. Não demorou muito para ela juntar as peças, para descobrir para onde ele estaria indo. Ele sabia que ela tinha entendido o momento em que tinha falado. Desde que se conheceram, desde que eram crianças, Niklas sempre relutava em deixar Mina fora de seu alcance. Ele fazia tudo o que podia para mantê-la ao seu lado a todo momento do dia. Havia apenas um lugar onde ele insistia para que ela ficasse em casa quando o visitava.

"Não." Ela disse, observando enquanto ele desviava o olhar do dela. "Por favor, não."

Ela raramente pedia alguma coisa dele.

Ele passou um dedo pelo cabelo arenoso.

"É um bom dinheiro, Mina."

"Nós vamos ter nosso pagamento do Peter a qualquer dia agora."

Ele bufou de frustração, os dedos se agarrando às pontas de seu cabelo e puxando com força.

"Não é suficiente! Nunca é suficiente... Mina... eu tomei uma decisão... estar lá fora me fez perceber... eu vou tirar a gente daqui, tudo bem? Eu vou tirar você daqui, mesmo que seja a última coisa que eu faça."

Era a vez de Mina desviar o olhar, suspirando suavemente enquanto sua unha arranhava um entalhe na tábua do chão. "É inútil pensar assim."

Ela havia desistido desse sonho há muito tempo.

"Não. Isso não é verdade. Se não pensarmos assim, nunca conseguiremos. Vamos continuar apenas nos virando. Precisamos fazer um plano. Olha... deve haver um jeito... vamos conseguir mais trabalhos com o Peter, vamos ter que pegar comida em vez de pagar, vamos juntar dinheiro suficiente para encontrar alguém lá fora... alguém com um preço a ser pago... alguém que possa conseguir alguns documentos para nós... que possa encontrar algum lugar para trabalharmos... um chão para dormir... e vamos partir daí." Ele gesticulava freneticamente, começando a andar de um lado para o outro enquanto suas ideias se desenrolavam.

Mina simplesmente olhava, a visão sendo demais para o seu coração suportar.

"Niklas." Ela balançou a cabeça.

"Nós podemos fazer isso... eu sei que podemos... só precisamos encontrar as pessoas certas procurando a quantia certa... vamos começar do zero, mesmo que isso não seja o que estamos acostumados... vamos começar do zero e subir... qualquer coisa será melhor do que essa vida."

Mina fechou os olhos, a esperança desesperada em sua voz como um soco no estômago.

"Mina." Seu tom suavizou. "Mina... você costumava... você costumava sonhar em sair daqui... lembra quando éramos crianças... as vidas que íamos levar na superfície... você sonhava com essa liberdade todos os dias, Mina... sua mãe sonhava com essa liberdade para você."

EQUINÓCIO | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora