Não era um porão, não era uma sala de tortura e muito menos um sótão secreto. Contrário a todas as suas espectativas, nesse exato momento ela estava no centro da sala de estar dos Van Hoff, enquanto uma senhora lhe servia uma xícara de café que nem mesmo ousou tocar. Três capangas estavam na sala, mas era óbvio que o resto estava espalhado pela propriedade e que uma fuga precoce seria suicídio. Apesar de não estar nos seus melhores anos, não duvidava das duas habilidades, mas eles tinham uma vantagem bem clara na sua mente: armas e pessoas que sabiam usa-las.
Qualquer calmaria que aquela sala luxuosa pudesse oferecer era pura enganação, e toda a espera só deixava o seu nervosismo ainda maior. No entanto, nada disso foi pior do que avistar a mulher que desceu pela escadas, tão apática que Melinda poderia jurar que viu o ombro dos capangas enrijecer. Aquela era Abigail Van Hoff, uma das herdeiras de Charles Van Hoff.-Não gosta de café? -questionou a mulher, sentando graciosamente no sofá do outro lado. -Prefere chá?
-O que estou fazendo aqui?
-Você está aqui porque vai morrer nas próximas vinte e quatro horas, e eu tenho condições de evitar isso.
-Não entendo.
-Ah, entende sim. -sorriu, e em seguida roubou a xícara de café da frente dela.-Já que você não vai tomar...-suspirou. -Ouvi falar sobre os seus dons...
-Precisa aprender a nadar?
-Por favor, não vamos perder tempo com esse jogo. -revirou os olhos. -Azlin, é questão de horas até o seu rosto aparecer na mesa dos Bellini. Depois disso, pode ser assassinada ou presa por algum policial na folha de pagamento deles.
-E você quer me ajudar? -ergueu uma sobrancelha.
-Quero te oferecer proteção. As coisas entre as duas famílias estão tensas demais pra que Anthony decida tocar num fio de cabelo seu. Bom, isto se aceitar trabalhar para mim.
-Eu não roubo mais, e se investigou bem deve saber que a anos estou longe das lutas.
-Pense bem. -sussurrou, bebericando da xícara. -Essa é uma oportunidade única e as suas opções são poucas. Além disso, não é desse tipo de dons que estou falando.
Melinda franziu a testa, intrigada.
-Você tem uma cabeça estratégica, e o seu marido investiga o meu inimigo. Saber de algumas informações pode ser útil.
-Entende que está me pedindo para trabalhar com criminosos, não é? Eu não faço mais parte desse mundo, e não vou voltar a fazer!
-Não estou te pedindo pra matar ninguém. O seu trabalho seria relativamente simples, então considere essa oferta privilegiada e nos poupe saliva. -depositou a xícara. -Não vai cometer nenhum crime.
-Esse é o problema, a oferta é boa demais pra ser verdade, e eu sei que pra se afastar de familias como vocês é impossível.
-Não está fazendo um acordo com a minha família, está fazendo comigo.
-E por que tentaria me salvar? É verdade que esse trabalho é mais simples do que o esperado, mas daí a ser valioso? -ergueu uma sobrancelha. -Isso está soando a caridade.
-Por que questionar a mão que te alimenta?
-A questão é que não estou entendendo os seus motivos.
-Você é bem complicada. -bufou, alisando o cabelo preso no coque. -Se quer saber, estou apenas fazendo um favor a uma amiga.
-Amiga? -duvidou.
-Clarisse.
-Clarisse?
-Sim, a sua mãe.
-Você? Amiga da minha mãe? -debochou.

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Crime Inestimável
Action"Pessoas boas, recebem coisas boas." Essa foi a frase que Azlin ouviu ressoando na sua cabeça durante quinze anos, a principal fonte da sua tortura diária. Porque mesmo depois de todo esse tempo, as sombras do seu passado ainda estavam lá, anunciand...