Capítulo 7

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Não havia muito tempo disponível para treinamentos nessa nova rotina, e isso era preocupante. Melinda acordou mais cedo do que costumava levantar, correu alguns quilômetros para aumentar a sua resistência e então retornou pra casa a tempo de se arrumar para o trabalho. Nesse horário o marido já estava a caminho do colégio com os filhos, e por isso a casa estava completamente vazia e silenciosa.
Quando passou em frente ao quarto do filho, franziu levemente a testa diante da bagunça horrenda que ele deveria ter arrumado antes de sair, e anotou mentalmente que alguém ficaria de castigo. Kai estava numa fase extremante preguiçosa, e essa era a quarta vez que ele simplesmente fingia esquecimento ou falta de tempo para não arrumar o quarto.
Ela demorou um pouco mais de uma hora até finalmente chegar no enorme prédio no centro da cidade, e subiu pelo elevador até o andar indicado. O andar de Abigail parecia ser sempre o mais vazio, e apesar de ter chegado atrasada, dessa vez não viu nem um pingo de cobrança nos olhos da mulher. Alguma coisa estava acontecendo, porque em nenhum momento ela ergueu os olhos do computador, e muito menos falou alguma coisa durante os vinte minutos que Melinda sentou no sofá e cruzou os braços.

-Como estão as suas habilidades de luta?

-Quê?

-De um a dez, como você classificaria suas habilidades? -repetiu, sem paciência.

-No momento? Acho que sete.

-Isso é péssimo. -enrugou o nariz. -Você vai ter aulas com o Ruben essa tarde.

-O maluco da faca. -resmungou.

-Ele é ótimo no que faz.

-Pensei que o meu trabalho era resolver aqueles casos.

-O seu trabalho, é fazer o que eu mandar.

Melinda mordeu a parte interna da bochecha, e guardou para si o comentário ferino que desceu até a língua. Em vez disso, manteve os pés no chão e perguntou o motivo daquele desespero:

-Você está preocupada. O que aconteceu?

-Seu treinador está esperando.

-Isso beira a desespero, e se estou no meio de toda essa bagunça, quero saber o que está acontecendo!

-Não consegue simplesmente obedecer ordens, não é? Você não está aqui para fazer perguntas, está aqui para obedecer! Quer saber qual é o problema? Não vou confiar minha cabeça nas mãos de um nível sete! E não investi tão alto nesse recrutamento pra você morrer no segundo dia porque não tem treinamento suficiente!

-Então esse é o problema...-analisou.-Está tendo problemas com os Bellini por minha causa? Ou pior...com sua família?

-Não me faça repetir as minhas ordens novamente.

Melinda levantou, certa de que já tinha as respostas necessárias.

-A sala é no final do corredor.

Ela saiu da sala sem mais questionamentos e se dirigiu até o local informado com relutância. Era óbvio que aquele maluco iria acabar com ela novamente, e tudo o que não queria era ter de explicar seus hematomas.
A sala era pequena, mas tinha uma vista tão linda da cidade que ela demorou alguns segundo até decidir fechar a porta. O treinador já estava se aquecendo no centro da sala, e não havia nada além de um carpete grosso no chão e alguns rolos de esparadrapo no canto. Obviamente alguém tinha improvisado e transformado um escritório num espaço provisório de lutas.

-Se pretende me dar um tiro, vou ter dificuldades pra esconder a marca. -debochou. -Não vim com roupas apropriadas pra isso...-indicou os exercícios que ele estava fazendo.

-Ótimo.

-Estou de saía e Blazer.-franziu a testa.

-Seu inimigo não vai te atacar quando estiver confortável.

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