Capítulo 6

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O preço da proteção dos Van Hoff era caro, mas assim que viu o rosto aliviado dos filhos e o sorriso de felicidade do marido, Melinda soube que pagaria qualquer coisa pra tê-los eternamente na sua vida.
O resgate tinha acontecido a pouco mais de meia hora, quando um policial fez o seu papel de peão e encontrou os criminosos que supostamente a matariam perto do rio. Agora ela já tinha reencontrado a familia, estava decentemente arrumada e limpa, e aguardando o momento onde alguém faria a primeira pergunta.
Olhou ao redor, analisou a disposição dos móveis na casa nova, e soltou um suspiro profundo quando concluiu que a desorganização do cunhado era a menor das duas preocupações. Aparentemente ele e a sogra tinham se encarregado da mudança, enquanto toda a situação do sequestro desesperava o resto da família. Pelo menos essa parte do trabalho lhe tinha sido poupada, mas agora eles estavam literalmente colados nos colegas de trabalho do marido e isso não era uma boa notícia.

-Mãe você comeu muito pouco... não está com fome? A gente fez sobremesa também! -exclamou Emma, fazendo ela voltar a realidade.

Pelo o que Benjamin havia dito, os filhos sabiam exatamente o que aconteceu, porque ele não queria ser o tipo de pai que esconde assuntos tão importantes dos filhos. O medo de perder a mãe, fez com que Emma estivesse tão prestativa e eufórica, que estava sendo difícil ver o estado da filha e conter a culpa dentro de si. Por outro lado, Kai estava tão silencioso que parecia que ele nem sequer estava presente na mesa. Mesmo assim, sabia que no lugar dele não teria tomado uma decisão diferente, os dois já tinham conversado sobre a idéia de não excluir os filhos de assuntos importantes, afinal eles ja estavam grandinhos e precisavam aprender como o mundo girava. Ainda era difícil trabalhar com a sinceridade em situações assim, principalmente porque nenhum dos dois sabia como alcançar um equilíbrio de: informações necessárias para amadurecer, e fatos que crianças não deveriam saber.

-Chocolate? -questionou.

-Aham! -sorriu, animada. -O tio me ajudou a fazer!

-Bom, então vou terminar esse prato aqui, e comer um pouco dessa sobremesa. -piscou.-Como foi na escola hoje?

-Bem! Eu vou fazer ginástica!

-Rítmica?-franziu a testa, surpresa.

-Sim, nós conversamos. Minha mãe foi comprar as roupas com ela, e as aulas vão começar amanhã atarde. -explicou Ben.

Melinda se lembrava das inseguranças da filha, mas pelo sorriso no rosto dela e o aperto leve do marido no seu joelho por baixo da mesa, percebeu que esse era um assunto que eles já tinham conversado.

-Que bom que você está feliz. -sorriu.-Você vai ser maravilhosa, mas lembra que o importante é se divertir. Ok? Quando não estiver feliz, pode sair e escolher outra atividade.

-Aham! -sorriu, animada.

-E você Kai?

-Ele entrou para o time de futebol americano. -respondeu Ben, por causa do silêncio do filho.

-E por que você não parece feliz?

-Eu estou na reserva. -resmungou Kai, mas esse não parecia ser o motivo do seu silêncio. -O time já tem uma equipe formada, e eu sou o estranho que entrou no meio do ano. Então a única coisa que sobrou é o banco.

-Eu sei que é chato Kai, mas você ainda vai ter a oportunidade de provar que é bom.

-Aham. -respondeu.

-Emma, vamos pegar a sobremesa? -propôs Ben, percebendo o clima.

Os dois sairam da mesa, e Melinda cruzou os braços em cima do mogno, questionando em silêncio o motivo daquela cara fechada. Demorou alguns segundos, mas o filho finalmente ergueu os olhos do prato e suspirou profundamente.

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