• 2 - Orgulho •

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Me sinto pequena em frente ao castelo.

Seguro em minhas mãos mais uma carta de solicitação. A última que escreverei, aos dezoito anos. Não vou implorar novamente. Foi por causa deles que meu pai se foi, afinal.

Entro acompanhada de dois guardas. Um deles, Dante. O outro, não reconheço.

Ando em um ritmo calmo, o que é irritante, porque aquele castelo é enorme e minhas mãos estão suadas com meu nervosismo.

Não sei como vou reagir ao falar com a rainha. Ao mesmo tempo, eu gostaria de entregar minha solicitação, gostaria de entrar para a defesa, gostaria de orgulhar meu pai, mesmo que ele nunca soubesse da minha vitória. Simultaneamente, estou com raiva. Foi por causa deles que perdi alguém importante.

Me vesti bem para essa ocasião. O uniforme do FAPAC, o cabelo seco e arrumado, com minha franja grande solta pelo rosto, e meu coturno clássico de batalha.

É claro, lavei ele antes de vir. Estava sujo de lama por causa da chuva de ontem.

Depois de uma longa caminhada em passos curtos, chegamos. Eu estava completamente vulnerável naquela sala enorme com um longo tapete vermelho.

Mais uma vez, me senti pequena.

A rainha estava sentada no trono. O rei, ao seu lado.

Segui o ritmo de Dante até eles. Fiz a reverência da forma como fui ensinada.

— Obrigada pelo convite, vossa alteza. — Tentei soar formal.

— Helena, gostaríamos de primeiramente prestar condolências pela morte de seu pai. Ele foi um grande homem, e salvou nossas vidas naquela noite. Jamais poderíamos demonstrar o tamanho de nossa gratidão.

Por um segundo, imagino a cena. Sinto um nó na garganta, então desisto de pensar sobre. Apenas concordo.

— Eu agradeço.

— Recebemos uma carta sua de alguns anos atrás. Um pedido para entrar para a equipe de seguranças da realeza. — Sinto um frio na barriga. Não pensei que ela mencionaria a carta tão cedo. — Gostaríamos de perguntar se a proposta ainda está em jogo.

— Está. — Minha voz sai de forma instável, menos segura do que eu gostaria.

— Bem, temos uma proposta que pode ser de seu agrado. — Dessa vez, o rei é quem assume a fala. Ele parece cauteloso em suas palavras, o que me tranquiliza, porque não sinto como se eu fosse a única pessoa nervosa na sala. — Os ataques estão ficando mais frequentes. Não estamos seguros, e temos medo que qualquer coisa aconteça com nossos filhos.

Eu concordo com a cabeça. Ele respira fundo antes de continuar.

— Estamos enviando eles para a Noruega. Nosso país já não é mais seguro para eles. Sem falar que a Noruega possui uma qualidade de ensino espetacular, e queremos que nossos filhos sejam bem instruídos na Midnattsol Academy enquanto resolvemos nossos conflitos por aqui.

Não sei aonde ele quer chegar, mas, mais uma vez, eu concordo.

— Entendo a vossa preocupação, majestade.

— Temos uma proposta para você. Mandar nossos filhos para a Noruega com milhares de seguranças seria muito arriscado. Seria muito fácil reconhece-los se estiverem cercados por agentes. É por isso que te chamamos aqui.

Franzo minhas sobrancelhas, e encaro a rainha, que está com um semblante sereno.

— Queremos que vá para a Noruega infiltrada como estudante para proteger nossos filhos, Helena. O seu pai sempre honrou nosso legado, e confiamos demais nele durante todos esses anos. Agora, esperamos isso de você.

As últimas palavras soam como um soco no meu estômago.

Me deixei chegar nessa situação. Me deixei pegar no colo toda a segurança dos herdeiros ao trono, e eu não estava esperando tamanha responsabilidade quando enviei aquelas cartas. Talvez seja realmente culpa minha.

Mas não tenho tempo para remorso. Não agora.

A coroa está sendo ameaçada. É por isso que estou nesse castelo. E não vão me ver abaixar a cabeça agora.

— Certo. Eu aceito. — Concordo, pensando em meu pai. Ele provavelmente estaria sorrindo, orgulhoso de minha coragem.

— Excelente. Vamos arcar com todas suas despesas na Noruega, incluindo sua mensalidade e sua alimentação. O colégio é interno, então não precisará arrumar um dormitório. Pagamos eles para certificar que você fique no mesmo quarto que Eliza, nossa filha mais velha. Está de acordo?

— Com certeza. Podem contar comigo.

Ambos sorriem. Eles descem do trono, de uma forma estranhamente vulnerável e apertam minhas mãos, selando o acordo.

— Prometo que não irá se arrepender, Helena. Você será recompensada por isso, garanto. O seu pai teria feito o mesmo. Vejo muito dele em você.

— Os mesmos olhos cheios de coragem. É admirável.

Quando dizem isso, penso em minha mãe. Estou deixando ela sozinha aceitando esse contrato. Eu deveria estar cuidando dela, agora que perdeu o marido.

Porém, o rei e a rainha parecem mais felizes do que nunca.

— Mais uma coisa. — A rainha diz. — Não deixe Eliza saber que você trabalha para nós, por favor.

Me questiono se eu deveria interrogar o motivo, mas ela parece segura enquanto diz isso, e eu não sou capaz de questionar decisões da rainha.

Mas o rei percebeu minha expressão confusa, provavelmente, e acrescentou em seguida:

— Eliza disse para nós que só aceitaria ir para a Noruega se fosse começar uma vida do zero, sem nossa superproteção. Ela não entende que situações extremas exigem atitudes extremas, e, para ela, estamos apenas sendo "controladores demais". Ela não aceitaria ir se soubesse que está sendo...

— Perseguida? — Acrescento, inconscientemente. Automaticamente me arrependo de minha colocação.

— Eu usaria a palavra vigiada. — A rainha diz de forma fria. — Não perseguimos nossa filha. Tomamos cuidado com ela.

— Tem razão. — Admito. — Está bem. Eu não deixarei ela saber.

— Excelente! — O rei sorri. — Temos um acordo. O vôo para a Noruega será amanhã. Iremos mandar você em um jatinho separado, para não gerar suspeitas.

— Amanhã? Eu não vou ter tempo de me organizar em tão pouco tempo. Quer dizer, eu ainda não comecei a fazer as malas, conversar com a minha mãe...

— Não se preocupe. Montamos uma mala para você com tudo que você precisa, não se preocupe com isso. Tem o dia para explicar a situação para sua mãe, e temos certeza de que ela vai entender.

Assim espero.

O rei sai da sala, volta com uma mala de viagem branca, deixa ela comigo.

— Estamos contando com você, Helena. Sabemos que vai nos orgulhar.

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