Cap. 2 _SENTENÇA MARCADA.

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CAPITULO 2

A sala fria do consultório causava uma sensação apavorante em Helena. Laudos de ressonâncias, raios X e tomografias estavam espalhados, deixando o ambiente sombrio. Ela estava vestida como costumava ir ao trabalho: calça jeans preta confortável, uma blusa de alças grossas e um casaco grande também preto. Mesmo assim, não conseguia conter os pequenos espasmos do corpo, fruto da tensão. O que acabara de descobrir a deixara paralisada - sete meses de vida, talvez um ano com tratamento intensivo. Aos 27 anos, parecia impossível ter recebido esse tipo de notícia, com tanto pela frente e casos a resolver.

Seus devaneios foram interrompidos pela voz firme do médico.

- Helena? Helena! - a entonação do médico fez com que ela finalmente desviasse o olhar para ele.

- Eu sei que é difícil processar tudo isso, mas nós podemos começar o tratamento já na próxima semana. Seu plano de saúde cobre boa parte dos procedimentos. Como você sabe, as causas exatas de um tumor cerebral não são totalmente conhecidas, mas ocorrem devido a mutações genéticas. Os sintomas vão piorar: dores de cabeça, visão embaçada, paralisias, convulsões... - o médico hesitou, mas seguiu em frente. - Nós podemos iniciar a quimioterapia. Não vai diminuir o sofrimento, mas pode prolongar sua vida em alguns meses.

- Quanto tempo, doutor? Quanto tempo de vida eu tenho? - Helena perguntou, sua voz firme apesar do turbilhão interno.

- Cerca de seis meses... talvez um ano, se você fizer o tratamento intensivo.

Helena ficou em silêncio por alguns segundos, antes de se levantar lentamente, atordoada. Ela ajeitou os cabelos, que estavam presos em um rabo de cavalo, e colocou seus óculos escuros em cima da cabeça, tentando manter a compostura.

- Não precisa... - disse de forma resoluta. - Se eu precisar de algo, entro em contato. Obrigada, doutor.

Pegou suas coisas e fez menção de sair.

- Mas, e o tratamento? - o médico insistiu, um toque de desespero na voz.

- Eu entendi. Agora, eu preciso ir trabalhar. - Ela respondeu, saindo da sala sem olhar para trás.

O médico fez uma última tentativa.

- Helena, você precisa descansar!

Mas ela não parou. A cabeça de Helena girava, e o frio na barriga a incomodava. Aceitar aquela realidade seria difícil, mas o que ela poderia fazer? Morrer não a assustava. A verdade era que, por dentro, já se sentia morta havia muito tempo.

Ela chamou um táxi que passava na rua.

- Para onde vamos, senhora? - perguntou o motorista, com um tom neutro.

- Qualquer lugar, só ande por aí... - respondeu Helena, enquanto apertava as têmporas e fazia uma leve massagem.

- Parece que está tendo uma manhã estressante.

- Bom, e tecnicamente...

- Quer conversar? - perguntou o motorista, soltando um sorriso cativante pelo retrovisor. - Ouço cada história, então pode conversar comigo se quiser.

- Psicólogo?

- Sim, kkkkk. Ouvimos cada história.

- Eu não tenho ninguém para conversar mesmo. Então, se você descobrisse que iria morrer, o que faria?

- Eu realizaria meus sonhos e faria tudo aquilo que eu não fiz ou tenho vontade de fazer.

- Simples assim?

- Sim, pelo menos morreria realizando.

- E o que você mais tem vontade de fazer?

- Eu não sei - respondeu Helena, cativa.

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