Cap. 17 - Still - Part 2

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Sofia's POV

Bati a porta da cozinha e me amaldiçoei no mesmo instante, ao lembrar que Khai dormia na sala da casa. 

Minha relação com minha mãe tinha melhorado de 0 a 100 e, obviamente, ainda estava tentando lidar e digerir como as coisas tinham ido ladeira abaixo, no ano anterior.

Ela reconhecera suas falhas, bem como reconhecera que estava depositando suas próprias frustrações, sejam as consigo mesma, sejam as do casamento fracassado com meu pai, em mim. 

Eu a entendia, porque vivenciei o mesmo "fracasso" com ela. Estávamos reconstruindo a relação que nossas feridas fizeram ruir, porém, o fato de eu entendê-la não dava a ela o direito de intervir nas minhas relações.

Já tínhamos conversado sobre isso. Duzentas vezes.

Mas é lógico que algo tinha que dar errado hoje. 

Respirei fundo, inalando o aroma fresco das lavandas que repousavam no quintal. A noite estava agradável, típica da primavera. 

Havia, ao fundo da casa principal, uma edícula, a qual eu nomeara de "casa da arte".

Lá, havia várias telas em branco e uma variedade gigantesca de tintas e pincéis. O espaço também abrigava dezenas de vinis variados, uma adega, tecidos, linhas e uma máquina de costura verde menta. 

Não fosse a temperatura relativamente quente, teria acendido a lareira que jazia no centro da peça. Na impossibilidade, apenas me joguei como um saco de batatas na namoradeira rosa clara. 

Não tive tempo de elaborar muitas coisas, pois logo avistei a sombra de quem, há algum tempo, assombrava meus pensamentos:

- Desculpe pela cena. - foi tudo o que consegui dizer.

- Vai mesmo pedir desculpa por uma "cena"? - riu fraco. - Sou o rei delas.

Não me diga, pensei. Minha boca me obedeceu, ao não falar nada, mas tenho certeza que a feição não escondeu o que pensara, pois o sorriso de Malik não durou 2 segundos. 

Fiz um sinal para que sentasse ao meu lado e ele assim o fez, encarando o teto enquanto contemplávamos o silêncio.

- Voltamos a nos falar no dia em que deixei sua casa. - confessei, acompanhando-o desviar o olhar do teto e focar em mim. - Senti uma vontade absurda de ouvir a voz dela, de... sei lá... não esperar mais nada dar errado para admitir que ainda precisava do colo da minha mãe.

- Como tem sido? - sua cabeça levemente inclinada para o lado, enquanto me analisava. Por um segundo, pensei que fosse uma miragem e eu tivesse perdido a cabeça de vez.

- Novo. - respondi, sincera. - Acho que a última vez que havíamos sido verdadeiramente próximas, confidentes, amigas... foi antes de meu pai sair de casa. Eu precisava disso, sabe? Não resolver tudo sozinha, saber que tenho com quem contar e ela tem sido essa pessoa, apesar da cena na cozinha. - sorri de canto.

- Nem foi tão ruim! - fiz uma careta, arrancando uma risada baixa dele. - Na verdade, fico aliviado que ela não queira envenenar minha comida.

- Ainda tem tempo.

Ele fingiu choque, me cutucando com o cotovelo em seguida. E o silêncio voltou a ser nossa companhia.

No momento em que sua pele encostou na minha e eu senti o calor de seu corpo, veio junto uma vontade descontrolada de chorar, tamanha era a saudade que eu sentia, misturada à inconformidade por não entender porquê um sentimento que era bom tinha de ser complicado. 

HallowaynOnde histórias criam vida. Descubra agora