Nossa Primeira Briga

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"Eu queria te dizer o motivo de ter feito aquilo, mas eu não podia. Na verdade, nem eu sabia. Ainda. Eu só descobri um tempo depois, mas era muito tarde. Você também já sabia."

1976
Festival de Natal

Pov Pedro Tófani

Eu não gosto disso. – João resmunga.

– O que? – preocupado, eu pergunto.

Sentado em um banco desconfortável com uma almofada rasgada, batuco a madeira como se fosse um pandeiro para que pudesse conter a ansiedade.

O cenário é o vestiário de um salão de festas. Meninos e meninas da minha idade experimentam roupas, abusam da maquiagem e conversam pra caramba.

Extrovertido ou não, não existe ser humano no mundo que se sinta confortável se apresentando para milhares de pessoas.
Ainda mais um jovem de dezoito anos como eu.

Tudo bem, eu não vou exagerar.
É só para uma multidão, mas para mim, essa multidão parece ser um milhão de pessoas.
Um grupo de adultos chatos e crianças e adolescentes que foram forçados a ir.

Para explicar melhor o que está acontecendo, é véspera de natal.
Não estou tão feliz como eu supostamente deveria estar.

No meu último ano escolar, o meu pai, sem nem me perguntar se eu queria participar ou não, me encaixou em uma peça de Romeu e Julieta.

E advinha só quem vai ser o Romeu?

– Pessoal, cinco minutos! – Giovana, a minha professora, alerta o tempo restante até que comece a peça.

João Vitor está se contorcendo por dentro e por fora. Ele bufa e cutuca os próprios dedos, umedece os lábios e olha para os lados.
Estou louco ou ele está meio que fugindo de mim?

– Santo... – chamo, preocupado. – O que foi?

– Nada. – emburrado, ele responde. Não adianta desviar do assunto, seu crente de uma figa!

Eu deito a minha bochecha no seu ombro confortável, porque eu sei que ele gosta quando eu faço isso.

Tudo bem, eu admito... eu gosto mais.

Ele engole seco, desconfortável, se mexe no banco.

– Eu que vou apresentar na frente de todo mundo e você que está com raiva?

Alguns dos meus amigos já olhavam estranho para mim.

– Sim. – ele responde todo emburradinho.

Tudo bem se ele está bravo, mas eu não consigo levar isso a sério.

Primeiro, ele muda de assunto.
Depois, cruza os braços e olha para os lados.
E como sempre, faz um biquinho muito lindo.
Esse é o ritual adorável de irritação do Santo.

– Então... – junto a sua mão na minha. Ele engole seco mais uma vez. – Mostra que se preocupa comigo e cuida de mim. – tento o convencer com um pingo de manipulação e muita manha.

Entrego-lhe uma gravata, a única coisa que falta para que o meu figurino (que é muito brega, por sinal) fique completo.

Ele olha para o lado mais uma vez. Olha para a gravata e depois olha pra mim.

Meus Pecados - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora