"Deus nunca aceitaria dois homens apaixonados.
No fim das contas, eu nunca quis ser aceito por ele... e sim por você."1978
Sábado
Dia do casamentoSão sete horas da noite.
Santo entra pelo quarto. Cansado, não sabe se é um homem introvertido de curta bateria social ou apenas não gosta daquelas pessoas, mas não quer admitir.
Passou a maior parte do dia servindo o padre, os convidados, a igreja e o noivo.
É, sem o plural. Só o noivo.
Ele estava feliz.
Há quanto tempo não se sentia assim?Ele não via a hora de chegar em casa e contar para seu melhor amigo, uma imagem de Cristo, sobre ter feito pazes com o seu melhor amigo (sem ser um objeto inanimado, dessa vez) de infância.
– Já está sabendo, não está? – Santo comenta para Cristo, baixinho o suficiente para que seus pais, caso acordados, não o escutem.
Obviamente, a imagem não o responde.
Ele continua;– Pedro se casou. Não te contei? – brinca com os dedos, andando em círculos em frente a imagem que está pregada na parede. – É... ela é bonita. – umedece os lábios, sutilmente nervoso.
Se ele falasse em voz alta o que os pensamentos dele o dizem, aqueles que vem do fundo do coração, ele seria condenado para o inferno.
– E-Eu... às vezes, eu me pergunto, senhor... se eu não fosse me tornar um padre, como deve ser se casar?
Ele pergunta curioso, mentindo não ser um menino esperançoso.
– Eu sei que não... eu só... você entende, não é? – prossegue ele, com uma risada sem jeito.
Culposo, muda o assunto.
Ele nunca poderia ter uma vida normal como a dos outros garotos. Nunca poderia ir as festas até tarde, se casar ou... comer alguém, mesmo se quisesse.
Ele já pensou sobre isso.
Ele pensa sobre isso todos os dias.Santo é casado com Deus.
É assim que lhe foi ensinado.– Pedro e eu voltamos a nos falar. – ele bebe coragem para olhar no rosto da imagem religiosa. – Espero que esteja feliz, senhor... porque eu estou. Muito! – o seu segundo sorriso sincero aquele dia.
Ele se dá conta que só duas vezes naquele dia ele foi sinceramente feliz, e nas duas o motivo era o mesmo: Pedro.
Então, se senta na cama.
Começa a falar, sem parar.– [...] e se ele derrubasse vinho na minha roupa, eu juro que faria ele comprar uma nova para mim. A mais cara!
Ele falou, falou tanto... que dormiu.
Domingo
Um dia depois do casamento– Mamãe hoje brigou comigo. – comenta ele, tristonho, de cabeça baixa. – Ela não gosta quando eu cruzo as pernas. Diz que eu sou um "viado".
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Meus Pecados - Pejão
RomanceAmérico Brasiliense, 1978. Em uma pequena cidade religiosa e conservadora, o prefeito arranja um casamento para o seu filho, Pedro Tófani. Durante a cerimônia, ele se apaixona, mas não pela noiva.