XI- Carta.

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Annabeth.

Cinco anos depois.

A rainha de Esparta se sentou numa cadeira do jardim e observou o filho correr pela grama. A cada dia que passava, ele ficava mais parecido com o pai. Hector tinha os cabelos mais escuros que ela já tinha visto e seu sorriso tinha aquele ar travesso que fazia os olhos cintilarem como pedras preciosas.

Era adorável.

Annabeth olhou para o envelope amarelado em suas mãos, lacrado com um selo com o brasão do exército. A caligrafia não a enganava: tratava-se de uma carta de Perseu Jackson. Piper, sua dama de companhia, a havia recebido por meio do marido, o tenente encarregado da cidade que rodeava o palácio real. Era um dos poucos que não havia ido ajudar na guerra.

Como aliado de Atenas, o reino de Esparta mandara um exército para ajudá-los numa disputa territorial contra o reino de Tebas. Era uma disputa antiga, mas que havia se intensificado nos últimos anos. Percy foi um dos primeiros a se voluntariar para o combate, e Annabeth sabia que tinha parte nisso. Depois que finalmente conhecera Hector, segurara o garoto nos braços, Percy havia evitado a rainha e se tornado apenas mais um integrante da guarda real. Cumprira sua promessa de deixá-la em paz para sempre.

Mas os sentimentos de ambos não mudaram, e enquanto vivia infeliz naquele castelo, ouvindo o marido transar com outras mulheres durante a noite, o que Annabeth mais queria era ter seu soldado de volta.

Finalmente toma coragem de desfazer o lacre de cera e tirar o pedaço de pergaminho grosso de dentro do envelope. Abriu-o com um suspiro, passando os olhos pelas seguintes palavras:

"Minha rainha,

Estou indo para o campo de batalha amanhã e, quando você estiver lendo isso, posso já estar morto. Mas eu não poderia ir embora sem ao menos me despedir de você.

Eu te amei. Ouso dizer que te amei desde o primeiro momento, e nunca, em todos estes meus vinte e oito anos de vida, senti algo tão puro e real por qualquer outra pessoa. Meu sangue ferve por você. Minha alma clama por seu calor. Cada átomo do meu corpo parece insignificante longe de sua presença. Eu não sabia disso no começo, mas quando perdi você pela primeira vez naquela noite em Atenas, nunca mais fui o mesmo.

Sinto falta dos seus beijos na cama, com a luz do luar passando pelas frestas das cortinas. Sinto falta do cheiro de seu perfume de flores. Sinto falta das suas unhas se cravando em minha pele, dos sons que saíam da sua boca quando eu te dava prazer e dos seus inesquecíveis olhos cinza. Me dói saber que nunca pude me dar inteiramente para você, assim como me dói saber que você nunca foi inteiramente minha.

Talvez em outra vida isso pudesse ter dado certo. Mas um soldado pobre como eu jamais estaria a sua altura.

Mas nós fizemos uma coisa linda, Annabeth. Um garoto. Um garoto que vai ser um dos melhores reis que Esparta já viu. Ele vai ser grande. Ele vai ser tudo que eu nunca fui, e espero que um dia encontre o amor verdadeiro como eu encontrei. Mas espero também que, ao contrário de mim, ele possa desfrutá-lo como eu não pude. Possa aproveitar cada segundo ao lado dessa pessoa amada como eu nunca aproveitei. Que ele tenha um casamento feliz e viva uma vida da qual possa se orgulhar.

Mas quero lhe pedir apenas um favor: quando você achar que ele está pronto, conte a verdade. Conte que o pai dele foi um homem honrado que morreu lutando pelo reino. Um homem que te amou até o último suspiro de seu ser, e lamenta profundamente nunca poder tê-lo ensinado a andar a cavalo ou manusear uma espada. Quero que conte a ele, Annabeth, que o homem infiel com quem você se casou não tem nada a ver com o seu sangue. Esse é o meu último desejo.

Eu nunca soube se o que sentia por mim era amor de verdade, e também nunca exigi isso. Mas se um dia, mesmo que tenha sido por um único segundo, você sentiu seu peito arder em minha presença, por favor, faça isso por mim.

Diga para o nosso filho que o pai dele o ama. Com toda a força. Para sempre.

Seu,
Percy."

Annabeth secou uma lágrima antes de voltar a dobrar o papel, erguendo os olhos a tempo de ver Hector vindo em sua direção. Ele segurava uma flor. Uma linda margarida com suas pétalas brancas intactas. A rainha aceitou o presente do filho, puxando-o para um abraço e deixando um beijo estalado em sua bochecha.

— Obrigada, meu amor. —afaga a bochecha do garoto e força um sorriso. — É linda.

Hector também sorriu antes de virar as costas e correr de volta para o gramado, deixando-a ali com aquele pequeno símbolo de esperança.

Touch It - (percabeth)Onde histórias criam vida. Descubra agora