Capítulo2

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Pela janela, eu só via água e mais água, e ondas quebrando uma contra a outra, enquanto o avião ia descendo. A gente chegava cada vez mais perto do mar sem sinal do aeroporto, enquanto o piloto jurava que estávamos indo para o lugar certo. Eu segurei minha respiração e os braços da poltrona com força e não tirei os olhos da janela, certa de que era agora que íamos pousar na água, até que senti as rodas baterem na pista que aparecera milésimos de segundos antes. O aeroporto de Vilareal era sempre um evento.

Meu amor e meu medo de voar eram proporcionais um ao outro, então já esperava que meu coração estivesse acelerado. Grande parte do meu nervosismo, na verdade, era também por causa da pequena multidão à qual nos aproximamos. Enquanto eu me equilibrava nos sapatos apertados de Mari – porque, aparentemente, minhas botas estavam sujas demais para serem salvas –, repassei na minha cabeça as orientações de Sarah.

Não mostre os dentes.

Não passe a mão no cabelo.

Não olhe muito para o chão.

Não fale nada até estar dentro do carro.

Não tropece.

A última orientação me parecia ridícula, mas era a mais difícil de seguir, principalmente porque, quando a porta abriu e um cara segurando uma câmera grande o bastante para esconder seu rosto entrou, minhas pernas ficaram moles. As outras eram só para garantir que eu não tiraria uma foto ruim que estampasse capas de jornais amanhã.

O avião não era enorme, mal cabia todos nós de pé, então foi fácil fingir que eu sabia o que estava fazendo enquanto saímos em direção à escada. Ben estava atrás de mim, podia sentir sua mão nas minhas costas. Discreta, mas ali sempre que eu sentia que ia cambalear e me inclinava para trás para me lembrar de que ele estava comigo. Matt andava na minha frente, seguindo André, e nós fizemos uma espécie de procissão enquanto o câmera me esperava na saída.

Do lado dele, estavam a comissária de bordo, o copiloto e o piloto. Eles me cumprimentaram e agradeceram a honra de terem me trazido para a capital, o que me fez hesitar por um instante. Aquela era a primeira vez que eu oficialmente interagia com pessoas comuns como uma princesa, e perceber a ironia do piloto estar agradecendo a mim quando foi ele que fez o pouso perfeito logo depois do mar me travou. Quando Ben limpou a garganta atrás de mim, pisquei algumas vezes e estiquei a mão para o piloto apertar. Na hora, me lembrei de que não podia sair tocando em qualquer pessoa, e o sorriso que mantinha em meu rosto se estremeceu. Mas ele, o copiloto e a comissária ainda pareceram bem contentes com a minha reação.

Me virei na direção da escada e me forcei a não olhar para a câmera, que parecia perto demais do meu rosto. Não era a única, sabia que tinha outra do lado de fora, me esperando descer.

Os sapatos de Mari machucavam meu calcanhar, mas eu só tinha que chegar até o carro. A fileira de fotógrafos – imprensa real, não fãs, Sarah tinha me garantido – começava à minha esquerda e, se não fosse pelo sol que brilhava sem qualquer nuvem à sua volta, talvez disparassem flashes. Do jeito que estava, consegui descer, respirando fundo, sem sorrir, sem nem pensar direito, só me certificando de que tinha pisado firme antes de soltar meu peso em cada pé.

Ao chegar ao chão, Ben logo se colocou outra vez ao meu lado, enquanto os outros guardas faziam o mesmo. O caminho até o carro não era longe, mas só cheguei bem até lá, pois Ben tinha uma mão em meu braço e me segurou quando eu quase tropecei no asfalto. Antes de poder cair de joelhos no chão, eu já tinha entrado no carro, que deu partida tão rápido que eu nem tinha respirado fundo antes de ele parar outra vez, agora em um hangar teoricamente privado, onde o helicóptero real nos aguardava.

A Princesa Famosa (amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora