Capítulo 3

100 3 0
                                    


Ben pegou na minha mão e me puxou pelo corredor, correndo e me fazendo sentir todo o vento que criávamos contra o ar como uma brisa passando por nós.

— Alteza! — Ouvi Sarah chamar, enquanto eu tentava fazer os sapatos de salto que usava acompanharem o passo de Ben.

Até mesmo as partes ruins, como o quanto meu corpo inteiro ainda parecia estar preso à tensão de antes, o peso da tiara e minhas bochechas molhadas, se tornaram mais leves. Nada mais me incomodaria, nem as dúvidas que ameaçavam brotar na minha cabeça, as que queriam me fazer questionar aquela decisão. Eu só as ignorei. Lidaria com tudo depois. Ou nunca. Agora eu só queria correr para longe dali.

— Dois segundos — Ben respondeu, sem olhar para trás nem para mim.

Dois segundos para quê?, pensei, sentindo meu coração pesar. Antes que pudesse começar a criar especulações sobre o que sua resposta significava, nós viramos o corredor e ele me fez parar com ele em seguida. Eu ofegava pelo esforço que tinha sido correr sem cair, quando ele soltou minha mão e abriu os braços.

— Entre em pânico — falou.

Inspirei fundo, me sentindo mil vezes melhor, quase com saudades do vento de antes, mas ainda terrivelmente confusa.

— Quê?

— Entre em pânico — repetiu, dando alguns passos para trás. Aproveitei a distância para ver que aquele corredor estava vazio e que ninguém nos seguia, pelo menos não de perto. — Vamos, o que está esperando?

— Como assim? — Apoiei as costas na parede, enxugando a testa o dorso da mão. —Esperando?

Olhei em volta outra vez, com medo de alguém estar vindo, Arabella ou Sarah, alguém que fosse estragar tudo e me impedir de fugir. Depois olhei na direção em que corríamos antes, fazendo menção de continuar, mas sem coragem de interromper nosso pequeno descanso ainda.

— Estou falando para você literalmente entrar em pânico — Ben insistiu, se aproximando de volta de mim e me fazendo olhar em seus olhos. — Vai, você estava falando que eles vão preferir sua irmã, que vão se decepcionar ao conhecer você.

— Eu não falei decepcionar — me defendi. — É para isso que você me trouxe aqui?

Minha vontade de chorar voltava, acompanhada do pânico que, agora, parecia nunca ter me deixado.

—Sim. — Ele parou logo na minha frente. Seus olhos castanhos brilhavam com a luz do corredor, e era difícil não me deixar ser afetada pela intensidade deles. — Para você poder gastar suas dúvidas, dar a louca como de costume, chorar se quiser, mas acabar superando esse medo.

— Não é tão fácil assim — falei, fugindo dos olhos dele e segurando cada um dos meus cotovelos em um abraço.

— Eu não falei que era fácil — Ben respondeu sem hesitar um segundo, sua voz suavizando. — Só falei que você consegue superar, consegue lidar com tudo isso. — Senti suas mãos apoiando em meus ombros e os apertando conforme se animava ao falar. — Pode surtar quanto quiser, mas no fundo você sabe que consegue, sim, lidar com tudo isso. Lis — só o jeito que me chamou indicava que queria que eu parasse de desviar dos seus olhos. Quando me dei por vencida, ele encarou os meus ainda mais fundo, se esforçando para me convencer. — Essa é a sua chance de se descontrolar, porque daqui a um minuto eu vou te levar de volta para lá e você vai encarar essa entrevista e o que mais aparecer na sua frente.

Quis bater o pé, mesmo sentindo minhas pernas moles. Parte de mim insistia que ele ainda não tinha entendido, que não entenderia se não sentisse vergonha arrepiar sua pele como fazia com a minha.

A Princesa Famosa (amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora