Capítulo 05 - Assim Falou Zaratustra - 1883

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⋯ indica ligação por áudio ou vídeo, achei que seria necessário deixar avisado aqui.

Boa leitura🫶

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[gatilhos: problemas familiares e questões emocionais]

Jisung's POV

—Eu não tô doido, Lix! - joguei as mãos para o ar, logo voltando minha atenção para o celular que estava deitado na mesa, perto dos panos e produtos para limpar poeira. — Já tô aqui há meia hora e nada do babaca do teu irmão aparecer, vou ter que limpar tudo sozinho! Vou sair daqui depois do zelador!

⋯Mas e seus pais? Pensei que a senhora Park soubesse...

—Sabe, mas seria injusto ela punir só o Minho. - falei fazendo a pior imitação de Chiquinha que consegui, já que punir somente Minho seria o mais justo a se fazer. — Enfim, acho melhor eu começar a limpar, quanto menos eu me atrasar menor vai ser a surra...

⋯Quer que eu vá aí?

—Pra quê?

⋯Te ajudar, ué, assim você volta para casa mais cedo.

—Você? Não, obrigado, beijinhos!

   Me sinto levemente aliviado de não ter que ficar preso com Lee Minho, provavelmente cometeria um crime se passasse mais de dez minutos na mesma sala que ele. Vai ser difícil organizar essa zona de livros em cima das mesas sozinho, mas prefiro ficar em silêncio comigo mesmo do que escutando aqueles apelidos idiotas até cinco da tarde.

   A raiva que Minho fervia em mim era turbulenta como a maré noturna da cidade em que cresci, sinceramente preferia Malaca* a Busan**, mesmo que tivesse que falar inglês e malaio o tempo todo, eu não precisava aturar meus pais e pessoas antipáticas como Lee. Ele não parece seguir a órbita correta, segue as próprias regras e pouco se importa com as consequências do que faz ou deixa de fazer.

   Um sorriso se abriu em meus lábios ao perceber o livro que estava em minhas mãos: Assim Falou Zaratustra, Friedrich Nietzsche.

—Que ironia...

   Minho despertava o pior de mim, não creio que ele seja a pior das pessoas, mas com certeza me faz questionar os padrões que definem uma pessoa ruim.

   Eu não consigo lê-lo claramente e isso me deixa fatigado , Minho é como uma pintura não finalizada, onde o pintor não teve a chance de mostrar a verdadeira forma além do esboço, eu não o conheço, só o vi fazendo e falando coisas maldosas, ele é como um pseudônimo, alguém que não tem coragem de se mostrar e isso não foi tão difícil de observar, ele parece tentar agradar todo mundo, mesmo que fazendo algo ruim, mas isso é só uma hipótese.

   Já fiquei um bom tempo tentando entender sua mente, mas ele é um enigma, daqueles tipo a Mandíbula de Caim: leva tempo e esforço para chegar a uma conclusão e mesmo que você tire um mês inteiro e se esforce como um condenado, ainda dá para entrar em uma espiral de ideias erradas e mal fundadas.

   Lee Minho é só mais uma das coisas que atiçam minha curiosidade sobre minhas emoções, é como se algumas situações simplesmente revelassem um Jisung frágil e vulnerável que eu não conheço e que com certeza enterraria em uma cova mais funda que sete palmos em meu subconsciente.

   Parece que existem dois de mim, é completamente normal sermos um dentro e outro fora de casa, não é? Mas isso é diferente, em apenas um dia eu debochei de Minho, surtei com ele e logo depois chorei como uma criancinha que foi pega fazendo merda. Desde cedo vivo em uma constante montanha-russa temperamental que só agravou-se depois que meus pais começaram a falar de política comigo.

   Minha terapeuta me aconselha a revisitar o que eles dizem e fazem comigo e meu irmão. Dra. Soyeon é uma peça essencial na minha rotina, se eu preciso de ajuda é para ela que eu ligo. No começo eu não quis consultar com ela por ser um programa da igreja que me obrigam a frequentar, porém logo descobri que seu trabalho era voluntário e que a mesma abomina quem enfia religião goela abaixo como cura.

   Soyeon diz que meu irmão e eu sofremos tentativas constantes de alienação vindas de nossos amados pais, e nós sabemos disso, não é difícil perceber todo o discurso homofóbico na mesa de jantar, os tapas e cintadas que cantam noite a dentro quando discordamos de algo, os horários extremamente controlados, os "amigos" escolhidos a dedo, as roupas filtradas, os livros confiscados mensalmente e as inspeções diárias em nossos quartos.

   Pensando tanto em meus problemas, acabei por me perder por entre as prateleiras e nem perceber que havia terminado de organizá-las. Junto de meu suspiro cansado saíram algumas lágrimas provenientes de meus devaneios.

   Senti meu celular vibrar no bolso, peguei-o logo lendo nome na tela: Mãe, quando fui atender a chamada foi encerrada e então dezenas de notificações de chamadas perdidas brilharam na tela junto do horário.

—Puta merda...

Eram sete horas.

Eu deveria voltar antes das seis.

E eram sete horas.

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*Malaca: cidade litorânea, capital do estado malaio de Malaca.

**Busan: cidade litorânea localizada na Coreia do Sul.

823 palavras🥺

Alinhamento Milenar - [Minsung]Onde histórias criam vida. Descubra agora