Capítulo 1

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Meu nome é Júlia Kudiess e desde o despertar da minha consciência, era evidente que minha existência divergia do padrão das outras jovens da minha idade. Atualmente tenho 18 anos.

Fui criada sob os cuidados amorosos e disciplinadores de Rosamaria, minha mãe adotiva. Nossa relação era marcada por um amor profundo e sincero, e ela sempre fez questão de me proporcionar um lar seguro e acolhedor. Rosamaria era uma mulher forte e determinada, com um coração generoso. Ela me ensinou os valores da honestidade, respeito e perseverança, e sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis.

No entanto, apesar de todo o afeto que Rosamaria me oferecia, havia uma sensação constante de lacuna dentro de mim, um vazio insuperável que nem mesmo os abraços mais calorosos dela conseguiam preencher. Essa sensação não era culpa da minha mãe, que se dedicava a me fazer feliz e a suprir todas as minhas necessidades. Era algo mais profundo, ligado a minha identidade e às perguntas não respondidas sobre minhas origens.

Minha mãe compreendia que eu tinha essas inquietações e, em seu jeito sensível e compreensivo, tentava me ajudar a lidar com elas. Muitas vezes, ela se sentava ao meu lado e ouvia pacientemente meus questionamentos sobre minha mãe biológica, sobre de onde eu vinha. Ela nunca se esquivou dessas conversas, mesmo que isso a deixasse um pouco triste. Ela sabia que meu desejo de conhecer meu passado não diminuía o amor que sentia por ela, mas sim uma busca por entender mais sobre mim mesma.

Nossa casa era um lugar cheio de risos e carinho. Rosamaria fazia questão de criar memórias felizes, como as tardes de domingo em que assávamos bolos juntas, as histórias que ela lia para mim antes de dormir e os passeios no parque. Cada gesto dela era uma demonstração de seu amor incondicional. Ela era minha confidente, minha conselheira e meu porto seguro.

Apesar de todas essas demonstrações de afeto, o vazio permanecia. Eu sentia falta de uma peça do quebra-cabeça da minha vida, algo que completasse minha história. Minha mãe percebia isso, e embora se esforçasse para preencher essa lacuna, sabia que era algo que eu precisava descobrir por mim mesma.

Ela sempre dizia: "Jú, você é a luz da minha vida, e eu sou muito grata por ser sua mãe. Mas sei que você tem o direito de buscar suas próprias respostas, de entender suas raízes. E quando estiver pronta, estarei aqui para apoiar cada passo que você der nessa jornada."

Essa compreensão e apoio inabalável dela foram fundamentais quando finalmente decidi buscar minha mãe biológica. Eu sabia que, independentemente do que encontrasse, sempre teria o amor e o apoio de Rosamaria. Ela era minha mãe em todos os sentidos, e seu amor me dava a coragem necessária para enfrentar qualquer desafio.

A nossa relação era, portanto, um equilíbrio delicado entre um amor incondicional e a necessidade de buscar uma parte de mim que estava ausente. Ela era a base sobre a qual eu podia construir minhas explorações e descobertas, sabendo que, não importava onde a vida me levasse, eu sempre poderia voltar para seus braços amorosos e encontrar meu verdadeiro lar.  Porém, eu sabia que esse assunto a machucava e não queria lhe causar possível dor. 

Foi num dia cinzento de outono, quando decidi invadir o sistema operacional do hospital em que nasci ( eu era muito boa nisso, embora tinha prometido não fazer por meios impróprios). Olhava os arquivos do ano em que nasci, quando encontrei informações e  uma imagem que viria a mudar irreversivelmente o rumo da minha existência.

Após dedicar uma semana inteira à pesquisa e investigação frenética para desvendar a identidade da figura enigmática naquela foto, que imprimi, finalmente obtive a resposta. Utilizando minhas habilidades naturais com computadores, mergulhei nos arquivos do hospital, determinada a revelar a verdade por trás daquela figura misteriosa. E ali, diante dos dados revelados, surgiu diante de mim o nome: Caroline Gattaz, minha mãe biológica, aquela que me entregara aos braços do destino da adoção,  logo após o meu nascimento. Naquela imagem, ela ostentava um uniforme militar, seu olhar distante, mas repleto de uma aura de força e resolução.

Armada com essas descobertas, mergulhei de cabeça nos sistemas militares, navegando meticulosamente pelos registros até encontrar, com um golpe de sorte, o endereço da base que ela comandava. Era uma base secreta que para mim, não foi. Na quietude do meu quarto, imersa em pensamentos turbulentos, uma decisão inabalável tomou forma: eu precisava encontrá-la. Mas não queria fala para minha outra mãe. Então, mesmo sabendo que iria deixa-la preocupada, escrevi um bilhete e com uma mochila leve contendo apenas o essencial e meu coração transbordando de perguntas não respondidas, escapei de casa sob o manto da noite, deixando para trás a única vida que conhecia. Abandonando também minha mãe adotiva, a quem amava acima de tudo, adormecida no quarto ao lado. Eu sabia que ela faria de tudo para me proteger, como sempre fez, mas não podia mais ignorar a necessidade urgente que sentia de enfrentar meu passado de frente.

Cada passo naquela jornada era carregado de emoção intensa, misturando esperança, medo e uma ânsia avassaladora por respostas. Este era o momento de confrontar não apenas minha mãe biológica, mas também as verdades enterradas que moldaram quem eu era.

As linhas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora