Capítulo 5

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Antes de enfrentar as consequências de minha fuga, pedi para ela me mostrar a base.

Eu me sentia incrivelmente feliz, uma alegria que brotava de um lugar profundo dentro de mim. Anos de incertezas e perguntas sem respostas finalmente encontraram um desfecho. 

Descobrir a verdade sobre o meu passado e encontrar minha mãe biológica, Carol, trouxe uma sensação de completude e alívio que eu jamais havia experimentado antes. Saber a versão dela, a ver aparentemente bem foi um presente inestimável, embora eu sabia que a nossa relação seria uma construção, afinal eu não a conhecia a fundo e nem ela a mim.

Estar nesta base secreta onde ela trabalhava, cercada por paredes altas e medidas rigorosas de segurança, não me intimidava. Pelo contrário, fazia-me sentir parte de algo maior, algo especial. Olhar para Carol e perceber que estava ao lado dela, depois de tantos anos de busca e incerteza, fez com que todas as minhas dúvidas e medos desaparecessem. A conexão entre nós era palpável, uma ligação que transcendia o tempo e a distância mesmo eu percebendo dela uma certa resistência. Ela se mostrava forte o tempo todo, mas até que ponto? Até onde ela mostraria, ou quando, suas fragilidades? Será que ela sabia que para mim, ela não precisaria erguer muros, ou se defender?

A base em si era fascinante, o pouco que vi naquela noite, depois que saímos do quarto e ela me mostrou o lugar, percebi que era repleta de tecnologia avançada e uma energia vibrante de atividade. Embora eu não tinha topado com ninguém, eu sentia a energia daquelas paredes. Eu podia ver o orgulho nos olhos de Carol ao me mostrar o local, revelando aspectos de sua vida e trabalho que antes eram apenas um mistério distante para mim. Cada canto da base parecia contar uma história, de dedicação e do esforço dela. Mas o que chamava a atenção é que eu não via uma alma viva passando por nós. Então resolvi perguntar:

" Cadê todo mundo?" -  Ela sorriu, ainda caminhando com as mãos para trás, mostrando uma postura impecável:

" Estão todos proibidos de circularem pela base até eu dizer que podem retornar as suas atividades normais".

Pera!!!Isso fez bugar minha mente. Ela tinha proibido todo mundo de sair? Ela não queria que me vissem? Ela tinha vergonha de mim?

Percebendo que meus pensamentos estavam a  mil, ela parou e olhou no fundo dos meus olhos, acho que querendo acalmar minhas interrogações internas:

" Pedi para que todos se recolhessem porque eu queria ter esse momento só com você. Visitas aqui são estritamente proibidas e como superiora preciso dar exemplo. Quero que você fique aqui até quando você quiser, Júlia. Mas pra isso, preciso preparar o que posso argumentar ou propor para os meus superiores" - Isso até um determinado momento me acalmou, mas algo ficou claro:

"Ninguém sabe que você teve uma filha?". - Ela se aproximou, colocou um fio de cabelo atrás da minha orelha e respondeu, que senti muita sinceridade:

"Não. Tirando minhas amigas, ninguém soube que gerei uma linda garotinha e que ela se tornou ainda mais linda e inteligente que até invadiu uma base ultra secreta" - Sorriu e fez carinho, brevemente no meu rosto - "E estou disposta a revelar isso e brigar o que e com quem precisar para mantê-la aqui. Até quando, você quiser. E deixar as portas abertas, caso você vá, para sempre que quiser voltar"  -  Eu também sorri, era bom ter esse cuidado, mas me preocupei também:

" Isso não trará problemas para ti?"

" Sim, mas estou disposta a correr o risco e outra, eles me devem muito por tudo que fiz até hoje por essa organização, então esse respeito e essa consideração é o mínimo que eles podem fazer". - Percebendo que eu fiquei com a testa ainda de preocupação e dúvidas, acrescentou:

" Não sei se serei uma boa mãe, Júlia. Afinal até agora eu não fui. Mas mesmo não sabendo talvez desempenhar ou pertencer esse papel, estou disposta, até quando vc me quiser por perto. Agora eu só quero que não se preocupe com isso, ok?"

Mais uma vez me peguei emocionada, enquanto continuávamos a caminhar juntas pela base, eu sentia uma felicidade crescente. Não apenas por ter encontrado Carol, mas por estar me reconectando com uma parte fundamental de mim mesma. O sorriso no meu rosto era genuíno, iluminado pela alegria de estar exatamente onde eu precisava estar. A base secreta não era apenas um local de trabalho para Carol; naquele momento, era o lugar onde eu estava redescobrindo minhas raízes e reconectando-me com minha própria identidade.

Estar ali, ao lado dela, era a realização de um sonho. A observando, eu via uma mulher resistente, marcada pelo tempo e pelas escolhas difíceis que teve de fazer. Mas linda, alta, perceptível a qualquer olhar. Havia uma dureza em sua face, uma expressão que denotava resiliência e determinação. Carol era alguém que claramente tinha enfrentado muitas batalhas, tanto externas quanto internas. Suas feições estavam um pouco cansadas, mas ainda havia uma força inegável em seu porte e na maneira como se movia pela base. Eu podia perceber o arrependimento em seus olhos, especialmente quando falava sobre o passado. Havia uma dor sutil, uma sombra que passava por seu rosto ao mencionar os anos que passamos separadas. Era evidente que ela se arrependia das decisões que nos afastaram, mas eu também via que ela estava perdida quando se tratava de ser mãe.

Voltando para seu quarto, ela me disse que naquela noite eu ficaria ali, com ela, mas que em breve eu teria minhas próprias acomodações, mas antes de nos acomodarmos ela retomou o assunto que eu estava tentando evitar:

" Júlia, eu percebo que está evitando ligar para sua mãe, porém eu quero que ligue. Ela deve estar muito preocupada com você".

" Será que ela vai me matar?" - Perguntei angustiada com medo de uma resposta afirmativa.

" O pouco que pesquisei dela, acredito que não matar, mas um bom sermão e até castigo. Ela deve estar aflita. Por favor, ligue para ela"

" Você realmente pesquisou direito? Ela sabe ser bem rigorosa e dura quando quer" - Bufei. Era ainda estranho saber que ela sabia muito de nós e não se aproximou.

" Sim, pesquisei e tive a certeza que você foi muito bem cuidada e amada por todos esses anos, só não consegui descobrir nada do marido dela." - Eu ri, pelo visto ela definitivamente não tinha pesquisado direito:

" Rosamaria, minha linda mãe é muito bem resolvida, me criou sozinha e tem pavor a homens" - Xeque mate vi que essa informação ela não tinha e assim completei:

"Ela é maravilhosa, uma mãezona, lésbica assumidissíma, porém, sinto que ao me adotar esqueceu dessa outra parte que é viver e ter uma pessoa ao seu lado"

"Hummm" - Ela respondeu acho que processando as informações, até que um estalo me deu na cabeça, será que ela também gostava de mulher e era Bi?

Fui interrompida dos meus pensamentos, por ela esticando seu celular . Bom chegou o momento de enfrentar a fera Rosamaria, minha mãe. 

As linhas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora