Capítulo 4

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Eu assenti, determinada. "Estou. E acredito que você também precisa disso, tanto quanto eu."

E assim, o primeiro passo para desvendar nosso passado foi dado, um passo que prometia mudar tudo o que sabíamos sobre nós mesmas e sobre nosso futuro.

Carol fez um gesto para que eu a seguisse. Caminhamos em silêncio pelos corredores austeros da base militar, até chegarmos ao seu quarto. Ela fechou a porta atrás de nós, garantindo a privacidade que aquele momento necessitava.

O quarto dela era um espaço austero e funcional, refletindo sua disciplina e o ambiente em que vivia. A porta de metal pesada se abria para um espaço cuidadosamente organizado e desprovido de excessos.

A primeira impressão era de simplicidade e eficiência. As paredes, pintadas em um tom neutro de cinza, eram quase desprovidas de decoração, com exceção de alguns quadros com insígnias militares e medalhas, sinalizando suas conquistas e sua trajetória impecável nas forças armadas. Um relógio de parede, funcional e sem adornos, marcava o tempo de maneira implacável, reforçando a sensação de ordem.

No centro do quarto, havia uma cama de casal, parecia bem espaçosa, coberta com lençóis brancos impecavelmente arrumados. Uma manta verde-oliva, dobrada com precisão militar, estava disposta no pé da cama. A cabeceira simples era de metal, refletindo a praticidade do ambiente.

Ao lado da cama, uma pequena mesa de cabeceira continha um abajur de metal, um relógio despertador digital e um livro de estratégia militar, provavelmente a leitura noturna dela. Havia também uma foto emoldurada de um grupo de soldadas, provavelmente suas melhores amigas e equipe, em um momento de camaradagem.

Do outro lado do quarto, uma escrivaninha robusta estava meticulosamente organizada. Pilhas de documentos e arquivos estavam empilhadas com precisão, ao lado de um laptop militar, com certeza por uma senha de alta segurança. Uma caneca com o brasão da unidade militar continha algumas canetas e lápis perfeitamente alinhados. Sobre a escrivaninha, uma pequena prateleira abrigava mais alguns livros, todos relacionados à liderança, história militar e táticas de combate.

O guarda-roupa de metal, encostado em uma das paredes, estava fechado, mas era fácil imaginar seu conteúdo: uniformes perfeitamente alinhados, prontos para serem usados a qualquer momento. Ao lado do guarda-roupa, um suporte continha suas botas de combate, limpas e engraxadas, prontas para ação imediata.

O chão era de concreto polido, fácil de limpar e manter, e havia um pequeno tapete verde ao lado da cama, proporcionando um toque mínimo de conforto. As janelas eram pequenas e protegidas por cortinas grossas, garantindo tanto a privacidade quanto a segurança. O isolamento acústico era evidente, bloqueando qualquer som externo e criando um ambiente de serenidade forçada.

No canto do quarto, um equipamento de comunicação sofisticado estava pronto para uso, reforçando a importância de Carol na hierarquia militar e sua necessidade de estar sempre conectada.

O quarto, embora desprovido de luxo, exalava um senso de propósito e determinação, um reflexo direto da personalidade de Carol Gattaz. Cada detalhe estava alinhado com sua vida dedicada ao serviço, à disciplina e à liderança, deixando claro que, para ela, o dever e a responsabilidade estavam sempre em primeiro lugar. Nesse momento me peguei perguntando se eu teria alguma abertura para entrar em sua vida.

Ela com a cabeça sinalizou para eu sentar na cadeira perto da escrevania e a mesma sentou na beirada da cama.. Carol parecia estar reunindo forças para enfrentar seus próprios demônios.

"Quando eu tinha sua idade, eu era completamente diferente do que sou hoje," ela começou, a voz baixa, mas carregada de emoção. "Eu era jovem, imatura e cheia de sonhos, embora tenha crescido em um orfanato e não ter muitas coisas na vida. Ao completar 18 anos e por ainda não ter sido adotada, conforme o regulamento, tive que sair de lá, sem nada, sem ninguém. Foi nas ruas, roubando pequenas carteiras que conheci seu pai. Nos apaixonamos. Pensávamos do como sairiamos daquela vida, porque queríamos mais. Porém eu estava disposta a começar devagar, procurando emprego. Consegui emprego numa lanchonete e consegui uma pequena Kitnet, para mim e seu pai. Porém ele queria as coisas mais rápido e começou a se envolver com pessoas e coisas mais pesadas. E isso fazia com quem tivéssemos brigas terrível. Uma vez ele me agrediu. Saí de casa na calada da noite e topei com um grupo de mulheres militares. Elas me acolheram. Me falaram que eu poderia seguir o serviço militar e sair dessa vida." - Ela respirou fundo, claramente muito emocionada com essas memórias e eu estava igual, porém permaneci muda e calada, com medo de que ela se calasse.

"Depois dessa noite não voltei mais para casa e nem vi seu pai. Alguns dias depois eu descobri que estava grávida, ainda estava tentando me adaptar ao rigor da vida militar. A notícia foi um choque. Eu não estava preparada para ser mãe. Me desesperei. Eu não conseguia cuidar de mim e imaginei que não daria conta de cuidar de você".

Carol fez mais uma pausa, os olhos distantes, como se estivesse revivendo aqueles momentos.

"Eu tinha acabado de ingressar no serviço militar, algo pelo qual havia lutado muito. Ser mulher em um ambiente tão dominado por homens, mesmo sendo uma equipe só de mulheres era um desafio constante, e eu não queria que nada atrapalhasse minha carreira. O medo e a incerteza tomaram conta de mim." - Eu podia sentir a dor em suas palavras e resolvi perguntar, já sabendo da resposta:

"Você não tinha ninguém para te apoiar?"

Ela balançou a cabeça negativamente. " Nunca tive. Tudo que aprendi até hoje foi no orfanato e depois no regime militar. Estava sozinha e apavorada. Mesmo assim, contei para as minha melhores amigas, que estão comigo também nessa base. Elas me acobertam. Escondi minha gravidez, por mais difícil que foi até o dia do seu nascimento. Como sempre fui alta e magra a barriga não apareceu muito. No dia do seu nascimento, as meninas me levaram pro hospital, tivemos que esperar a noite cair para sairmos escondidas e eu sabia que não poderia te dar a vida que você merecia. Não tinha como cuidar de você dentro de uma base militar e ao mesmo tempo construir a carreira que eu sonhava." - Eu já estava chorando, foi duro ouvir tudo isso, eu queria que ela tivesse lutado mais por mim, mas sabia que ela não conseguiu:

"Então você me deixou no hospital," concluí, tentando compreender a magnitude da decisão que ela tomou.

"Sim," - Carol confirmou, a voz embargada.

"Foi a decisão mais difícil da minha vida. Mas eu fiz isso porque acreditava que seria melhor para você. E por mais difícil que foi te deixar lá eu procurei ter certeza que você encontraria uma família maravilhosa que estava disposta a te adotar.Eu não sosseguei até confirmar isso. E mesmo longe eu sabia que sua mãe te deu o amor e a segurança que eu não poderia proporcionar naquele momento." - Isso me deixou confusa:

"Pera!! Você quer dizer que soube com quem eu estava, onde eu estava, mas você nunca tentou entrar em contato?" - perguntei, a dor e a curiosidade se misturando.

Ela balançou a cabeça novamente:

" Eu não queria interferir na sua vida. Achava que você estava melhor sem saber sobre mim. No entanto, sempre procurei acompanhar sua vida de longe. Sabia que você estava bem, feliz. Isso era o que importava para mim. Mas o peso da culpa e da saudade nunca desapareceu." - Carol olhou diretamente nos meus olhos, lágrimas acumulando-se em seus olhos antes tão firmes:

"Eu pensei em você todos os dias. Ver você agora, saber que você cresceu para se tornar essa mulher forte e determinada... Eu me orgulho de você, Julia. Mas também sei que preciso responder por minhas ações."

Eu absorvi suas palavras, sentindo uma mistura de alívio e tristeza:

"Eu só queria entender por quê. Cresci com muitas perguntas e poucas respostas. Agora que sei o que você passou, vejo que não foi uma decisão fácil."

"Não foi!" - Carol concordou, a voz tremendo:

"E o fato de você estar aqui agora, mesmo invadindo uma base militar(sorriu) buscando respostas, me mostra o quão forte você é. Eu só espero que de alguma forma, passo-a-passo possamos tentar de alguma forma, reconstruir um pouco do que foi perdido. É claro, respeitando sua mãe e o seu tempo"

Eu segurei sua mão, sentindo a conexão que sempre quisera:

"Estamos começando agora, não é? Esse é o nosso primeiro passo."

Carol apertou minha mão, a determinação em seus olhos refletindo a minha. "Sim, Julia. Vamos dar esse passo juntas, um de cada vez. Mas agora, acho que será importante ligar para sua mãe e dizer que você está bem" - Nesse momento me dei conta, eu estava literalmente ferrada, minha outra mãe ia me matar. Com certeza ela estava com os cabelos em pé, já me procurando.

E ai? Estão gostando? Continuo? 

Por favor, comentem!!

As linhas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora