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Fica aqui...

Fica aqui

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MILA

Ok, por essa eu não esperava. O Guto não vai gostar nadinha de ver o pai dele aqui. Ele já me contou que a relação entre os dois não é boa e, inclusive, ele e o Chicão vieram pra cá justamente pra se afastar dele.

— Mocinha, eu fiz uma pergunta. É aqui que os dois estão morando?

— Não...nem sei quem são esses. Mas tem outras pensões pelo bairro. Se o senhor procurar, talvez encontre onde esses dois estão.

— Ah, tá bom. Você perguntou com tanta convicção se eu conhecia eles...achei que soubesse de algo.

— Ah, não. Sinto muito. Não conheço eles.— digo com meu maior sorriso convincente. Anos trabalhando naquela gravadora me fizeram mestre na arte da enganação.

— E...por acaso tem...quartos vagos nessa pensão?— ele questiona.

— Não. Infelizmente, estamos lotados...— digo, tentando fazer com que ele vá embora e não suspeite que os filhos moram aqui.

Eu só não contava que o Chicão e o meu pai iam entrar pela porta bem naquele momento.

— Que isso, seu Furtado! Não é incômodo nenhum te ajudar! Essas sacolas devem tá pesadas.— Chicão diz, bem alto enquanto eles entram e param na recepção. Chicao encara pai.— Papai?

— Chicão!— ele grita e vai até o rapaz, lhe abraçando apertado— Finalmente encontrei você, meu filho! Cadê o seu irmão?

— Tá...trabalhando. O que o senhor tá fazendo aqui?

— Ué, vim ver meus filhos. Do ingrato do seu irmão eu não esperava muito mesmo. Mas você? Você nunca mais me ligou....

— Olha só, seu Mário! Consegui achar um quarto pro senhor aqui na pensão!— digo.— Pai, o que você acha de ajudar ele enquanto eu converso com o Chicão lá fora?— e, depois de dizer isso, saio puxando o Chicão até a varanda sem nem ouvir o que meu pai ou o pai dele teriam a dizer.— Você sabe que o seu irmão não vai gostar nada de saber que o pai de vocês tá aqui, né?

— É...a relação dele com o papai não é nada boa. Nosso pai passou anos longe da gente e só voltou a querer se aproximar. Eu dei abertura, mas o Guto não.

— É, isso ele me contou. Só não levou muito a fundo.

— O problema, dona Mila, é que, mesmo tendo sido ausente, o papai dava carinho, do jeito dele. Só que o carinho dele, o jeito de participar na nossa vida sempre foi...levar pra ver futebol, dar uma bicicleta, uma bola. E o Guto nunca gostou dessas coisas. Ele sempre foi mais dos livro, de ficar em casa em vez de sair pra ver futebol. E aí...o papai dizia que o Guto nem parecia filho dele.

— Meu Deus!— digo, chocada com o quanto o Guto sofreu por causa do próprio pai.

— Pois é...a vida toda do Guto, eu meio que fui pai dele. Não consegui terminar a escola, porque tive que trabalhar. E entre eu e ele, o Guto sempre foi o que teve mais chance de ir longe...

Treat you better | GumilaOnde histórias criam vida. Descubra agora