Além do Gelo

5

—Emma, olhos na porra do disco!—Escuto meu treinador gritando.

Onde você acha que estou de olho? É o que eu quero gritar, mas não posso. Eu sei bem que discutir com o treinador James é péssimo, ele pode ser bem assustador às vezes.

Ouço minhas companheiras de equipe perto de mim e patino mais rápido perseguindo o disco, vejo Lucy à minha direita e Sabrina à minha esquerda. Lucy está mais perto da área do gol, eu atiro o disco para ela, ela para com o bastão e depois pulamos comemorando nosso terceiro gol. Eu a vejo patinando em minha direção e ela me abraça.

—Somos a melhor dupla, admita.—ela diz, não consigo ver muito do rosto dela com o capacete, mas posso dizer que ela está sorrindo.

—Você pode apostar que sim.—Eu patino até o centro da pista, me preparando para recomeçar a partida, mas sinto uma forte dor no ombro assim que vejo que estou sendo empurrada para a parede.

—Que porra!—Eu grito, tentando me levantar.

—Oh, vamos lá. A garota do papai não é forte o suficiente para levar um golpe?—Eu ouço a voz de Alex então ela ri.

—Por que diabos você faria isso?—Eu fico de pé e me paro na frente dela, ela está rindo e eu a empurro. Ela está testando minha paciência e ainda bem que o hóquei é um esporte agressivo.

—Relaxa ai Emma.—ela me empurra novamente e eu a empurro até que ela esteja no chão da pista de gelo.

—Sua filha da puta do caralho!—ela cospe e chora como se eu tivesse acabado de matá-la. Tão dramático.

—Qual é o seu problema?—Estou toda vermelha com a respiração ofegante.

Geralmente não sou uma pessoa violenta, no gelo posso dizer que sou. Se você vier pra cima de mim, eu vou pra cima de você, mas sou Capitã  porque não entro em brigas e jogo limpo, mas Alex Grey é alguém que testa minha paciência todas as vezes. Nós nos conhecemos na faculdade, costumávamos jogar pelo mesmo time até que eu fui contratada primeiro e ela me odeia por isso desde então.

Estou aqui por causa do meu pai, diz ela. Meu pai ser uma lenda do hóquei não ajuda muito, mas estou aqui porque mereci. Estou aqui porque sou uma das melhores jogadores deste maldito país e não por causa do meu pai. Eu corri atrás disso e consegui.

—Ei sem tocar—Ouço uma das minhas companheiras de equipe me defendendo. —Ela nem fez nada!—ela grita e eu procuro a voz dela.

Puta merda.

O árbitro está me dando uma falta. Bem, foda-se.
Posso ver o sorriso de Alex Grey enquanto estou sendo arrastada para fora do gelo.
Acabamos ganhando de 3 a 1. Minhas pernas doem tanto quanto meu ombro, estou no vestiário com as minhas companheiras de equipe tirando meu equipamento. Eu as ouço rindo e comemorando nossa vitória.

—Vamos ao Reds para comemorar?—Eu ouço Lucy perguntando. Ela está limpando o rosto com uma toalha e olhando para nós.

—Claro, sem pensar duas vezes.—Helena responde com um sorriso.—Eu preciso tanto ficar bêbada.

—Todas nós precisamos.—Eu rio.

—Estou dentro.—Lucy diz, olhando para mim, ah não.Não olhe para mim, Lucy. —Você está vindo?

—Não, eu não sei.—Eu encolho os ombros, lembro que da última vez eu fui lá, acabei batendo em um cara pra defender a jornalista Mia Leblanc.

—Vamos lá por favor.

Não tenho tempo para responder porque há uma batida na porta e depois ela abre revelando nosso treinador James. Ele escaneia a sala e depois tranca os olhos em mim.

—Blanchard. Vamos conversar no meu escritório, agora mesmo.—isso é tudo o que ele diz e depois fecha a porta, me deixando sem palavras.

—Vixi, alguém está em apuros.—Lucy diz rindo.
Eu reviro os olhos e pego minhas coisas para caminhar até a porta.

—Merda, deve ser algo sobre o que aconteceu com Alex.—Eu encolho os ombros.

—Boa sorte.—Foi o que ouvi quando saí do vestiário.

Meu ombro está me matando, mas eu vou até a porta que diz 'James Santori" e bato, ele grita para eu entrar, então eu entro. Ele está sentado em sua cadeira, com as mãos na mesa e está olhando para mim com raiva? Talvez. Eu fecho a porta atrás de mim e ele faz um gesto para eu me sentar na frente dele e é isso que eu faço. Por que estou nervosa? Meu Deus, estou sendo suspensa? Nem foi minha culpa, eu não fiz nada, ela começou a briga e eu só a empurrei.

—Eu posso ouvir você pensando.—Ele me puxa para fora dos meus pensamentos e eu pisco.

—Desculpe.—Por que eu pedi desculpas?

—Por que você está pedindo desculpas?— Ele me questiona.

—Eu não sei, apenas pensando?—Eu pergunto esperando que ele ria, mas sim, não. Estou em apuros, senhor. —O que você queria falar? Estou sendo suspensa?

—Esta é a terceira briga em que você entra.—ele me olha nos olhos e eu me esforço muito para não quebrar o contato. James pode ser muito intimidante quando quer ser. —Eu deveria estar suspendendo você.

—O quê? Mas eu nem fiz nada. Grey me provocou e eu-
Ele me interrompe. —Eu não quero saber o que aconteceu porque eu já sei.—Eu calei a boca e acenei com a cabeça. —Eu sei que você não entra em brigas e as únicas brigas em que você entra são com ela, mas não posso deixá-la passar despercebido—Eu aceno com a cabeça.

—Você está, no entanto, sendo punida com suspensão. Dois jogos.—Boa James, você é um grande filho da puta.

—Você tem duas opções, na verdade.—Ele se incosta e eu sinto meu coração batendo rápido. —Posso colocá-lo no banco por três jogos, são dois meses. Ou você pode se voluntariar para o time de hóquei Canada Yellow Jackets.

—Voluntário? Como assim?—Eu pisquei e cocei minha cabeça em confusão. Na verdade, nunca ouvi falar desse time.

—Eles são um programa para futuros jogadores de hóquei. Mariane Roberts está treinando eles no momento, mas acho que será bom para. Como eu disse, essas são suas duas opções.—ele fecha seu diário e eu olho para ele por segundos.
—Você não pode estar pensando nisso. Você prefere não jogar?

—O quê? Não eu quero jogar, é claro que quero jogar. Eu estou apenas... Surpresa, eu nem sei como treinar alguém.—minha voz parece preocupada e desesperada.

Ele suspira e olha para mim de novo.

—Eles são crianças entre cinco e oito anos, não vai ser difícil. Você só precisa ajudá-los a manter o equilíbrio em suas jogadas e esse tipo de coisa.

—Okay.—Eu digo, pensando em estar cercada por crianças. Não poderia ser tão difícil, certo?

—Então, eles estarão esperando por você às 13h. Você vai estar lá?

—Claro.—Eu aceno ficando de pé. —Eu estarei lá.

Ajudar crianças pequenas não poderia ser tão difícil, certo? Eu tinha cinco anos quando joguei na pista de gelo pela primeira vez e nunca saí de lá. Minha treinadora era uma mulher que absolutamente mudou toda a minha vida e me ensinou tudo o que eu sei, deveria ser bom tentar fazer a diferença para algumas crianças e, além disso, eu realmente não queria perder nenhum jogo. Se eu não estiver na pista, não sei o que fazer.
Então, acho que vou ensinar algumas crianças amanhã.