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Pov. Carina Deluca

Andrea estaciona o carro na garagem de casa, pego minha mochila e espero pelo meu irmão:

- Vai passar o final de semana fora? - Andrew - apelido que ele adquiriu na escola, acho legal - pergunta enquanto busca pela chave de casa.

- Acho que sim. Quer me ajudar com alguma desculpa?

- O Amélia vai dar uma festa na casa de praia. Falo para a mamma que você vai comigo, vai poder passar o final de semana todo com ela.

- Obrigada - meu irmão passa os braços por minha cintura e paramos na porta da frente. Andrea e eu tínhamos uma conexão que só irmãos gêmeos costumavam compartilhar.

Entramos em casa e meu papa estava sentado a mesa de jantar, mamma andava de um lado para o outro, devem estar discutindo alguma coisa:

- Oi, mãe! Oi, papa! - Andrea e eu falámos ao mesmo tempo. Nós dois vamos andando rumo as escadas para dar um pouco mais de privacidade aos nossos pais.

- Carina, vem aqui - mamma chamou, sua voz era séria e autoritária, tento me lembrar o que eu havia feito de errado para que ela agisse assim - Você não, Andrea, vá para o seu quarto - trocamos um olhar de cumplicidade antes do meu irmão subir as escadas. Dou meia volta e paro no meio da sala - Tem algo para me contar? - busco pelos olhos do meu pai, ele não era bom em fazer esse tipo de joguinho, então sempre entregava o motivo da bronca, mas o homem tinha a cabeça baixa, evitando o contato visual.

- Mãe, só fala logo o que acha que eu fiz para nós podermos resolver isso de uma vez.

- Maya! - travo onde estava. Puta merda! Minhas mãos começam a suar e minhas pernas estão trêmulas, mas não peço para sentar, permaneço em pé, encarando a mulher a minha frente - O que está acontecendo entre vocês? - seus olhos estavam vidrados em mim, eles tinham uma áurea estática e raivosa. Estou ferrada.

- Acho que você já sabe...

- Não, eu não sei de mais nada. Quero ouvir a minha filha me explicar o que está acontecendo entre ela e minha melhor amiga.

- Mamma, por favor...

- Carina! - suspiro derrotada, não havia discussão, precisava dizer a verdade.

- Maya é minha namorada.

- Namorada? - minha mãe começa a rir, ela continua andando de um lado para o outro, posso ver a incredulidade na sua feição - Está proibida de ver ou falar com a Bishop, está de castigo para o resto da vida!

- Você não pode fazer isso comigo! - solto minha mochila no chão da sala e me aproximo abruptamente da mulher.

- Vamos ver então - meu pai se levanta e para entre nós duas - Como tiveram coragem de me enganar na minha própria casa?

- Não fizemos nada na sua casa - dou de ombros. Tenho esse defeito, quando estou desesperada, não penso antes de falar e acabo sendo inconsequente - Se seu medo é de eu ter "profanado" seu lar, não se preocupe...

- Escuta aqui, garota, sou sua mãe e me deve respeito.

- Sou maior de idade, posso me relacionar com quem eu quiser.

- Carina, por favor... - papai me olha, quase que implorando para que eu me calasse, mas é impossível, estou com raiva e apenas reagindo aos ataques da minha mãe.

- Enquanto morar de baixo do meu teto, faz o que eu mandar - Lúcia me encara com fúria, sustento o olhar, pois eu também estava furiosa.

- Tudo bem, vou me formar daqui alguns meses, vou arrumar um emprego e você nunca mais vai me ver na sua vida.

- Vai trabalhar, é? - minha mãe coloca as mãos na cintura e solta um riso irônico - Quero ver onde vai arrumar emprego sem experiência, não sabe passar uma roupa, mas isso é culpa minha. Te mimei a vida inteira, sempre fiz o que me pedia, e em troca recebo... isso.

- Está com raiva porque eu transei com alguém? Vai me castigar por não ser virgem? Não sabia que era tão puritana, mamãe!

- Filha, para com isso - meu pai coloca a mão no meu ombro.

- Acha mesmo que está certa? Você é uma criança que está se envolvendo com uma mulher adulta e pervertida.

- Eu fui atrás dela! Eu implorei para que Maya me beijasse! Eu a toquei primeiro! Se tem alguma pervertida aqui, sou eu.

- Cansei de você e dessa discussão sem sentido - minha mãe passa a mão pelos cabelos - Você está de castigo. Agora, é de casa para a escola e da escola para casa. Me entrega seu celular.

- Não! - dou alguns passos para trás - É a minha privacidade.

- Eu paguei, o celular é meu! - Lúcia estende a mão - Vamos, me entrega logo e sobe para o seu quarto - enfio a mão no bolso e entrego a ela - Se tentar chegar perto da Maya ou se tentar falar com ela, nunca mais vai ver isso novamente.

- Você é uma vaca! - as palavras surgem na minha mente e saem pela minha boca antes que eu possa evitar. Decido manter o que eu disse - Eu te odeio!

- Tudo bem, posso conviver com isso.

A raiva me consome, subo as escadas pisando firme, com muito ódio. Bato a porta do quarto com força, isso não poderia estar acontecendo, não sei o que fazer, antes do desespero me consumir, corro até meu notebook, aproveito que tenho o WhatsApp instalado lá e busco pela conversa com Maya.

"Amor, minha mãe descobriu sobre gente e surtou. Estou sem telefone por enquanto, não sei o que fazer"

"Eu sei. Ela achou suas coisas aqui em casa, tive que contar a ela, sinto muito"

"O que a gente faz agora?"

"Espera a poeira abaixar. Prometo conversar com ela assim que puder. Por enquanto, fica tranquila, faz o que ela mandar, não seja grosseira e nem nada do tipo. Vai ficar tudo bem. Eu te amo muito, Cari, vamos ficar bem"

Não tenho tempo de responder, minha mãe entra no quarto. Fecho o aplicativo no notebook e a encaro nervosa:

- Não sabe bater? - pergunto enquanto desligo o eletrônico.

- Você perdeu esse privilégio - minha mãe vem até mim, tira o notebook da tomada e o pega.

- O que pensa que está fazendo?

- Isso está confiscado também. Sei que podem se comunicar pelo computador, não sou tão idiota assim...

- Não é idiota, mas é insuportável e injusta - suspiro fundo, repensando sobre o que a loira havia acabado de me falar - Mãe, por favor, eu a amo, não me peça para ficar longe da Maya, por favor. Me desculpa, prometo ser boa e obediente, mas por favor, me deixe ficar com ela.

- Quando o jantar estiver pronto, venho te chamar.

Lúcia passa pela porta, pego meu tênis e jogo contra o móvel. Estou em surto, isso é um pesadelo. Imaginei inúmeras vezes como seria contar a minha mãe sobre Maya, mas nada era tão cruel quanto a realidade. Ela estava puta, e eu nem consigo entender direito o porquê. Tudo bem que eu menti e dei em cima da sua melhor amiga, mas também não é para tanto.

Quando eu namorei o Jack Gibson, minha mãe surtou nesse mesmo nível, mas o cara era um largado que só bebia e fumava o dia inteiro. Maya é diferente, ela é boa, tem um futuro, uma carreira estável, é responsável e me trata com todo o amor do mundo, não faz sentido minha mãe agir assim.

Talvez Maya tenha razão, preciso dar um tempo a minha mãe, para que ela possa digerir essa história toda. Até lá, darei um jeito de conseguir, ao menos, conversar com a minha namorada.

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