Capítulo 9

25 9 0
                                    

"Tem dia que a luz do sol ilumina a toca do rato também"

(Ditado popular coreano)

Segunda é o dia da semana em que mais tenho aulas durante a tarde. No resto da semana, tenho apenas duas ou três aulas na quinta e na sexta, mas naquele dia, teria quatro quase ininterruptas. Para meu alívio, a professora de Linguística havia pegado uma forte gripe. Não que eu desejasse alguém doente, jamais! Isso fere totalmente os meus princípios.

Os meus colegas de turma gostam bastante de sair. Sempre combinam saídas à noite, em karaokês, bares e coisas do tipo. Naquela vez, algo raro aconteceu: uma das garotas da minha turma veio me convidar, com um sorriso simpático no rosto. Mas preferi recusar com a desculpa de estudar para as provas do semestre, apesar de que só faltava uma das dez provas que seriam realizadas. É claro, ela entendeu, saindo cochichando sobre o quão fechado e tímido eu sou.

Eu não sou tímido, apenas um pouco mais introspectivo do que o normal. Eu levo tempo para me tornar realmente íntimo das pessoas. Ainda mais quando eu estou numa faculdade onde meu próprio pai é (talvez?) o maior inimigo do reitor. Eu só tenho Sawako e Namjoon para chamar de amigos, e sou completamente grato por isso. Conheci Sawako quando ainda era uma simples criança e não sabia de tudo que tinha acontecido antes de eu nascer, assim que ela saiu do Japão e chegou aqui. Namjoon conheci alguns anos depois, mas quando eu ainda era um jovem inocente e sonhador.

Ao contrário do que ela dizia, eu não me "escondia" das pessoas, apenas prezava pela ideia de não ser muito visto. Aliás, o reitor está me mantendo ali apenas pois seria um crime me expulsar da escola sem um motivo plausível, apenas por "rivalidade familiar". Eu prefiro não falar tanto nem atrair muita atenção para mim.

Mas não falar muito não me faz uma pessoa grossa. O que menos quero é ser entendido desse modo, afinal, realmente eu me importo se as pessoas se sentem bem ou não no momento em que estou perto delas. Ainda mais se a pessoa citada me salvou de ficar para sempre com um rompimento no ligamento do meu ombro.

— É... eu estou, estou sim

O contraste da minha voz para a do garoto era extremo. A voz dele era mais leve, ao mesmo tempo mais contagiante, parecia sair da garganta com muito mais facilidade. O meu corpo arrepiou de um modo estranho e perturbador quando ele me olhou com uma expressão bastante assustada, como se tivesse me reconhecido muito depois de responder.

— Perdão aparecer desse modo, acredito que eu tenha te assustado.

— Não — Negou com a cabeça, afastando seu corpo mais para a ponta do banco e curvando seus lábios em um sorriso — Eu só estava desatento, mil perdões, não era a intenção

Gastei um bom tempo pensando por qual motivo ele havia se afastado quando apareci. Não sabia se ele queria distância ou queria que eu me sentasse ao seu lado. Mas os seus olhos sorridentes não pareciam enojados ou com repulsa. Eu jamais teria me sentado ao seu lado sem aquela "confirmação", mas o fiz, me sentando na outra ponta do banco.

— Desculpe se eu parecer invasivo mas... o que faz aqui? — Questionei o garoto assim que arqueei um pouco minhas costas corrigindo minha postura

— Eu... perdi o ônibus — Ele falou coçando a própria nuca e evidenciando sua mentira. Eu abri a boca para argumentar, mas fechei rapidamente, seria extremamente inconveniente se comentasse sobre isso

— Ah, eu sinto muito — comprimi meus lábios enquanto encarava aquela grama verdinha e bem cortada. Mantê-la assim deve dar um trabalho imenso para os jardineiros.

Contato visual era uma grande tortura para mim, já que nunca fui acostumado a fazer isso, nem sequer com meus pais. Eu tinha um pouco de receio de que, por causa disso, eu fosse cada vez mais entendido como um garoto envergonhado. Então resolvi levantar meu olhar até o rosto do garoto.

Os Poemas Secretos de Yonsei (Yoonseok - JHS + MYG)Onde histórias criam vida. Descubra agora