Capítulo 6

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Para minha sorte, não havia aula no primeiro horário após o intervalo. Fiquei sentado em minha carteira mexendo o celular, entediado, enquanto todos meus amigos tinham aula normalmente. Finalmente joguei meu celular sobre a mesa, cruzando braços e pernas ao mesmo tempo, olhando para o teto amarelado. Quando o poema voltou a ecoar na minha cabeça, resmunguei em resposta, esfregando minhas mãos em meu rosto.

Minha cabeça entrava em uma confusão decadente por conta de uma pessoa que eu nem sequer sabia o nome e que começou a aparecer em minha vida das maneiras mais aleatórias possíveis. Em um sonho, na biblioteca que ninguém frequenta... meu coração se enchia de aflição, como se eu estivesse me envolvendo com um indivíduo perigoso, como um bandido, mafioso ou algo do tipo, mas todas as cartas e pistas apontavam para um garoto comum e tão, mas tão tímido que eu sequer nunca tinha visto o rosto.

A sala estava vazia, o que me permitia me aprofundar nestes pensamentos sem que eu fosse interrompido por alguém. Senti uma sensação de imprecisão, de desordem, me deixando em um estado de total confusão. Repassei mentalmente todas as características que haviam sido mencionadas.

Olhos pretos? Check. Cabelos pretos que caíam harmoniosamente pelo rosto? Check. Pele extremamente branca? Check. Uma aparência delicada? Check.

O poema descrevia tudo com tanta clareza, como se a ciência comprovasse que os anjos existiam e que eram daquela maneira. E se sua personalidade que eu desconhecia completamente fosse como a descrita, mais certeiro ainda seria. Eu me perguntava constantemente sobre como a garota que escreveu isso tinha tantos detalhes de uma pessoa que, pelo que eu havia entendido, não tinha sequer nascido.

O tic-tac do relógio era o único barulho que eu conseguia ouvir, e que era irritante para mim, não pelo barulho em si, mas por minha mente estar tão focada em coisas pequenas que aquele barulho parecia amplificado. Liguei o celular apenas para ver a hora, e eram 10:12. Aquela aula só acabava às 10:30, quando começaria a próxima, sem considerar que costumávamos ter uma pausa de cinco minutos entre as aulas. Então ofeguei e me levantei, caminhando pela sala até a porta, onde encostei o meu ombro, observando o meu redor.

Apenas os meus colegas de turma estavam fora de sala naquele momento, alguns nos corredores, alguns no refeitório, alguns nos bancos debaixo das diversas árvores espalhadas no lugar. Observei-os levemente e fiquei em um estado de completa reflexão novamente, encarando o concreto acinzentado que cobria o chão. Massageei minhas próprias mãos, com os pensamentos longe, mesmo que eu demorasse a perceber sobre o que eu pensava. E ficar pensativo daquele modo era algo que não me agradava, fazia eu me sentir triste mesmo que eu não estivesse realmente. Balancei a cabeça violentamente, como se quisesse afastar aquele sentimento de que minha alma estava distante do meu corpo. 

Olhei ao meu redor, vendo que as pessoas pareciam todas distantes do lugar. Observei alguns alunos utilizando as rampas para subirem ao segundo andar da escola, outros andando na direção do segundo refeitório, um menor do que o que ficava perto do pátio. Saí da posição em que estava e caminhei em passos lentos até o gramado. Passei a apreciar o clima com atenção, minha cabeça tombando para o lado. O céu cinzento já não parecia tão feio quanto antes, mas era agradável, estranhamente chamativo e atraente. A brisa já não era mais tão congelante e desconfortável como mais cedo. O cheiro das plantas entrava por minhas narinas de modo delicado, me fazendo sorrir minimamente. 

Observei as cerejeiras por alguns instantes. Suas flores em tons claros e delicados de rosa se mexendo graças ao vento, como em uma valsa. Algumas de suas pétalas caiam aos poucos. Escutando os meus próprios passos contra a grama verde do chão, me aproximei de um dos bancos embaixo das cerejeiras, que estava vazio.

Minha boca se entreabriu e arregalei os olhos ao observar uma borboleta azul sobre a ponta do banco, repousando graciosamente. Suas asas tinham um tom tão forte de azul que pareciam ser de mentira, ser apenas uma miragem. Apertei meus olhos e vi-a completamente parada. Apenas me sentei sobre o banco, os olhos fixos na borboleta que, assim que me sentei, levantou voo e passou a percorrer graciosamente entre os galhos da cerejeira.

Os Poemas Secretos de Yonsei (Yoonseok - JHS + MYG)Onde histórias criam vida. Descubra agora