A senhora de olhos apertados e pele enrugada me fitou, dos pés à cabeça. Ajeitou os óculos com a ponta dos dedos e pegou um bloco amarelado de papeis com várias escritas, aparentemente nomes e códigos, passando lentamente por um por um, até chegar a um espaço em branco.
– Nome completo?
– Jung Hoseok
– Data de nascimento?
– 18 de fevereiro de 1994.
A senhora pegou uma caneta velha e gasta, com a tampa com marcas de mordida e a tinta falha. Escreveu algumas coisas sobre aquele espaço branco e, em seguida, pegou um papel pequeno, parecido com um cartão. Escreveu meu nome e carimbou algo com um carimbo de tinta dourada. Ela arrastou o papel pela mesa velha até deixá-lo à minha frente.
– Seu número de cadastro é o 613 – Ela apontou para o número no canto inferior do cartão – Assine nesta linha, então terá acesso aos livros – Ela apontou para a linha preta, me entregando a mesma caneta.
Fiz o que ela pediu e devolvi a caneta. Ela sorriu de forma leve e sem os dentes e pigarreou.
– Bom, fique à vontade!
– Obrigado, senhora! – Agradeci com um sorriso exagerado no rosto, pegando o cartão com ambas as mãos.
Era de um papel grosso, com bordas em um dourado quase amarelo. O nome da faculdade e o seu símbolo se destacavam no espaço superior. Meu nome, em uma escrita falha pela tinta, mas bem desenhada, ficava bem ao centro.
Segurando o papel como se segurasse um presente, comecei a circular a biblioteca em passos lentos e leves, o barulho causado pelas botas ecoando pelo local, sendo o único barulho possível de escutar além das engrenagens do ar-condicionado.
A biblioteca era infinitamente maior do que as salas ou até mesmo maior do que a quadra de esportes. Os corredores eram extensos, apenas em minha breve caminhada pude contar 30 estantes de cada lado, ou seja, ao menos 60 no total. O que mais me impressionava não era a variedade de livros ou a extensão do espaço, mas o fato de o local estar completamente vazio.
Quando vi meu nome entre os aprovados da Universidade de Yonsei, a biblioteca foi uma das primeiras visões que veio à minha cabeça. Na minha cabeça, seria como um universo inteiro escrito em palavras. Poderia imaginar até mesmo o canto de anjos assim que pusesse os pés sobre ela. Veria inúmeras cabeças pensantes e sonhadoras lá, buscando mais e mais conhecimento.
Não só isso, mas romantizei toda a minha trajetória na faculdade, que seria como estar no céu, no paraíso dos gênios. Me imaginava com as incontáveis medalhas pesando meu pescoço e os flashs de câmeras cegando minha visão. "O mais novo superdotado da Yonsei. A inspiração de seu curso, um completo sucesso em ascensão".
O primeiro baque veio até mim quando entrei e vi-a totalmente vazia, com os raros exemplares tomados pela poeira e o cheiro de mofo que vinha daqueles livros que não eram abertos há anos.
O segundo baque foi quando os dias começaram a passar e, diferente do que pensava, eu não seria nenhuma grande inspiração para os demais universitários ou um grande orgulho para um professores, não seria uma pessoa a quem se referir como "prodígio".
As estantes indicavam o nome de todas as faculdades em ordem alfabética: Administração, Biologia, Biomedicina, Engenharia, Farmácia... aquela faculdade era, provavelmente, a maior de toda a Coreia, e isso era refletido na quantidade assustadora de cursos.
Fui percorrendo todo o longo corredor lendo todas as placas com atenção até rapidamente parar. "Medicina Veterinária". Sorri com o cansaço mínimo da caminhada e entrei entre as duas prateleiras de madeira avermelhada. Senti o cheiro dos livros antigos e provavelmente empoeirados invadir minhas narinas, como um convite silencioso.
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Os Poemas Secretos de Yonsei (Yoonseok - JHS + MYG)
Fiksi PenggemarMeraki (do grego μεράκι) Significa que você deixa um pedaço de si mesmo, uma parte da sua alma, dos seus sentimentos, em tudo o que você faz. Jung Hoseok, um estudante de Medicina Veterinária apaixonado por miçangas e livros, acaba encontrando por...