15- Fria

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E não há remédio para a memória de rostos como melodia

Não vai sair da minha cabeça, a sua alma está me assombrando

E me dizendo que está tudo bem

Mas eu queria estar morta

Toda vez que eu fecho meus olhos

É como um paraíso sombrio

Ninguém se compara a você

Tenho medo de que você

Não estará me esperando do outro lado


Jacob

Meus próprios olhos me encaram.

Mas não são meus olhos, esses parecem maléficos e ambiciosos. Não acredito que posso ser tão mal, no entanto me pergunto se posso. A crueldade em meu próprio rosto deixa um gosto amargo na garganta. A surrealidade de estar diante de mim mesmo me faz sentir como se fosse desmaiar.

Preciso que ele se afaste, preciso que me deixe ir. Dou tudo de mim, mas sou fraco. Não consigo, estou sufocando, meus membros ardem, meu peito arde, não consigo ver.

Acordei suado e gelado. Gelado de pavor.

Renesmee dorme profundamente ao meu lado. Em minha mente uma lembrança que pertence ao meu corpo, mas não a mim: não a vivi. Me sento, me obrigando a ver as coisas de outro ângulo. Não é o mesmo quarto, Ness veste uma blusa de mangas que deve ser minha, ao invés de estar sem nada ou em uma de suas camisolas luxuosas. Está mais perto, porque a cama é menor do que a nossa no andar de cima. Menor do que a cama da memória que não vivi... Me sinto esquentar de novo e evoco a raiva, sempre presente no calor.

Ódio é melhor que medo.

Fogo é melhor que gelo.

Consigo lidar com ódio. Já o senti muito. Não gosto da sensação. Jamais gostei de como a raiva nubla a mente, de como me fazia girar fora de controle, de como me fazia agir como algo que eu não era. Agora a raiva quente em meus ossos parecia como volta ao lar.

Eu podia controlar a raiva, acalmar o calor, dominar o lobo.

A lembrança do lobo fora de controle queimando e dividindo meus ossos fez meu corpo doer. Não sou eu, disse a mim mesmo.

Atordoado, me levantei e fui até a cozinha. Bebi água gelada. Fui até a varanda, ouvindo e inalando o mar. O descontrole daquele outro lobo aferroando minha pele. Tirei a roupa, buscando o calor, a queimação espalhando-se de dentro de minha coluna para meus membros. Fácil como sempre.

Ergui uma pata familiar sentindo-os em minha mente, hesitantes, satisfeitos, temerosos, as sensações espumando em minha mente como ondas batendo na praia.

Tudo bem, cara?, Quil estava contente que eu estivesse de volta, mas tentava esconder a preocupação.

Sim, só checando, respondi, considerando que era melhor voltar.

Até mais, Oliver respondeu.

Eu era eu. Um lobo perfeitamente sob controle. Meu corpo, minha casa, minha esposa e minha matilha. Estava tudo no lugar. Só que parecia ser visto através de um espelho quebrado. As ranhuras fraturando, deixando as coisas meio tortas.

Puxei uma grande porção de ar. Ficar pensando não ajudava.

Encontrei meus livros no escritório, abri o e-mail. Havia um milhão de atividades e estimas de melhoras. Li e pensei em cálculos até meus olhos parecerem secos.

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