Eu deveria ter morrido há muito tempo
Mas os espíritos esqueceram de me buscar
Pelo visto nem eles me entendem direito
Deveria ser motivo para comemorar?
Alguns dias são um manicômio
Na minha mente, sinistra prisão
Se eu me revelasse, ficaria com medo
Ou se identificaria com a desolação?
Se acha que não aprendo com os erros
Nunca esteve tão injustamente errado
É por causa do barulho que não durmo cedo
E quando acordo escrevo assim, demasiado
Não é o amor a raiz de todo mal?
E a lealdade, a maior das mentiras?
Mas os meus versos são o meu remédio
Ainda que eu continue uma morta-viva
O mesmo buraco de onde escapei
Estou sempre a um passo do precipício
Rostos vazios é o que me mantém
Por isso os estampo em capas de livro
Conheço bem as minhas ruínas
Não há necessidade de vir me lembrar
Acontece que a vida é uma dança no circo
A tragédia é a melodia que parece embalar
Atiram rochas e depois vão dormir
Sou o alvo mais almejado do mundo
Mas a pressão é o que cria diamantes
E estou enterrada no ponto mais fundo
Busco por algo, mas não quero nada
O que seria de mim sem a tristeza?
E os meus achismos cheios de dúvidas?
O pior cenário, com toda certeza
Porque existem duas opções
O tédio ou a amargura
Me pediram para escolher
Eu sempre escolho a segunda
Faz tempo que não acredito no amor
Mas continuo fingindo que sim
É o que eu chamo de mal dos poetas
A estética ainda cai bem em mim
Escrevo minhas dores sorrindo
A maior ironia da minha existência
Se eu não fosse quebrada não seria artista
Vai além da questão da sobrevivência
O que é real? O que é teatro?
Às vezes me perco no personagem
Ao invés de arriscar o desconhecido
Prefiro manter a velha abordagem
Pierrô ama Colombina
Colombina que ama Arlequim
Mas este não ama a ninguém
E todos sabemos como é o fim
Coração partido, o mais puro romantismo
É assim que morrem as borboletas
E há certa beleza em sofrer por elas
Por isso transformo lágrimas em letras