Quatro

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A ressaca é uma coisa maldita. Ela consome sua mente com uma baita dor de cabeça, te faz sentir repulsa da bebida e de quebra te faz perceber o quanto você foi idiota por beber. E naquela manhã de sábado foi exatamente assim que eu me senti ao abrir os olhos e acordar.

Olhei ao redor da sala e cozinha e não vi sinal de Dafne. Eu precisava de um café, mas ela estava de folga, mas ela estava ali, do outro lado da porta de vidro que dividia a lavanderia e o quarto dos fundos. Depois de me questionar se deveria ir até ela ou não, decidi ir. Eu precisava de um café.

- Dafne! - falei ao abrir a porta.

- Sim. - ela disse ao aparecer.

- Desculpe, sei que é sua folga, mas, preciso de um café forte urgente. - pedi.

- Sem problemas, vou em um minuto.

- Obrigado!

Me virei e voltei para cozinha. Me sentei sob um dos bancos do balcão e abaixei minha cabeça sob ele, o mármore gelado pareceu diminuir um pouco a dor de cabeça. Dafne chegou e logo colocou uma chaleira com água no fogo. Em seguida pegou o coador, o café e o bule. Enquanto ela organizava tudo parei para analisa-la. Pernas finas, coxas um pouco grossas, bumbum redondo num short curto mas um curto apropriado eu diria. Blusa moletom dobrada nas mangas até na altura dos cotovelos, cabelos ruivos preso num coque bagunçado. Como um homem poderia fazer uma mulher como aquela sofrer?! Pensei.

Certo, eu a conhecia há apenas vinte e quatro horas mas, parecia que eu já a conhecia tanto. Uma mulher discreta, que fazia seu serviço com perfeição, falava apenas o necessário e sabia se portar. Estava sempre disponível e sempre sorria. Como um homem poderia ser tão covarde com alguém que mais parecia angelical?

- Aqui está! - ela disse ao me entregar a caneca de café.

- Obrigado! - falei e em seguida tomei um bom gole.
- Nossa, está forte. - falei ao sentir o gosto forte e amargo do café.

- Sim, café para curar a ressaca. - ela disse.

- Você costuma beber? Parece saber fazer café para essa finalidade. - falei ao tomar outro gole e fazer careta ao sentir o gosto mais uma vez.

- Antes eu bebia, socialmente. Agora, não mais. - foi tudo o que ela disse.
- Beba tudo. Você vai ver, vai ficar bem logo. - ela garantiu.

Em seguida, Dafne se virou e pegou no armário um prato pequeno, uma faca de cortar bolo e um garfo pequeno. Se dirigiu até o balcão do armário e destampou a boleira de vidro, em seguida, tirou com a faca um pedaço do bolo e colocou no prato.

- Tome! Coma um pouco. Não é bom ficar de estômago vazia. - ela disse ao me entregar o prato.

No momento em que encostei meus dedos no prato sem querer toquei em seus dedos também. E sim, pode parecer clichê, mas, senti meu corpo estremecer. Um frio forte percorreu minha espinha e um arrepio se fez nos pelos do meu braço. Tudo parecia novo. E era. Eu nunca havia sentido nada parecido antes.

- Obrigado! - falei.

Ela sorrio.

Dafne tinha razão. Depois de tomar o café e comer o bolo me senti bem melhor e já não tinha mais dor de cabeça.

- Vai passar o dia trancada no quarto? - perguntei enquanto ela lavava o prato e a caneca.

- Cogitei sair um pouco, talvez ir na praia. Mas, o dia hoje amanheceu mais frio do que o esperado. E sou preguiçosa para sair no frio. Então, vou aproveitar e continuar estudando. - ela disse para minha surpresa.

- Você estuda? - foi inevitável não perguntar.

- Sim, estou estudando para o vestibular. - ela disse ao virar enquanto secava as mãos.

- Eu te atrapalhei. Desculpa.

- Não, eu estava fazendo uma pausa. Não tem problema!

- E, está prestando vestibular para qual curso?

- Direito!

Minha surpresa foi ainda maior.

- E, como está estudando? Está fazendo cursinho?

- Não. Como eu disse ontem, acabei de chegar do interior, não conheço nada ainda. Estou estudando pela internet.

- Bom, se quiser, tenho umas apostilas da época em que prestei vestibular também. Posso emprestar.

- Sério? - ela perguntou incrédula.

- Sim, hoje sou formado. Mas, também já fui concurseiro um dia.

- Nossa, isso vai me ajudar muito. O vestibular é mês que vem já e eu ainda estou um pouco perdida.

Me levantei.

- Venha. - falei.

Andamos até meu escritório e comecei a procurar por minhas antigas apostilas, fazia tanto tempo que eu não as via. Depois de alguns minutos de procurava finalmente as achei.

- Aqui está! - falei ao lhe entregar.

- Muito obrigada. - ela disse.

Apenas fiz que sim com a cabeça e Dafne saiu. Notei que em seus olhos havia um pouco mais de animação, e sim, me senti orgulhoso. Passei o dia inquieto. Eu queria conhecer um pouco mais a mulher com quem eu estava morando, mesmo que a distância. Cada vez mais Dafne me intrigava, eu sentia como se ela fosse algo bom que eu precisava conhecer, me aprofundar. E foi então que já no meio da noite algo intrigante aconteceu. Eu estava analisando alguns processos em meu escritório quando de repente e sem aviso prévio faltou energia. Tudo se apagou dentro de casa e em volta do prédio, o breu tomou conta do bairro. E então ouvi de longe um grito aflito. Era Dafne. Só podia ser ela.


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