Cinco

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Andando a passos decididos segui até o quarto de Dafne clareando o ambiente com a lanterna do meu celular. Logo pensei que talvez ela tivesse tropeçado em algo no chão por causa da escuridão e assim se assustado ou até mesmo tivesse se assustado por causa do escuro. Mas a cena que vi ao chegar em seu quarto me tirou completamente de qualquer expectativa. Aquela mulher alegre, confiante, leve havia se transformado em uma mulher triste, temerosa, e chorosa. Dafne estava sentada no chão ao lado de sua cama abraçada as suas pernas e chorando. Completamente fora de si.

- Dafne! O que aconteceu? - perguntei tentando entender o que havia acontecido ali.

Ela não respondeu. Continuou como estava.

- Dafne! - falei ao me aproximar.

Me abaixei até ficar na sua altura e clariei seu rosto. Seus olhos vermelhos cheios de lágrimas me fez perceber que ela estava frágil, muito frágil.

- Ei, você está bem?! Precisa de alguma coisa? - insisti olhando em seus olhos.

Dafne me encarou por breves instantes, seu olhar era tão profundo, tão penetrante que eu podia jurar que havia enxergado sua alma. Sem dizer palavra alguma roa simplesmente se desarmou. Me abraçou e chorou. Um abraço forte, cheio de sentimentos e demorado. Um choro sentido, sem nenhuma cerimônia e cheio de emoções. Aquele foi o primeiro abraço sincero que tive de uma mulher. Um abraço puro e sem segundas intenções. Um abraço verdadeiro vindo de uma mulher que só queria ser correspondida. E ela foi. Envolvi meus braços ao redor do corpo de Dafne e a abracei forte. Ela precisa de abrigo, e eu precisava me sentir útil. Foi uma troca, uma troca justa e sincera.

- Eu não quero ficar no escuro...  - ela disse sussurrando enquanto ainda estava envolvida em meus braços.
- Nunca mais! 

- Está tudo bem. Estou aqui! - garanti.

Eu não sabia o que estava acontecendo ou o que se passava em sua mente, eu só sabia que tinha que estar ali, exatamente onde eu estava.

E então a energia voltou e clareou tudo a nossa volta. Dafne foi se saindo de meus braços e imediatamente senti o vazio de sua falta.

- Me desculpe! - ela disse visivelmente constrangida.

- Não tem porque pedir desculpas. - tentei mostrar que aquilo era algo normal.

Nos levantamos.

- Eu, eu já estou bem. Obrigada! - Dafne parecia confusa, talvez ainda envergonhada.

- Quer conversar?

Ela fez que não com a cabeça.

A encarei por mais alguns instantes na esperança de que ela fosse dizer algo, mas nada foi dito. E então resolvi que era hoje de sair. Tudo já estava bem.

Não consegui me concentrar em mais nada. Voltei para meu escritório com a sensação de que algo não estava certo. Meu faro me dizia que havia algo de errado em tudo aquilo. Mas eu simplesmente não conseguia ligar os fatos.

- Pensei! Pensei! - falei para mim mesmo.

Meu cérebro havia travado. O que de fato tinha acontecido na vida daquela mulher para ela de uma hora para outra se transformar em uma criatura tão... Dependente. E então a razão dos meus questionamentos chegou. Dafne parou na porta do meu escritório e me encarou. Sentado na cadeira por trás da mesa nada falei. Esperava dela uma atitude, uma fala.

- Eu tive um relacionamento, tóxico! - ela disse por fim.
- No começo, era tudo bom. Bom demais para ser verdade. - seus lábios se abriram um pouco, num quase sorriso.
- Ele era tudo o que eu queria em um homem. E então, depois que fomos morar juntos... Ele se mostrou quem realmente era. Foi aos poucos, sutilmente... Quando eu fazia algo que ele não gostava, ele me punia. E, uma dessas punições...

- Foi o escuro! - completei.

Ela fez que sim.

- Me desculpe por... Pelo o que aconteceu.

- Você não tem que pedir desculpas por nada, Dafne. - falei ao me levantar e caminhar até ela.
- Você está segura agora. Aqui ninguém pode lhe machucar. - garanti.

Ela fez que sim.

- Se precisar de qualquer coisa, estou aqui.

- Obrigada!

Dafne me encarou de uma forma tão penetrante que então senti meu coração pulsar. E com ele, meu membro também pulsou. Tudo dentro de mim estava pulsando rápido demais. Não sei como, nem de que forma começou. Só sei que meus lábios foram ao encontro dos dela e os tocou, e ela deixou. Seu cheiro era tão gostoso, sua pele tão macia que desejei mais. Nossos lábios abriam e fechavam no mesmo compasso. E então sua língua pediu passagem e eu aceitei. Minhas mãos pegaram firmes sua cintura e como resposta suas mãos acariciavam meus cabelos. Aquele foi o único beijo em que sentido meu corpo arrepiar. Um arrepio de desejo.

Conforme a necessidade de respirar falava mais alto, fomos nos afastando.

- Me desculpa. Não sei o que deu em mim. - falei.

Ela sorrio.

Para minha surpresa Dafne sorrio.

- Obrigada! - ela disse.

A olhei confuso.

- Por que está me agradecendo?!

- Já fazia muito tempo que eu não era beijada. E, principalmente assim, com tanta vontade.

De certa forma ouvir aquilo fez acender dentro de mim o desejo de a fazer sentir muito mais coisas do que ela já havia sentido. E então me entreguei a vontade.

A puxei novamente para meus braços, a encarei. Ela me olhava com tanta vontade que era nítido em seus olhos.

- Uma mulher como você deveria ser beijada mais vezes.

E sim, eu a beijei novamente e com mais fervor.

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⏰ Última atualização: Jun 25 ⏰

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