Nova York | 27 de janeiro
A vida é incerta e certas pessoas têm medo de perder quem amam, mas e eu? Quem me faz tremer só de pensar em perder?
Nunca entendi o luto; sempre achei idiotice, mas quando você passa por um, acaba entendendo. Talvez eu não entendesse porque meu pai faz parecer idiota. Presenciei-o em três velórios e, em nenhum deles, sua expressão era de choro, raiva ou qualquer outro sentimento comum de luto. Mas, apesar disso, o último enterro fez com que ele nos obrigasse a mudar para Londres. Não entendo o porquê.
Estava fechando a última caixa com as coisas do meu quarto e, nesse processo, pensei que, se quando mudamos guardamos nossas coisas, imagina quando morremos? Tudo que vivemos vira memórias que vão ser esquecidas em no máximo cinco anos? E ainda assim, temos medo de viver?
Deixar esta casa será doloroso, especialmente meu quarto; ele me traz lembranças da minha falecida avó. Confesso que também tenho memórias ruins dele, como a vez em que caí da cama porque meu irmão me empurrou. Ele diz que foi sem querer e eu acredito; a sorte é que só machuquei o queixo, não foi nada grave. Peguei a caixa que havia acabado de fechar e olhei em volta. Tudo estava vazio, parecia que nunca morei aqui. Na verdade, parecia que ninguém nunca havia estado aqui. Que estranho. Eu estava parecendo uma criminosa limpando a cena do crime.
Desci as escadas; a casa é tão grande que tem três andares. Meu quarto ficava no último. Por esse motivo, quando criança, eu escorregava pelo corrimão da escada. As empregadas sempre me ameaçaram dizendo que contariam para meu pai, mas elas mentiam para eu parar. Nunca parei.
No hall de entrada, todos me esperavam enquanto os empregados e o motorista levavam as caixas e malas para os carros. Não queria dizer adeus à casa que garantiu a minha infância feliz, ou parte dela, mas era necessário.
Ainda preciso descobrir o real motivo para essa mudança. Já viajei cinco vezes para Londres, mas morar lá? Nunca nem cogitei essa ideia. Moro em Nova York há muito tempo e não planejava me mudar. Terei que deixar tudo para trás: amigos, escola, casa, sorveteria favorita, lembranças... Tudo.
Demorei para construir amizades, mas vou deixá-las tão rápido e sem saber o porquê. Se soubesse que mudaria, não teria passado os últimos cinco anos da minha vida em busca de amigos e de um namorado, em resumo, uma vida social "comum".
Bom, Londres, espero que não me decepcione. Odeio decepções, apesar de minha vida estar cheia delas.
[...]
O voo demorou umas seis horas; ainda bem que dormi a maior parte do tempo. Voos longos me dão enjoo; não sei como não vomitei. Assim que o avião pousou, olhei pela janela e vi que já era noite, provavelmente de madrugada. Meu pai tirou o cinto de segurança; ele odeia aviões, apesar de ter o seu próprio. As pessoas começaram a se levantar e sair; fizemos o mesmo.
No aeroporto, encontrei Amy, que veio correndo até Adam e pulou em seus braços. Ela é minha cunhada; antes disso, éramos melhores amigas, mas ela fez o favor de contar para a escola toda de quem eu gostava e pegou meu irmão. O problema não foi ter virado minha cunhada, mas sim ter me exposto. Meu rosto era cheio de espinhas e eu usava aparelho; acha que no oitavo ano alguém gosta de uma menina assim? Não, claro que não.
— Já estava com saudades — Amy diz, saindo do abraço apertado de Adam.
Ela morava em Nova York, obviamente, mas quando contamos que nos mudaríamos para Londres, Amy adorou, fez logo as malas e pegou o voo mais rápido, isso bem antes da gente. Ela tem uma vantagem por sua tia morar aqui. Espero fielmente que ela continue morando com sua tia Fernanda; odiaria ela sob o mesmo teto que eu por vinte e quatro horas.
— Não vai falar comigo, cunhadinha? — Amy debocha. Será tarde demais para voltar para Nova York sem ela? Seus braços envolveram meu corpo e me apertaram; não acredito que seja por afeto.
[...]
É claro que os funcionários do meu pai já prepararam a nossa nova casa. Esta é menor, mas, apesar do tamanho, parece vazia, mesmo transbordando de móveis de luxo e couro animal. A sala é a primeira coisa que você vê assim que entra; logo atrás vem a cozinha, tem dois banheiros no andar de baixo, a despensa ao lado da cozinha e depois a sala de jantar. Também tem uma sala de jogos e, dentro dessa sala, um pequeno banheiro. No segundo andar, temos o meu quarto, branco com umas paredes cinzas e decoração inteira em vermelho; gosto dessa cor. Depois vem o quarto dos meus pais, o de Adam e mais dois de hóspedes; cada quarto tem um banheiro, menos um de hóspedes. Para finalizar, temos uma sala de cinema.
Ainda assim, prefiro minha antiga casa. Além de maior, não parecia vazia e fria. Isso não mudava o fato de ela ser.
As empregadas vão ter trabalho para organizar tudo. Preciso ir ao shopping urgente, pois, infelizmente, metade do meu guarda-roupa ficou em Nova York, assim como minha essência.
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Oi meu lindos, bom quero deixar claro que o livro esta em reescrita, isso significa que estou organizando! Adoraria se comentasse sua opnião e votasse no capitulo.
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Eu tentei,amor.
RomanceHISTÓRIA EM REVISÃO!! -Sinopse: Crystal acaba de se mudar para Londres, o motivo é um tanto quanto instigante, o seu tio acaba de falecer em Nova York, mas não de um jeito tradicional. Sua família em busca de paz, acha Londres o lugar perfeito, uma...