Capítulo dois:

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Londres | 29 de janeiro

Hoje é segunda-feira e minhas férias acabaram. Sabe o que isso significa? Aula, ou seja, volta às aulas. Estou no último ano do ensino médio, ainda bem, pois não aguento mais estudar. Hoje é o terceiro dia que estou em Londres. Independentemente de ser uma cidade encantadora, a razão pela qual me mudei desta vez é triste: a morte da minha avó já faz nove anos, nove anos desde que ela faleceu em meus braços. Meu tio ameaçou meu pai, dizendo que não aguentava mais guardar o verdadeiro motivo da morte dela e que iria contar tudo o que fizeram. Ele não durou um mês após isso.

Diria que isso é trágico se realmente pensasse assim.

A polícia foi ao apartamento do meu tio logo depois que os vizinhos falaram que ele passou o dia inteiro em silêncio, porém em determinado momento do seu dia o apartamento estava com o som altíssimo de música, o problema é que ele odiava música alta, então os policiais decidiram chamá-lo para desligar a música, mas o meu tio Robert não respondia, eles entraram e viram meu tio em uma corda pendurado, tudo indicava para suicídio, sem impressões digitais, pegadas, ou até mesmo vestígios de que alguém o matou. Não tínhamos nada, mas conheço o pai que tenho, no dia do suposto suicídio ele saiu para ir ao shopping, ele odeia shoppings, acredito que essa saída aleatória foi o álibi para ele cometer o crime sem ser pego, já que a celebridade Zeyzo estava no shopping, só bastava ele tirar uma foto com ela e bingo, teria a testemunha de que estava no shopping no dia do acontecimento.

Tenho que confessar que ele foi bastante inteligente, mas sou mais.

Você deve se perguntar se esse grande luto foi a verdadeira razão para minha mudança para Londres, mas é claro que não. Sei o quão triste é suspeitar do próprio pai, mas já faz nove anos que não confio nele; na verdade, não o admiro desde então. Ele era a minha referência. Sempre quis alcançar o perfeito e ele estava nesse nível para mim, mas me enganei. Ele está bem longe da perfeição.

Apesar de sua inteligência, ele é meio burro.

O álibi do crime é o lugar que ele mais odeia; nunca gostou de ir ao shopping e nem conhece a tal Zeyzo. Se a polícia o tivesse interrogado, saberia que não havia motivo para ele tirar uma foto com ela. Além disso, eles poderiam comparar a hora da morte do meu tio com a hora em que meu pai saiu do shopping, já que a perícia sabe a hora exata — ou pelo menos um horário bem próximo. Eles nem chegaram a olhar a câmera de segurança. A câmera do apartamento de Robert estava desligada bem na hora. Coincidência?

Não havia sinais de arrombamento, então a pessoa que entrou era conhecida. Tudo aponta para meu pai; ele pode ter desligado a câmera enquanto meu tio foi ao banheiro ou algo assim. Mas, claro, não posso falar nada. Se falasse, passaria por uma louca com teorias bizarras. Por fim, não investigaram e deram o caso como suicídio.

Penso na minha avó. Será que, mesmo sabendo que os filhos a mataram, ela ficaria triste ao saber que ele faleceu? Dizem que o amor de mãe é incondicional, mas sabemos que tudo na vida tem um limite. Será esse o dela?

Meu pai, ao ver a situação, decidiu se mudar. Mas por que Londres? Bom, as pessoas dessa cidade o adoram; acham meu pai incrível. Logo, se fosse para investigá-lo, ele sabia que isso não aconteceria em Londres. Pelo menos não agora.

Dessa vez, não tenho certeza se ele realmente o matou, mas descobrirei.

Acordei às quatro da manhã. Odeio me atrasar. Já estava arrumada, meu cabelo já estava com os cachos finalizados, já tomei banho e escovei os dentes... fiz tudo, agora só falta comer.

Desci e fui até a cozinha. Lá, encontrei meu irmão e meu pai sentados à mesa. Estranhei, pois meu pai nunca toma café conosco. Minha mãe saiu da cozinha e se juntou a eles.

Eu tentei,amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora