Capítulo 7

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Malfoy

Quando chego em casa depois do dia todo na Briar, estou me arrastando. Não sei o que odeio mais — os fins de semana, quando trabalho na boate até duas ou três da manhã e depois tenho  que organizar pacotes e cartas das quatro às onze, ou os dias de semana, em que tenho aula de manhã e trabalho no correio de tarde, ou ainda quando começo o dia com um turno desumano no correio e depois vou para a aula. Hoje foi o segundo caso, então estou exausto ao deixar minha mochila no chão do corredor.

Mesmo que quisesse ver Potter de novo (e a maioria das partes do meu corpo é a favor disso), estou esgotado demais para fazer qualquer coisa além de ficar deitado de barriga para cima.

Mas... Talvez isso não fosse de todo ruim. Ele poderia me fazer uma massagem, me comer devagar, e eu ia só ficar deitado, aproveitando. 

Me dou um tapa imaginário. Potter e suas habilidades são a última coisa que devia estar na minha cabeça.

Na cozinha, vovó está mexendo uma panela no fogão, vestindo uma calça jeans apertada, uma camiseta de lycra que está perdendo a elasticidade e as sempre presentes pantufas cor-de-rosa atoalhadas.

- Que cheiro bom! -- digo a ela.

O molho de tomate no fogo enche a cozinha com o aroma mais celestial. Meu estômago ronca, e me lembro que não comi nada desde o bagel que engoli no café da manhã, antes do trabalho.

- Menino, você parece prestes a desmoronar. Senta aí. O jantar vai estar pronto num segundo.

 Ela não precisa falar duas vezes, mas quando noto a mesa vazia dou a volta e pego pratos e talheres. Pelo corredor, vejo o topo da cabeça de Tom, enquanto ele assiste à televisão. No mínimo está se tocando. Tremo ao tirar os pratos do armário.

- Vai querer Suco ou água? -- pergunto, arrumando a mesa.

- Água, querido. Estou me sentindo inchada. Sabia que Anne Hathaway tem intolerância a lactose? Ela não come lacticínio nenhum. Talvez você devesse cortar laticínios da dieta.

- Vó, isso significa nada de queijo nem sorvete. A menos que um médico me diga que vou morrer se comer laticínios, quero tudo que as vacas têm pra me oferecer.

- Só tô dizendo que pode ser por isso que você tá sempre cansado.- Ela aponta a colher na minha direção.

- Não, tenho certeza que é porque tenho dois empregos e tô fazendo período integral na faculdade - respondo, secamente.

- Se ele parar de comer laticínios, vai ficar menos rabugento? - pergunta Tom, entrando na cozinha. Está com a mesma calça de moletom de sempre. O tecido está tão desgastado na virilha que juro que dá para ver uma pele rosada de relance. Quase tenho ânsia e me viro, antes que a visão estrague meu apetite.

- Tom, não começa--, reclama minha avó.  

- Meu amor, pega o escorredor pra mim?- Meu padrasto me cutuca quando passo por ele. 

- Ela tá falando com você.

- Não brinca. Porque ela sabe que falar com você é a mesma coisa que falar com o sofá. O resultado é o mesmo.

Pouso o copo d'água ao lado do prato da minha avó e corro até a pia para pegar o escorredor. Vovó serve o molho numa tigela e me encarrego de cuidar do macarrão. 

Tom, por sua vez, se reclina contra a geladeira feito um sapo preguiçoso e nos observa correndo de um lado para o outro na cozinha.

Odeio esse homem com todo o meu coração. Desde o instante em que meu mama apareceu com ele em casa, quando eu tinha oito anos, sabia que Tom era sinônimo de problema. Falei isso para meu mama, mas ele nunca foi muito bom em ouvir o filho. Nem em ficar por perto, aliás. Mama fugiu com outro cafajeste quando eu tinha dezesseis anos, e nunca mais o vi. Ele liga algumas vezes por ano para "ver como estou", mas, até onde sei, não tem planos de voltar a Boston algum dia.

A Conquista - Adaptação/ MPREGOnde histórias criam vida. Descubra agora