Capítulo 5

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Que dia! Parece que estou num desenho animado do Papa-Léguas, correndo de um lugar para o outro sem uma chance de sentar nem de respirar. Bem, tecnicamente passo muito tempo sentado nas aulas do turno da manhã, mas isso não tem nada de relaxante, porque estamos nos preparando para os artigos de direito constitucional, que compõem a totalidade da minha nota, e fui estúpido o suficiente para escolher um dos temas mais difíceis — os diferentes padrões legais usados para examinara constitucionalidade das leis. 

Meu café da manhã consiste em um croissant de queijo, que devoro no caminho entre a aula de teoria política avançada e a de mídia e governo. Nem sequer consigo comer tudo, porque, na pressa, tropeço nos paralelepípedos que cortam o campus e acabo deixando o croissant cair na lama. 

Meu estômago ronca irritado durante a aula de mídia, e fica ainda mais alto e mais irritado quando encontro com minha orientadora para falar de coisa séria. Não tinha carta de aceitação nenhuma na minha caixa de correio hoje de manhã, mas tenho que acreditar que pelo menos consegui passar em um dos programas em que me inscrevi. E mesmo as escolas de segunda categoria vão custar muito caro, oque significa que preciso de uma bolsa de estudos. Se não entrar numa faculdade de direito no topo do ranking, não vou conseguir um emprego numa Big Law com um salário de Big Law, e isso significa uma dívida esmagadora, desmoralizante e infinita.

Depois da reunião, tenho uma monitoria de uma hora para a matéria de teoria dos jogos. É com o professor assistente, um cara magro com cabelo de Albert Einstein e o hábito irritante e pretensioso de incorporar palavras COMPLICADÍSSIMAS em todas as frases que profere. Sou uma pessoa inteligente, mas toda vez que chego perto desse cara fico conferindo escondida o dicionário do meu celular debaixo da mesa. Não tem razão nenhuma para uma pessoa usar "parcimonioso" quando pode simplesmente dizer "econômico", a menos que seja um babaca completo, claro. Mas Steve se acha. O boato que corre por aí, no entanto, é que ele ainda é assistente porque reprovou —duas vezes — na defesa da dissertação e não consegue arrumar uma vaga de professor adjunto em lugar nenhum. 

Terminada a reunião, guardo o laptop e o caderno na bolsa e corro para a porta. Estou com tanta fome que me sinto tonto. Por sorte, tem uma lojinha de sanduíches na portaria do prédio. Passo voando pela porta, mas paro num sobressalto quando um rosto familiar me cumprimenta. Meu coração dá um pulo tão alto que é embaraçoso. Passei o último dia e meio tentando não pensar nesse cara, e agora ele está de pé aqui, em carne e osso. Devoro-o com os olhos. Está com a jaqueta do time de hóquei de novo. O cabelo castanho parece desarrumado pelo vento e o rosto está corado, como se tivesse acabado de chegar do frio. A calça jeans desbotada envolve as pernas incrivelmente longas, e as mãos estão enganchadas de leve no alto dos bolsos.

- Potter-- exclamo.

Seus lábios se torcem num sorriso. 

- Draco

- O... o que você tá fazendo aqui? -- Ai, meu Deus. Estou gaguejando. Qual é o meu problema?

Alguém me empurra por trás. Afasto-me depressa da porta para deixar os outros alunos saírem. Não sei bem o que dizer, mas sei o que quero fazer. Quero me jogar nele, envolver os braços no seu pescoço, as pernas na sua cintura, e atacá-lo com a minha boca. Mas me contenho.

- Você tá ignorando minhas mensagens -- diz, sem rodeios.

Sinto a culpa pinicando na garganta. Não estou ignorando as mensagens — não recebi nenhuma. Porque bloqueei o número dele. Ainda assim, meu coração dá outra pirueta boba ao saber que ele me escreveu. De repente, sinto vontade de saber oque disse, mas não vou perguntar. Isso seria só procurar problemas. Por alguma razão estúpida, porém, me vejo confessando:

A Conquista - Adaptação/ MPREGOnde histórias criam vida. Descubra agora