Uma promessa foi quebrada.
O verdadeiro motivo nunca foi revelado.
Será que é possível recuperar o que se quebrou?
Não que seja a intenção de Anne, ela sabe que não deve tentar reparar os danos de suas escolhas.
Mas será que ela será capaz de manter...
Já faz quase uma semana desde que minha mãe me avisou sobre a suposta visita que estamos recebendo na Casa.
Ela não falou quem era e não permitiu que eu fosse até lá.
Nosso relacionamento está bem estranho, desde então.
Ela me trata como se eu tivesse culpa por algo.
Estou em meu escritório, depois de um dia longo, organizando meus materiais.
Percebo que meu estoque de antibióticos e de outros remédios está desfalcado.
Respiro fundo.
Minha mãe não é assim, mas ela está agindo com imprudência.
Vou até a cozinha e lá está ela, mais uma vez preparando comida para um batalhão.
– Mãe, precisamos conversar. - ela me olha nos olhos, sinto que ela quer me falar algo - mãe, quem é a pessoa que está na Casa? Por que a senhora tá dando tanta atenção pra ela?
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Ela respira fundo e se senta.
– Senta aqui, Yoon.
Eu obedeço e sento na sua frente.
– Você sabe que eu te amo, né? Que tudo o que faço é pensando em você.
– Sim, mãe.
– Eu nunca fiz nada pra te machucar.
– Sim, mãe, mas a senhora está estranha e só tem um motivo pra isso.
– Yoon, confia em mim. Não tem porque você se preocupar com o que está acontecendo.
– Como não, mãe? A senhora tem se matado de trabalhar pra cuidar de alguém que não sei quem é e, ainda por cima, tem sumido remédios do meu estoque particular. Eu só preciso que a senhora seja sincera comigo. Quem está lá na Casa?
– Você não sabe mesmo, Yoon? - ela se levanta e volta a preparar a comida.
– Eu quero ouvir da senhora. Porque eu não acredito que minha própria mãe está abrigando alguém que tanto me fez mal, ainda por cima, na casa que seria a nossa casa.
– Yoon, as coisas não são bem assim. - ela suspira - Mas se quer ouvir a verdade, sim, eu estou ajudando a Anne. Ela precisou e veio até mim e eu vou ajudá-la.
Não acredito no que ouço.
– Eu quero ela fora daqui.
– Não. Ela não vai. Ela precisa de ajuda.
– Eu não ligo, mãe. Ela que vá atrás da família dela, nós não somos isso pra ela.
Eu me levanto, tremendo de raiva.
– Yoon, ela precisa de ajuda.
– Eu não me importo.
– Não foi assim que eu te criei.
– Não, a senhora me criou pra ser bom e justo e o que a senhora está fazendo não é justo comigo. Quer ajudar ela? Ok, mas não peça que eu compreenda.
Eu saio batendo a porta com força.
Vejo a luz da Casa acesa.
Respiro fundo e vou até lá.
Quero ver com os meus próprios olhos a audácia que ela teve de voltar aqui.
Estou indo em direção à porta da frente, quando sinto meu braço ser puxado.
– Yoon, não faça isso.
– Me deixa, mãe. Eu mesmo vou colocar ela pra fora.
Minha mãe me olha com lágrimas se formando em seus olhos.
– Por favor, Yoon. Só esquece isso.
– Por que, mãe? Me dá um motivo.
– Porque eu sou sua mãe e tô pedindo, por favor, por mim, pelo o seu pai, esquece isso. Deixa ela em paz.
Minha mãe não costuma falar do meu pai.
Seja lá o que for que a Anne fez com ela, é algo grave.
Vejo minha mãe ficar pálida e suas pernas cederem.
Eu a pego no colo e a levo para casa.
– Mãe, mãe. Acorda! - aos poucos ela recobra a consciência - mãe, o que está acontecendo?
– Yoon, confia em mim.
– Tudo bem, mãe. A senhora não vai mudar de ideia, né?
– Não, ela precisa de ajuda.
– Ok. Vou deixar isso pra lá.
– Obrigada. - ela fala, querendo se levantar.
– O que está fazendo?
– Eu preciso ir até lá.
– Não, a senhora acabou de passar mal. Não vai se levantar.
– Ela precisa de mim, Yoon.
Eu respiro fundo.
– Que tipo de ajuda? - ela olha em direção à maleta - ela está ferida?
– Sim. Eu estou cuidando dela.
– Tudo bem. Eu vou até lá.
– Não, Yoon, deixa isso comigo.
– Não mãe, eu vou. Foi assim que a senhora me criou.
– Ela não vai deixar você ajudar.
– Ela não tem escolha, se não quiser, que vá procurar ajuda em outro lugar. E a senhora, por favor, fique aqui.
– Não a trate mal, Yoongi.
– Eu sou profissional, mamãe.
– Tudo bem, ah, não bata na porta, apenas entre.
– Por que?
– Porque é assim que eu faço.
– Tudo bem.
Saio, deixando-a deitada no sofá.
Pego a sua maleta, abro e vejo meus suprimentos roubados.
Também vejo uma sacola com a comida que minha mãe levaria pra ela.
– Que droga!
Pego tudo, a maleta, os remédio e a comida e vou em direção à Casa.
Prometi à minha mãe não tratá-la mal, mas não sou obrigado a tratá-la bem, nem a me importar com o que ela esteja passando.
Chego na porta, respiro fundo e abro.
Está tudo em silêncio.
A luz na mesinha ao lado do sofá está acesa.
Me aproximo e a vejo.
Deitada, suando e tremendo.
Parece que ela está dormindo.
Coloco a comida sobre a mesa e a maleta ao lado do sofá.
