Prólogo - Charles

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26 de maio de 2021

Somos obrigados a passar por alguns eventos em nossa vida, não entendemos o motivo e logo de cara não enxergamos o aprendizado a ser obtido, mas é só dar um passo para trás, e observar como um todo. O horizonte é maior se olharmos à distância. Algumas pessoas que tentei esquecer fazem parte de um passado onde demorei para entender que eu não tinha amigos, apenas era útil e viável manter por perto. Annie foi uma delas. Ela é um pedaço da minha vida que eu havia enterrado, mas infelizmente através do meu trabalho, terei de enfrentar esse fantasma do passado após sete anos desde aquele detestável 26 de maio.

Tinha que ser justo hoje?

Sabe aqueles dias onde tudo dá errado e você pensa: por quê eu saí da cama? Então, esse é O dia. Queria ter ficado em casa fingindo não existir, mas como preciso trabalhar, estou a caminho do escritório. Isso depois do meu celular não despertar, perder o único horário de metrô que possibilita a minha chegada a tempo e ainda esquecer o guarda-chuva. Eu morei a vida toda em Londres, sei que chove o tempo todo em maio, mas esqueci o meu companheiro mais fiel. Estou atrasado e molhado para chegar ao escritório jurídico onde faço meu estágio.

Como vou achar essa garota? pensei o trajeto todo, até que alguém, para melhorar meu dia, derrama chá quente em mim.

— Caralhoo, não olha para onde anda? — Assim que olho para o rosto da pessoa, sinto que esse oficialmente não é o meu dia, pois foi um misto de sorte e azar.

— Sinto muito, não vi você .... Oh! Charles? Quanto tempo! Desculpe pelo chá — falou ao mostrar um sorriso forçado, segurando um guarda-chuva marrom e um copo que antes estava cheio. Era ela, justo quem eu precisava encontrar, mas não queria.

— Está tudo bem. — Minhas palavras foram boas, mas meu tom não. Eu já estava irritado.

Eu não podia lidar com isso. Não hoje.

— Ei, não foi minha intenção! — Annie diz com uma expressão de desgosto.

— Como? Esquece, isso é o de menos. Foi bom encontrar você, estava a me perguntar agora mesmo como e onde eu iria te encontrar. Precisamos conversar sobre...

— Nossa! Parece mesmo que estava desesperado, mas não precisava se jogar em meu chá. Fico feliz que finalmente criou coragem para pedir desculpas — ela diz em toda a sua marcante humildade cativante, relembrando sobre o desgosto dia 26 de maio de 2014.

Ah, se ela tivesse deixado eu terminar de falar, não estaríamos nessa situação constrangedora. Mas sempre foi assim. Desde a escola sua arrogância não a deixava dar ouvidos a ninguém. Que garota irritante!

— O que? Não vim pedir desculpas, sou eu que estou encharcado e possivelmente queimado de chá, mas realmente preciso de sua ajuda. Leia esse documento, preciso que você compreenda que quero somente seu bem.

— Não tem a decência de me pedir desculpas, e ainda precisa de mim, por favor, você ainda é um completo idiota, não vou perder meu tempo, estou atrasada, — Annie simplesmente virou as costas e saiu às pressas, mas teve a decência de ao menos pegar o documento, embora eu sinta que ela nao irá ler de maneira alguma.

Fiquei tão furioso com a situação que a deixei ir, sinceramente acho que ela nunca vai crescer, e saber que preciso dela me deixa com mais raiva.   

   

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