Annie não conseguia pregar os olhos, sua mente viajava aos momentos que ela e Charles compartilharam: as aulas, risadas, chás e pequenos instantes que passavam despercebidos, agora geravam dúvidas sobre a natureza daquela relação. Seria apenas uma amizade inocente? As incertezas, antes inexistentes, envenenavam sua mente, alimentadas pelas palavras de Evelyn. O comentário dela sobre o garoto a fez perceber o óbvio: o interesse existe. Pequenas situações, como deixar ela escolher a roupa que ele usava para agradá-la, até mesmo o quase beijo, deixaram um gosto amargo. Finalmente, Annie teve de encarar a verdade que evitava: seus sentimentos iam além da amizade.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, o rapaz se revirava em seus lençóis, pensando em como seria a reação dela, se ela já sabia e como ele iria agir com toda essa situação. Nunca falou que gostava de alguém, muito menos que amava. Não era possível que em pouco tempo assim ele amasse Annie, mas estava ciente de que sentia coisas estranhas quando os dois estavam perto, e que esperava ansiosamente pelos horários que iriam se ver. A menina que no começo ele odiava, com o jeito mesquinho e nariz empinado, agora mexia com o seu coração de uma forma diferente, bonita e que o deixava com medo, pois esses sentimentos eram novos e inexplorados.
A monitoria estava chegando ao fim, e Charles sabia que as oportunidades para expressar seus sentimentos seriam escassas. Evelyn, sempre grudada em Annie como um ímã, não permitia conversas a sós entre os dois. Ele sentia a necessidade de abordar o que estava acontecendo, mas a incerteza sobre se a garota estar ciente de seus sentimentos já o havia machucado profundamente. Optando sempre pela verdade, decidiu que a conversa não poderia esperar além do próximo dia.
Na manhã seguinte, em realidades distintas, ambos se prepararam e dirigiram-se à escola. Um chegou em um carro importado, enquanto o outro enfrentou uma jornada de ônibus, metrô e, por fim, a pé. Por ironia do destino, encontraram-se no portão da escola, atrasados, sozinhos. Seus olhares se cruzaram, e ambos ficaram sem saber como agir.
— Bom dia Annie. — sorriu sem jeito.
— Olá Char, tá tudo bem? — ela percebeu nesse momento que ele não usou seu apelido, algo que já era comum.
— Eu acho que precisamos conversar — Annie se apressa e toma frente. — É... me pintou uma dúvida ontem. Você gosta realmente de bolinho?
Ele só a encarava, com um olhar perdido e sem falar nada. Uma pausa longa após uma pergunta tão simples de ser respondida. Ela quebrou o silêncio. — E de chá? Porque a última vez que fomos lá, você fez uma cara de que não gostava.
— O quê? De onde você tirou isso? Que pergunta idiota! Claro que eu gosto. Só não é minha sobremesa favorita... E sei que você fica mais confortável em suas suas aulas quando vamos até lá.
— Ouvi boatos ruins nos últimos dias... Sobre você gostar de mim, de um jeito diferente, e que até a ida à casa de chás era com segundas intenções. Eu gosto da nossa amizade. Você é a pessoa que eu precisava e estava ali por mim. — Annie fala em tom baixo — Não crie sentimentos. Somos de realidades diferentes e não faria sentido algum estarmos juntos.
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Tower Bridge - Rainy Days
RomanceCharles é centrado e organizado. Ele valoriza a lógica, a ordem e a eficiência. Sua vida gira em torno do trabalho e das responsabilidades. No entanto, também busca conexões humanas genuínas, mesmo que isso o leve a sair de sua zona de conforto forç...