Tango Mentiroso

118 24 21
                                    


Sabe aquela pequena luz?
Não a vejo nem no breu mais escuro.

Eu pedi ao garçom
que traga um punhado de mim,
servido como prato principal,
que divida da minha pele,
vista-me de mim mesmo e diga-me
se estou atraente.

Tudo que vinha na minha frente, está sumindo.
Eu não sei onde pisar e se devo pisar.

O tango que tocava era tão mentiroso.
Eu tampei os ouvidos para poder escutar o silêncio,
que idiota eu fui ao pensar
que por dentro faria algum silêncio.

Vá se fuder!

Nos tetos espelhados daquele antigo restaurante,
me vendo assim, de cabeça para baixo,
de frente e verso,
esperando você me dizer
quanto custou esse vinho seco que eu nem bebi.

Pare de apontar!

A vitrola suja arranha nos solos de saxofone,
dando ginge nos clientes, que disfarçam o incômodo com sorrisos,
e eu só me perguntando:

Por que dói tanto tentar pensar em mim?

Um Diálogo Com A Culpa Onde histórias criam vida. Descubra agora