Capítulo 1

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O voo tinha-me estafado.  Voos de Londres para Lisboa estafam-me sempre. Felizmente, este era o último, era o meu regresso definitivo. Estava em Lisboa e, em pouco tempo, estaria com a Maria e o João, em Tavira. Ia estar de regresso a casa. 

O aeroporto transborda de gente à procura de amigos e familiares. Eu só queria encontrar a Leonor... preciso de boleia para o sul, urgentemente!

- CAROLINA, AQUI!

- NÔ!

Corri e abracei-a e em poucos minutos já estávamos a segui para o Algarve. 

- Como foi o voo?

- Angustiante.

- A faculdade?

- Matadora. 

- És pessimista. 

- Leonor, o voo atrasou SEIS HORAS, apanhámos turbulência, eu só quero descansar. 

- Dorme bem, miúda. 

Quando acordei, já estava na minha cama. Quem me trouxera para dentro. 

- JOÃO? MARIA? NÔ? QUEM É QUE ME TRANCOU NO QUARTO? VOU ESPANCAR-VOS!

- MANA, CALMA! 

Assim que o João abriu a porta, abracei-o mesmo com a vontade que tinha de lhe dar um soco. 

- Quem me trouxe para aqui? Quem me trancou? É bom que respondas meu menino, senão... 

- Tens mesmo mau feitio. Tens a certeza que não queres dormir mais? 

Fiz-lhe a cara de raiva que me caracteriza habitualmente e ele cedeu. 

- Fui eu que tranquei a porta. Queres saber porquê? Porque o teu melhor amigo louco queria acordar-te. 

- O INÁCIO ESTÁ CÁ? 

- Sim, ele ligou-te. 

Corri o mais depressa que pude para a sala e dei com o Inácio e o António no sofá com a Maria e a Leonor. 

- Olá, olá!

- CAROL!

O Inácio deu o maior salto com a Maria atrás e eu abracei-o com força. 

- O que fazes aqui seu lagarto? 

- Não posso vir ver-te? És a minha melhor amiga. 

- Está bem, lagartinho, está bem. 

O Inácio é o meu melhor amigo. Desde bem miúdos, antes de ele entrar no sporting. Crescida numa família de benfiquistas era complicado não passarmos a vida a mandar picardias um ao outro, mas, mesmo com as nossas diferenças, entendíamo-nos bastante bem.

- O que é isso a cumprimentares esse lagartito antes da tua irmã? Muito baixo, Carol, muito baixo. 

Só para a irritar, abracei-me ao Gonçalo. 

- Inácio, estás a ouvir alguém? É que eu não... 

Devia ser de família, porque a Maria fez-me aquela cara que eu tinha feito ao João minutos antes. Abracei-a, se fosse como eu em poucos segundos o tadinho do Inácio já tinha levado um murro.

Por fim, cumprimentei o António com dois beijos na face e agarrei no pacote de bolachas em cima da mesa. 

- Não há mais comida nesta casa?

- Sem ofensa primita, mas pareces um bebé, come e dorme. 

- Nô! 

- Mana, é verdade. 

- Inácio, manda-os todos embora, são todos maus. 

- Ponto um, a casa nem é minha. Ponto dois, eu concordo, agora estás a fazer birra.

Comi um bom lanche enquanto metia a conversa em dia. 

- Então a minha irmã precisa de arranjar um estágio de medicina... 

- Com urgência. Quanto mais depressa melhor. Já tenho currículo feito e tudo.

Alguém tocou à campainha. 

- Talvez o Inácio nos tenha atualizado e os teus queridos irmãos te tenham preparado uma surpresita.

Que medo. 

- Neves! Como estás, puto? Olha os outros putos! Isto é a reunião da juventude portuguesa? Bem que parece! 

Os rapazes levantaram-se e cumprimentaram o desconhecido. Só quando entrou é que me caiu a ficha. Eu tinha o Bruno Fernandes à minha frente. 

- João Pedro, o que é que o Bruno faz aqui? Sem ofensa, és muito bem vindo.

- Ouve a proposta que aqui o Bruno arranjou... é melhor sentares-te. 

Sentei-me e todos sorriam para mim. O que se passava?

- Eu vou direto ao assunto. A seleção está à procura de médicos para levar ao europeu.

- O QUÊ? 

Gritei de surpresa. Não estava à espera daquilo. 

- Ainda não acabou... 

- Eu, Bruno, tomei a iniciativa de enviar o teu currículo, que o Gonçalo amigavelmente roubou... 

- INÁCIO NUNCA MAIS TE DOU A PASS DO MEU E-MAIL APOSTO QUE ESTIVE LÁ, LAGARTINHO!

- Ouve até ao fim , ainda me vais agradecer.

- O selecionador nacional, o Roberto, viu o teu currículo e digamos que... bem, és a mais recente médica oficial da seleção principal de Portugal. 

AI MEU DEUS. Explodi por dentro. Por fora. Por todos os lados. E chorei, chorei muito. 

- Oeiras amanhã às 15h. Façam atenção à hora de saída daqui, o selecionador não tolera atrasos. 

Depois de um pocado o Bruno foi embora e o que é que eu fiz? Chorei ainda mais. A tarde inteira, pois não cabia em mim. Quem imaginaria isto? EU VOU PARA A ALEMANHA!

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Olá, olá leitorass!! 

Espero que estejam a gostar! Se não gostaram tanto de algo ou encontraram algum erro, digam-me pfv! 

Nota: Queridas amigas benfiquistas, não vale reclamar do Inácio, isso não se põe em questão... 

Kissess

Dentro (ou fora) das quatro linhasOnde histórias criam vida. Descubra agora