Capítulo 21

75 6 10
                                    

O dia amanhecera solarengo, sem quaisquer nuvens no céu.

Tínhamos de sair de Marienfeld por  volta das onze, parar para almoçar pelo caminho e chegar pelas cinco ao Estádio Olímpico de Berlim. 

Depois de um último treino, foram-se todos preparar para seguirmos viagem. O edifício estava silencioso, ninguém se mostrava demasiado feliz ou se ouviam risos. O ambiente alegre habitual havia desvanecido, tudo devido ao nervosismo. Todos estão contentíssimos por irmos jogar a final, contra a Inglaterra, temos a hipótese de ser campeões europeus, é completamente de loucos... Há pessoas a acreditar nesta equipa. Há miúdos a fazer pinturas das cores da nossa bandeira, os fundos dos telemóveis têm os nossos jogadores, as bandeiras estão nas janelas e varandas. A nossa equipa tem uma qualidade imensa, ótimos jogadores, de ligas do mundo inteiro. Há mesmo uma oportunidade... e todos têm medo de a perder.

A minha linha de pensamento foi cortada pela voz da Kika:

- Carol, viste o carregador do meu telemóvel?

- Aqui na ficha não está. No quarto do Inácio, não?

- Acho que está lá... podes ir buscar, por favor?

- Claro, venho já. 

Desci para o piso de baixo e bati à porta do quarto do Inácio e do Matheus. 

- A ir! 

O Gonçalo abriu a porta e entrei. 

- O carregador da Francisca está por aqui? Ela não sabe dele.

Ele agarrou no cabo e deu-me. 

- Obrigada. Como é que estás?

- Se eu soubesse explicar isso... é tudo à mistura. 

- Ansiedade?

- É bem possível. 

- Vai correr bem. 

- E se corre mal?

- E se corre bem? 

Ele riu-se levemente ao recordar de onde conhecia aquela frase. 

- Dizes à Kika para cá vir a seguir? 

- Digo. Precisas dela, não é?

- Se preciso... acho que devias ver o Félix, depois.

- És capaz de ter razão...

Suspirei. 

- Eu beijei-o antes de ele bater aquele penalti contra a França. Acho que ajudou os dois nesse momento. Não sei, foi como, sei lá... 

- Acho que devias ir ter com ele, tu também estás a precisar. Sabes, o Vitinha diz que leu um estudo qualquer, num site todo manhoso, que dizia que estar com a pessoa que ama-mos liberta uma hormona qualquer que é boa, ou o raio.

- Ocitocina, queres dizer. O site não era manhoso, isso é verdade.

- Esqueço-me sempre que sabes estas cenas médicas todas.

- Bem, vou andando... tenho de dar isto à Dona Chica e ainda ir falar com o treinador por causa do Vitinha. Ele vai ficar mesmo feliz quando lhe dissermos que pode jogar.

- Se vai.

Saí, entreguei o carregador à Francisca e fui ter com o treinador. Ele chamara o Vitinha para lhe dar-mos as boas novas.

- Treinador, Carolina, se for para dizer que eu não posso jogar, eu compreendo...

- Pelo contrário, Vítor. Como profissional de saúde digo que estás apto para jogar.

Dentro (ou fora) das quatro linhasOnde histórias criam vida. Descubra agora