O dia amanhecera solarengo, sem quaisquer nuvens no céu.
Tínhamos de sair de Marienfeld por volta das onze, parar para almoçar pelo caminho e chegar pelas cinco ao Estádio Olímpico de Berlim.
Depois de um último treino, foram-se todos preparar para seguirmos viagem. O edifício estava silencioso, ninguém se mostrava demasiado feliz ou se ouviam risos. O ambiente alegre habitual havia desvanecido, tudo devido ao nervosismo. Todos estão contentíssimos por irmos jogar a final, contra a Inglaterra, temos a hipótese de ser campeões europeus, é completamente de loucos... Há pessoas a acreditar nesta equipa. Há miúdos a fazer pinturas das cores da nossa bandeira, os fundos dos telemóveis têm os nossos jogadores, as bandeiras estão nas janelas e varandas. A nossa equipa tem uma qualidade imensa, ótimos jogadores, de ligas do mundo inteiro. Há mesmo uma oportunidade... e todos têm medo de a perder.
A minha linha de pensamento foi cortada pela voz da Kika:
- Carol, viste o carregador do meu telemóvel?
- Aqui na ficha não está. No quarto do Inácio, não?
- Acho que está lá... podes ir buscar, por favor?
- Claro, venho já.
Desci para o piso de baixo e bati à porta do quarto do Inácio e do Matheus.
- A ir!
O Gonçalo abriu a porta e entrei.
- O carregador da Francisca está por aqui? Ela não sabe dele.
Ele agarrou no cabo e deu-me.
- Obrigada. Como é que estás?
- Se eu soubesse explicar isso... é tudo à mistura.
- Ansiedade?
- É bem possível.
- Vai correr bem.
- E se corre mal?
- E se corre bem?
Ele riu-se levemente ao recordar de onde conhecia aquela frase.
- Dizes à Kika para cá vir a seguir?
- Digo. Precisas dela, não é?
- Se preciso... acho que devias ver o Félix, depois.
- És capaz de ter razão...
Suspirei.
- Eu beijei-o antes de ele bater aquele penalti contra a França. Acho que ajudou os dois nesse momento. Não sei, foi como, sei lá...
- Acho que devias ir ter com ele, tu também estás a precisar. Sabes, o Vitinha diz que leu um estudo qualquer, num site todo manhoso, que dizia que estar com a pessoa que ama-mos liberta uma hormona qualquer que é boa, ou o raio.
- Ocitocina, queres dizer. O site não era manhoso, isso é verdade.
- Esqueço-me sempre que sabes estas cenas médicas todas.
- Bem, vou andando... tenho de dar isto à Dona Chica e ainda ir falar com o treinador por causa do Vitinha. Ele vai ficar mesmo feliz quando lhe dissermos que pode jogar.
- Se vai.
Saí, entreguei o carregador à Francisca e fui ter com o treinador. Ele chamara o Vitinha para lhe dar-mos as boas novas.
- Treinador, Carolina, se for para dizer que eu não posso jogar, eu compreendo...
- Pelo contrário, Vítor. Como profissional de saúde digo que estás apto para jogar.
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Dentro (ou fora) das quatro linhas
FanficCarolina Letícia Gonçalves Neves é a irmã mais velha do conhecido jogador do Benfica, João Neves. Depois de cinco anos a estudar medicina em Oxford, Londres, Carolina regressa a Portugal, para junto da sua família e amigos. Mal sabia a nossa querid...