Capítulo 9

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Acho que nunca corri tanto na vida.

- FRANCISCA! - gritei.

- Meu Deus, é preciso o desfribilhador?

- Não, credo. Vê isto.

Passei-lhe o telemóvel para a mão, com as minhas conversas com o Félix abertas.

- Tu gritaste que nem uma louca e vieste a correr até aqui por isto? É preocupante, mas não é para tanto!

- Bem, parece estúpido, mas sim.

Olhei-a nos olhos e ela só se ria.

- Vamos ter com o Neves e com o Inácio, eles têm de ver isso.

- Tu queres é ir ter com o Gonçalo.

- Mentira.

- Verdade.

- Ok, é verdade. Vamos.

Ri-me e tive de me desviar para não levar um soco amigável. Disse aos rapazes para irem ter ao meu quarto e fomos indo também para lá.

- Então, para quê tanta urgência?

Sentei-me na minha cama com a Kika e os rapazes ocuparam o sofá.

- Vejam isto.

Passei-lhes o telemóvel para as mãos.

" @joaofelix79: Campo de treinos, 02h15 ".

- Campo de treinos às 02h15? É para ires ter com ele, só pode.

- Também me parece isso. Vais, mana?

- Não sei.

No fundo, no fundo, eu sabia. Sabia que chorara horrores por ele não me falar. Sabia que me faltavam as parvoíces dele. Sabia que queria que alguém me chamasse de "Lina". Sabia e sei muito bem que tenho saudades dele. Muitas saudades dele.

- Então quem é que sabe, Carolina? O Papa, queres ver!

- Por favor, Inácio.

A Kika matou-se a rir e aqueles olhares não enganam ninguém. Até a pessoa mais burra à face da Terra percebe que eles estão a surfar a mesma onda. Acho que eles próprios são os únicos que ainda não perceberam.

- Carol, só tu é que sabes se queres ir ou não.

- Mas... há prós e contras! Eu quero estar com ele, sinto qualquer coisa por ele, não sei o quê, mas é diferente... mas eu não quero acelarar isto. Quero ir com calma e tenho medo que ele não perceba isto e se afaste, como está a acontecer.

- Carol...

Comecei a derramar lágrimas. Sentia braços reconfortantes à minha volta, mas neste momento eu precisava dos braços >>dele<<. De mais ninguém.

- Veste um casaco e vai lá, Carolina. Nós ficamos aqui, qualquer coisa ligas para nós que vamos logo ter contigo.

- Obrigada, mano.

- Posso ligar à Maria?

- Amanhã de manhã, ela tem de dormir, coitada.

O João fez beicinho e eu ri-me. Este rapaz consegue sempre o que quer.

- Que horas são?

- 02h05.

- Vai andando, nós ficamos aqui à tua espera.

- Vão dormir, precisam de descansar.

- Não te preocupes. Nós esperamos por ti. Vai lá.

Sorri e saí porta fora. Tinha os nervos à flor da pele, sentia arrepios e estava frio na rua. Segui até ao campo de treinos e vi o Félix ao de longe. Estava a fazer remates à baliza, de várias distâncias, uns diretos, outros com cruzamento. Uns ao poste, outros à barra. Sentia-me como se fosse rebentar. Não sabia o que iria acontecer e eu estava um misto de emoções. Sentia palpitações no peito, as pernas tremer e cada passo parecia acelarar o meu batimento cardíaco.

Dentro (ou fora) das quatro linhasOnde histórias criam vida. Descubra agora