Lágrimas de Pai (Parte 3)

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A gravidade já o puxava para baixo novamente, arrancando a pena e enfiando-a na boca do bastardo mucoso, o soldado velho soltou a faca e a pena, seu rosto esfregou toda a segmentação da criatura.

Ele fez um movimento preciso para cair de pé, todo seu corpo tremeu com a queda.

O verme se contorceu e virou na direção do cheiro do sangue do Gavial; ele não tinha olhos e mal sabia o que o atingira.

Deixando escapar fios de sangue entre os dentes cerrados, num sorriso doloroso e pálido, o homem puxou a espada da bainha que antes estava nas costas, agora rasgada e presa apenas pela alça da cinta na cintura.

O verme virou e desceu repentinamente em sua direção, a boca abrindo quase o suficiente para engolir o velho de uma vez, e avançou para frente.

Um calafrio repentino assustou o homem. Suas pernas dobraram instintivamente para dar uma cambalhota, mas os ferimentos o impediram. A dor aguda fez seus joelhos cederem, e ele caiu no chão.

A boca enorme do Verme salivava um líquido leitoso, os dentes brilhavam como se adiantassem o sabor da carne da presa, mas eles nunca sentiram o gosto do homem.

Um vento forte soprou, e um vulto marrom-avermelhado voou no ar, entrando na boca do bastardo com um impacto nauseante.

Sob os olhos arregalados do soldado, o verme dobrou-se para trás e convulsionou, se debatendo.

O tempo foi curto, mas suficiente para o velho se afastar da criatura.

O calafrio repentino se transformou em arrepio. Na sua frente, com a cabeça lançada dentro da boca do verme, havia um lagarto Chorão que comia avidamente o verme por dentro.

Suas patas dianteiras mantinham a boca do Verme aberta, e as patas traseiras estavam cravadas na carne pomposa da criatura asquerosa, que se torcia e convulsionava.

Gemendo silenciosamente, o homem se levantou e caminhou febrilmente em direção ao cadáver do Gavial caído. Seus sentidos falhando.

O som de carne sendo rasgada ecoava logo atrás dele.

Enquanto segurava a lateral do quadril, carregando a espada na mão direita, ele deu mais alguns passos e ajoelhou-se pesadamente próximo do cadáver sem cabeça.

Ali, no meio das asas do pássaro, havia um soldado jovem de pele clara. Suas roupas em tons vermelhos e marrons, outrora tão bonitas, estavam agora marcadas por cortes profundos. Seu cabelo longo, preto e brilhoso, e suas feições sem rugas eram requintadas.

Um olhar triste assaltou a expressão do homem grisalho. Algumas lágrimas começaram a descer de seus olhos pretos, lavando o sangue de suas bochechas brancas. Ele abriu a boca para dizer:

"Filho, eu estou aqui, levanta."

Mas nenhuma palavra saiu de sua boca. Um ataque de tosse o impediu de falar, fazendo-o sufocar no próprio sangue.

"Pai..., um chorão invadiu a casa...e tivemos que sair... A Eloisa...levada"

O velho olhou para seu filho, que sussurrava de olhos fechados. Os seus próprios estavam pesados, seus lábios cerrados tremiam em um choro silencioso.

Ele sentiu um caroço na garganta, um aperto no coração.

'se fosse um sonho...por favor, que seja tudo apenas um pesadelo'

Nenhum dos ferimentos que ele tinha, doía tanto quanto as últimas palavras que tinha ouvido.

Ele ainda podia ver a boca do jovem se movendo, mas seus ouvidos já não ouviam mais.

O homem apoiou a perna e se levantou para se aproximar do jovem.

Ele teria feito isso, se sua perna não tivesse cedido. Caindo tronchamente para frente, ele ficou cara a cara com seu filho.

'suas sobrancelhas sempre se pareceram com as da sua mãe... suas bochechas rosadas... papai pegava no seu pé, mas não era por maldade, você sempre foi meu bom garoto'

Ele teria dito em voz alta, se pudesse.

Os olhos do homem, lentamente perderam o brilho.

Caído sobre as asas de um Gavial sem cabeça, o soldado Filiésteu de 58 anos sucumbiu.

Momentos depois, toda a gigantesca árvore gemeu uma última vez e começou a inclinar-se, tombando para o lado e Junto com ela, toda a cidade.

A árvore cedeu aos vários túneis cavados pelos milhões de Vermes de Madeira. Sua queda parecia lenta, vista de longe, mas isso era apenas uma ilusão, causado pelo tamanho fenomenal da árvore.

Minutos depois, toda a glamourosa folhagem verde vívida e a cidade talhada na madeira desapareceram, engolidos pelo abismo nebuloso abaixo.

Essa foi A queda da cidade de Marion.

Descrição do mundo no próximo capítulos e então, a história de Liael, o protagonista!


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