Capítulo 1.

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Aos prantos, Anna, minha irmã mais velha, me abraçou como se fosse a última vez. Eu embarcaria para a Coreia do Sul dentro de 15 minutos, para seguir com a minha vida, para finalmente trabalhar com o que amo, mesmo que para isso precisasse deixar todo o luto, amigos e a única parte de minha família para trás.

_ Voa, minha ave – Disse ela ao me abraçar, com os olhos marejados, como nunca vi antes na vida.

Anna tinha 30 anos, 5 anos mais velha do que eu. Formada em engenharia, bem sucedida, tinha sua própria empresa. Fria e calculista. Meu total oposto.

Ao me soltar de seu abraço percebi que em muito tempo não poderei senti-lo novamente. E então a abracei novamente, sentindo o seu cheiro de ervas doces e o leve toque de seus cabelos ondulados em minhas mãos.

_ Até, meu amor – finalmente consegui dizer após engolir o choro inúmeras vezes, me libertando enfim de seu aconchego.

Meu nome? Adália Greco. Sou formada em Odontologia por uma das melhores universidades brasileiras. Meus pais faleceram logo após minha formatura e então, eu não via sentido algum em continuar no país. Eu precisava superar meu luto, minhas angústias, meus medos, para então poder seguir com minha vida, mesmo que para isso eu precisasse passar horas em um avião. Meu grande sonho sempre foi fazer parte da Polícia Científica. Um choque de realidade? No Brasil, é quase impossível. E então me arrisquei, procurei, trabalhei fortemente e fui aceita em uma academia de polícia em Seul, Coreia do Sul, para enfim poder trabalhar com aquilo que sempre quis.

O avião era confortável, a viagem corria bem, quando pude enfim abrir as janelas e apreciar a vista noturna com luzes radiantes vindas da cidade – sabe-se Deus qual – a qual estávamos sobrevoando. Era impossível não pensar sobre minha antiga vida, sobre tudo o que precisei abdicar para ficar bem, sobre a saudade de Anna e sobre a solidão de não ter meus pais me apoiando em minhas decisões.

Minha mãe provavelmente me apoiaria e tentaria embarcar comigo. Sorrio com a possibilidade, ela era calma e amiga mas eu era a garotinha do papai, mesmo que eu fugisse de casa para ir a festas, matasse aulas, namorasse escondido, ele me perdoava. Então, papai, me perdoe por precisar ir tão longe para conseguir seguir com minha vida.

Minha ansiedade ia e vinha com muitas perguntas e muitas respostas.

E se eu me confundir com o idioma e acabar xingando alguém? Eu vou ser policial, poderei ser presa por isso? Será que terei um novo namorado? Acho meio improvável. E amigos? Os coreanos são fechados, acho improvável também.

Quando me dei conta, minha respiração estava ofegante e meu pescoço queimava. Eu precisava dormir. Abri minha necessaire que estava em minha bagagem de mão, pedindo mil vezes perdão a passageira do lado por ter que acordá-la, pegando meu remédio para ansiedade e enfim tomando-o. Ao sentir seu efeito sobre meu corpo, pude enfim relaxar, com um último pensamento em minha cabeça antes de adormecer: Há de ser uma nova fase, tem de ser. 

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