Seu Nome Escrito em Mim

Capítulo 04 - Saturno vermelho

- Com o que você lavou?

- Água com sal. Não precisa se preocupar, não vai infeccionar, Naksu já verificou.

Sentados no sofá da casa de Jeff num início frio de manhã, ele e seu irmão discutiam sobre a irresponsabilidade do mais novo em ter feito algo tão radical em Barcode. Todos os outros ainda estavam dormindo, pois, como grande parte da família estava reunida, perder tempo sem aproveitar é loucura, por isso vinham comemorando a hora que podiam; bebendo, dormindo e acordado tarde. Code ainda se via meio perdido sobre qual faculdade seguir ou se apenas iria ajudar Jeff nos negócios de seu irmão mais velho. Com uma faixa em volta do seu peito, Barcode dormia tranquilamente depois de uma noite cheia de loucuras.

- Por que estão acordados tão cedo? - pergunta Naksu ao aparecer no topo do lance de escadas e ter a atenção dos dois voltada para si. Era realmente cedo.

- Que bom que acordou antes deles, eu tenho que falar com vocês dois sobre uma coisa. - diz e aponta para a outra poltrona para que ele se sente e assim possam conversar com calma.

- Eu só vim tomar um café, mas já que você precisa conversar, eu vou pegar um pouco e já volto. Querem? - ambos concordam e o médico se retira do cômodo. Do lado de fora neva um pouco e a manhã é cinzenta, uma xícara de café é ótima para momentos em que o mundo parece ter perdido a cor. Quem sabe a cor quente do café não dar cores quentes ao mundo.

A lenha que queimava delicadamente no fogo médio da lareira estalava com o calor e deixava a casa mais quente e aconchegante. Mesmo que não fosse casa de varanda e sim uma casa moderna, Jeff quis manter uma lareira e o calor que passava pela casa era realmente bom. Cores quentes tendem a tornar o ambiente mais caloroso e aconchegante e aquele dia parecia um dia perfeito para sentar em frente a lareira e conversar ou apenas passar o dia todo deitado e sem se preocupar com nada, mas nem todos os dias são para essas coisas.

As vezes, só queremos parar um pouco e deitar, deixar tudo de lado, sem pensar, sem sentir, sem existir. As vezes, não queremos levantar e arrumar a casa, nem tomar café... Às vezes, queremos apenas ficar em silêncio.

- Sobre o que você quer conversar, Jeff? - pergunta ao voltar para a sala onde os dois o esperavam.

- Os pais da Yumi...

- O que? O que tem eles?

Jeff estava enrolando para falar, mas uma hora isso teria que sair. Coisas precisam ser ditas e se não forem, tudo vai sair uma hora, seja da maneira certa ou não. Uma hora tudo vai explodir e talvez machuque as pessoas erradas. Seus olhos vagavam inquietos pela sala e pela neve que caía lá fora.

- Fala logo, Jeff! - insistiu Bible e ele o olhou, mas parecia meio perdido. Por ora parecia que aquele Jeff de antigamente estava adormecido e o Jeff calmo de 17/18 anos estava assumindo temporariamente seu lugar.

- Eu estraguei os negócios dos pais dela, lembram? - ambos concordaram e ele continuou - Barcode seria uma alavanca para os negócios, quer dizer, seus pais, mas o cancelamento do casamento ferrou com tudo.

- Mas você sabia que isso iria acontecer, Jeff. Você sabia que atrapalhando o casamento e matando os pais do garoto iria atrair a atenção pra você. Você sempre soube e era isso que você queria. - disse Naksu enquanto tomava mais um pouco do café que parecia esfriar um pouco a cada palavra dita por Jeff. Muitas coisas estavam erradas e Quebec não era o paraíso perfeito como todos achavam que era.

- Por que está falando disso agora? - perguntou Bible e apoiou os cotovelos nos joelhos.

- Os Tongtae voltaram...

Como eu disse: Jeff muda de personalidade muito facilmente, e ali em frente a Naksu não era mais o garoto do passado e sim o rapaz que viu seus pais morrerem. Era a pessoa fria e sem sentimentos de antes. A pessoa do olhar frio e sombrio que não sente e não tem pena de ninguém. Era o Jeff. Por ora parecia ter medo de alguma coisa, mas logo depois ele quem colocava medo nas pessoas. Ele era o motivo do medo de algumas pessoas. O amor pode mesmo mudar as pessoas? O quanto ou como? Por onde começa a mudança? Por que? Por que o amor muda tudo? Ou, por que ele não muda nada? O amor dar algum sentido a vida, ou ele apenas tira o pouco do sentido que temos?

- O que?! - Bible perguntou e levantou do sofá, exasperado e a xícara de café que ia em direção aos lábios de Naksu parou no meio do trajeto e ele também encarou o mais velho. Aquilo parecia uma novela que havia acabado de chegar na melhor parte, mas que ninguém sabia quando e como iria acabar.

- Desde quando? - pergunta o médico.

- Não sei dizer quando tudo começou, mas não é de hoje. - o mais novo levantou do sofá e caminhou até o início da escadaria para verificar se Barcode já havia acordado, mas o garoto ainda estava dormindo no quarto - Eu o vi, o vi na formatura do Code... Ele o tocou, tocou seu terno, sabia a cor e onde cada um de nós estava naquela noite. Ele sabia cada passo que eu dei. Foi ele quem me ligou...

- Jeff, isso é mais sério do que você pensa, por qual motivo não nos avisou?

- Do mesmo jeito que os assuntos da Tailândia ficaram na Tailândia, os problemas do Quebec ficam no Queber.

- Então você tem cuidado de tudo sozinho, até mesmo dele? - pergunta Bible, mas os olhos de Jeff encaram o segundo andar da casa e sua mente automaticamente projeta a imagem de Code. É tudo por ele - Você tem dado conta de tudo sozinho por mais de um ano?...

- É, Bible... não é como se eu não conseguisesse ser forte sem você.

- Jeff, pode tirar a camisa, por favor? - Naksu pede educamente e Jeff o obedece, mas ainda reluta um pouco. - Seu corpo...

Jeff tem hematomas pelo corpo e é tudo graças ao orgulho que não o deixa pedir ajuda. Marcas que foram escondidas de Barcode; contratempos ao busca-lo no colégio; problemas com pessoas estranhas na rua... Tudo havia uma razão, desde esbarrar com alguém na rua à bater o carro numa estrada pouco movimentada. Os sinais estavam lá, ele apenas não havia notado que estavam tão perto...

- Por isso você o marcou...

- Não tem nada em todo o planeta, Bible, que vença o amor...