01.

473 40 86
                                    

CHARLOTTE SARMIENTO

O meu cenho enrugou-se em julgamento quando ouvi o papai dizer que pagaria bolsa para três adolescentes entrarem na minha escola. Maggie estava ao meu lado quando também recebeu a notícia, ela era a minha melhor amiga, nós crescemos juntas. Estávamos em seu escritório.

Éramos donos de uma rede de empresas tecnológicas, a principal não só da Espanha, mas como da Europa inteira. Além disso, eu era filha do marquês, sucedendo-o como marquesa.

— Tio, você tem certeza que fará isso? Esses... Pé rapados não valem nem o ar da nossa escola, eles empobrecerão o local! — a loira perguntou amedrontada. Meu pai nos criou como se fôssemos irmãs, nossas famílias são unidas, então tínhamos intimidade o suficiente para comunicarmos-nos deste jeito. — Olhe, imagine se forem loucos... Imagine se tentarem nos matar.

— A escola deles foi demolida, Margarida. Me certificarei que não serão, acalme-se. Isso beneficiará a empresa. — papai respondeu. Eu ainda permanecia em silêncio, nenhuma palavra seria descritiva o bastante para o que eu tinha em mente.

Balancei a cabeça em negação e soltei um suspiro, coçando os meus olhos. Nada que eu dissesse faria-o mudar de ideia, papai era bastante cabeça dura quando colocava algo em sua mente. Meus olhos pararam na mamãe, que igual a mim, estava quieta e parecia um pouco relutante com esta ideia. Caminhei em passos silenciosos até a mulher e mordisquei o meu lábio inferior, juntando as minhas sobrancelhas e fazendo um pequeno drama.

— Não acha que isto dará certo, né? Ele colocará pessoas desconhecidas e que facilmente poderão roubar coisas nossas na escola, mamãe. Não sei se serei capaz de continuar estudando em paz sabendo disto. — eu indaguei. Os olhos verdes, iguais aos meus, me encararam apreensivos e a mulher soltou um suspiro frustrado.

— Conversarei com o seu pai, querida. Mas tente entender o lado dele, isso beneficiará a imagem da empresa. — a mais velha disse. Umedeci os meus lábios, troquei olhares com a minha melhor amiga e nós duas assentimos, encerrando o assunto e subindo a escadaria da minha casa e entrando no meu quarto. Sentei-me em frente a minha penteadeira e fui terminando de me arrumar para ir àquele caos, que agora seria a minha escola. Já estava de uniforme, assim como a minha melhor amiga que estava reclamando a beça.

— Que ideia idiota. Eles vão tentar nos matar, Lotte. E se nos roubarem? Nunca mais levarei meu celular à escola. — Maggie choramingou. Eu estava penteando os meus fios de cabelo louro escuro. Encarei meu reflexo no espelho e parei para ajeitar o laço do uniforme.

Não sei como não consegui transparecer que estou surtando por dentro... A minha vontade era de sumir com esses idiotas que entrarão e com a Margarida de tanto que ela está reclamando.

Entretanto, a única coisa que eu fiz foi abrir um sorriso fechado e me virar, olhando para a minha melhor amiga.

— Faremos a vida deles um inferno até o terceiro ano. Se conseguirem aguentar, aí é com eles. — eu sugeri. Um sorriso animado surgiu nos lábios da loira e ela bateu palmas, dando pulinhos.

— Gavira e Balde amarão isso. — Maggie disse. Eu assenti, abandonando a minha escova em cima da penteadeira e levantando para buscar a minha mochila.

Pablo Gavira era meu namorado, meu primeiro namorado, inclusive. Alejandro Balde era o namorado de Maggie. Ambos jogam pelo Barcelona, mas não é por isso que estudam no Instituto El Prado, é porque suas famílias são importantes e têm dinheiro, muito dinheiro. A mensalidade na escola é muito gorda, não é qualquer um que consegue pagar. Além disso, só é aceito quem vem de família elitista, mas como o papai é influente, com certeza conseguirá fazer com que esses carentes entrem.

ineffable, héctor fort.Onde histórias criam vida. Descubra agora