Acordei com uma sensação estranha, não sei explicar, meu coração palpitava e era como se algo estivesse faltando, como se o dia tivesse amanhecido diferente e algo não fizesse sentido. Mesmo com essa estranheza me levantei, acendi o abajur e puxei minha bolsa de esmaltes para pintar as unhas. Peguei um potinho violeta e fiquei ali pintando as unhas por um bom tempo tentando espantar aquela sensação. Minhas mãos estavam trêmulas e mexiam tanto que minha mão inteira estava borrada de roxo.
Trim...Trim...Trim
O despertador começou a tocar,desliguei e comecei a limpar minha mão ,que continuava tremendo, esperando minha mãe bater na porta, passaram-se alguns minutos,mas não houve nenhuma batida, olhei algumas vezes para a porta à espera dela. Mas não houve uma batida sequer.Me levantei confusa, abri a porta ,mas ela não estava lá, corri para o quarto dos gêmeos, mas estava vazio, não havia brinquedos no chão ou as risadas alegres, a casa estava em completo silêncio. Saí gritando minha mãe pela casa, mas segui sem resposta. Não ouvi gritos dos gêmeos, Cler não estava obrigando Cayo a brincar com ela ou brigando por que ele não sabe brincar direito, não tinha nenhum barulho sequer apenas o eco da minha própria voz.
O café da manhã não estava na mesa e a pia estava cheia de louça, a casa estava em completo caos, o que era estranho, porque minha mãe mantinha a casa sempre em ordem ,ela não estava sentada com seu cabelo e roupas perfeitas, com as pernas cruzadas e seu telefone dizendo o que era preciso ser feito. Minha mãe não tinha me avisado de nada, puxei meu celular do bolso e procurei seu número, chegou a chamar algumas vezes, mas ninguém atendia.
Estava tudo muito confuso, porém apenas deduzi que ela havia ido mais cedo para o trabalho e levado meus irmãos junto.Como sempre estava sem fome, então apenas peguei alguns chicletes que estavam em meu bolso e fui para o meu quarto, como já era de costume ele não estava muito organizado então foi um pouco difícil achar minhas coisas.
Minha mochila estava embaixo da cama e aquela blusa horrenda do uniforme de alguma forma foi parar em cima do lustre. Vesti aquela roupa horrorosa ,juntei os meus livros e joguei tudo na mochila, quando a coloquei nas costas parecia pesar uma tonelada.Quando finalmente terminei de me vestir fui até o quarto dos gêmeos para dar um tchau, mas me lembrei que eles não estavam lá, foi estranho sair sem me despedir dos meus irmãos caçulas ,mas continuei mesmo assim.
Tranquei o portão e fiz o mesmo percurso de sempre, coloquei meus fones que tocavam minha música predileta. Mas havia algo de errado, a senhora Selma não estava varrendo a calçada ou gritando com seus filhos desempregados, segui mais em frente e Tito também não estava andando desorientado pela rua, seguindo as pessoas ou falando besteiras sem sentido, mas o mais estranho era que não havia as buzinas insistentes,pois os carros estavam parados na rua sem ninguém dentro. Virei a esquina sem entender o que estava acontecendo e não encontrei Liz andando desatenta, olhando para o seu celular ou falando da vida alheia.Uma sensação estranha começou a tomar conta do meu corpo, minha respiração começou a falhar,meus lábios começaram a tremer e meu coração batia em um barulho estrondoso que podia se ouvir de longe , era como se algo estivesse errado, mas eu ainda não tinha descoberto. Tirei os fones e corri em direção ao trabalho da minha mãe, no caminho não vi uma pessoa sequer, às lojas e comércios estavam todos vazios e não havia um vendedor ou dançarinos de rua.
Corri o mais rápido que pude,o caminho inteiro minhas pernas bambeavam e minha respiração era ofegante.
Assim que avistei a empresa de longe, corri em sua direção, não havia os seguranças que costumavam ficar na porta e que provavelmente me barrariam se estivessem ali, o estacionamento estava vazio, não havia nenhum carro ou vestígio de pessoas. Entrei, mas também não tinha ninguém lá dentro, a recepcionista não estava atrás do balcão preenchendo formulários enormes ou oferecendo balas horríveis de gengibre , passei de sala em sala procurando alguma alma viva, mas foi em vão. Procurei pela sala da minha mãe que estava vazia, havia papéis caídos e nossa foto de família estava quebrada no chão. Já sem esperanças saí correndo com as pernas bambas, corri para fora e caí ajoelhada no chão, em minha cabeça começou um zumbido alto, meus olhos se encheram de lágrimas e eu não consegui segurar.Eu não entendia o que estava acontecendo, mesmo assim o desespero tomou conta do meu corpo e meus pensamentos começaram a se embaralhar, eu não sabia o que fazer e em total estado de angústia e desespero comecei a gritar, era como se eu guspisse minha própria alma. Arranquei minha mochila nas costas e comecei a jogar tudo que tinha nela no chão ,houve um barulho de vidro quebrando, eram meus esmaltes ,cheia de lágrimas no rosto, tentei pegá-los ,porém os cacos entraram em minha mão fazendo um corte profundo.
Soltei outro grito quase tão alto quando o primeiro não aguentei e cai no chão agonizando em muita dor, fiquei lá por horas deitada no meio fio chorando.
Sentei na calçada morrendo de dor, com minha mão sangrando, procurei em minha mochila algum remédio para jogar na ferida. A única coisa que encontrei foi um frasco de álcool em gel, peguei minha blusa de frio, coloquei entre os dentes e mordi com toda minha força enquanto jogava o álcool na ferida, era uma mistura de dor e angústia inexplicável. Meu corpo inteiro tremia ,um nó se formava em minha garganta e a única coisa que saia da minha boca eram gemidos de dor.Rasguei a blusa com os dentes e amarrei em volta do machucado, sem muita força me levantei ,e caminhei de volta para casa ,sem entender nada do que estava acontecendo. Durante todo o caminho fui chorando, tanto de confusão mental quanto de dor ,era algo que eu nunca tinha sentido em toda a minha vida, minhas pernas estavam moles e minha cabeça ardia.
Abri o portão de casa e entrei tropeçando em minhas próprias pernas, eu não tinha forças para mais nada ,fui para o quarto da minha mãe e em meio a lágrimas me deitei abraçando um de seus travesseiros cor de rosa. Eu não era uma pessoa religiosa, mas naquela tarde eu rezei a qualquer entidade que pudesse me escutar, pedindo para que tudo aquilo não passasse de um sonho ruim, um pesadelo ou fruto da minha própria imaginação. Eu chorei por horas e horas até finalmente pegar no sono
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Apocalipse Silencioso
General FictionAyla, uma menina de dezessete anos, sempre desejou desaparecer. Ironicamente, foi a única a ficar. Agora, sozinha no mundo, ela embarca em uma jornada para descobrir o que realmente aconteceu. Será que existe mais alguém além dela? Em meio ao mistér...