ꜱᴇᴛᴇ - ꜱᴏʙ ᴄᴏɴᴛʀᴏʟᴇ

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Quanto mais andava pela casa, maior ela ficava. Como estava só no mundo, tomei a liberdade de me apossar dos itens dos antigos moradores, já que acredito que eles não iam se importar. Peguei algumas roupas novas da adolescente que habitava naquele quarto; só um casaco de pele dali pagava um mês inteiro do nosso aluguel.

Passei a tarde inteira andando pela casa e lendo o antigo caderno de couro que havia encontrado mais cedo. Era tudo muito interessante; lá havia diversas formas de gerar energia elétrica, porém nenhuma estava ao meu alcance, pois eram necessários equipamentos profissionais, e eu não teria habilidades suficientes. Mesmo assim, continuei a ler. A caligrafia antiga e as folhas amareladas me fascinavam; na verdade, sempre tive uma queda por antiguidades, desde moedas de diversos países até telefones e máquinas esquisitas.

Após um tempo andando, me sentei na borda do chafariz que havia no jardim. Ele era enorme como uma piscina; no centro, tinha a estátua de dois pequenos anjos que tocavam flauta, e por toda a água havia vitórias-régias belíssimas. Eu me contive para não pular ali agora mesmo, então apenas balancei meus pés na água, que era tão cristalina e limpa que me senti em um sonho, em um mundo escrito só para mim. Meus olhos lacrimejavam, mas não de tristeza e muito menos de alegria; era um sentimento que nunca havia sentido antes. Em parte, não me sentia mais tão mal com tudo aquilo, mas meus pequenos faziam falta. Eu podia me acostumar com a ideia de estar só, mas sem minha família, jamais.

Folheei mais algumas vezes o caderno enquanto balançava meus pés descalços na água. Quem quer que tenha escrito aquilo morou neste lugar. Na capa, havia costurado um sobrenome que eu não sabia pronunciar. Ao folhear mais uma vez, uma folha se descolou de outra página que me havia passado despercebida; nela havia um mapa de toda a casa. Mesmo desgastado, parecia ser a coisa mais recente desenhada ali. Decidi explorar o local; afinal, eu tenho todo o tempo do mundo.

Ao olhar o mapeamento da casa, me impressionei com a quantidade de banheiros. Nunca entendi o porquê de ricos terem tantos banheiros. Em casa, tínhamos apenas um, mesmo tendo dinheiro para nos mudarmos para uma casa maior. Mamãe insistia em continuar na casa em que sempre moramos; não tenho ideia do porquê, já que todas as memórias de abusos físicos e psicológicos ocorreram lá. Balanço a cabeça para espantar qualquer pensamento sobre meu pai. Sempre disse a todos que ele havia morrido; afinal, ele de fato morreu para mim.

Volto para as páginas do caderno e não vejo nada de novo, além de um porão e o quarto da empregada. Me parece bem desinteressante seguir pelo quarto da doméstica, então vou na direção contrária. Precisei passar por uma porta de madeira debaixo das escadas. O lugar é escuro e úmido; assim que entro, levo um susto com a quantidade de morcegos que voam em minha direção. Ao contrário do resto da casa, ali estava uma bagunça; parecia estar abandonado há um bom tempo, e não me surpreenderia se encontrasse um cadáver em alguma das gavetas.

Conforme eu caminhava, meus olhos se acostumaram com a escuridão. Caminhei pelo ambiente, guardando na minha bolsa todo tipo de coisa que encontrava pelo caminho, como lanternas, câmeras e armas de fogo. Também vejo algo embalado em um saco preto. Não consigo conter minha curiosidade, então, com muita dificuldade, desembalo a máquina. Havia coisas escritas em outro idioma que não consegui identificar. Aquilo teria me passado despercebido se eu não tivesse quase certeza de que já tinha visto aquilo em algum outro lugar. Pego o pequeno caderno de couro e folheio depressa.

— Isso!!! — pulo de entusiasmo ao identificar o que era aquilo: um gerador de energia solar.

                              [...]

Estou sentada na grama, pintando minhas unhas de preto, enquanto minha companheira de quatro patas corre atrás do próprio rabo.

Acabei de subir com a máquina que encontrei no porão escada acima e, de tão exausta, desabei na grama. Estava cansada, mas não o suficiente para deixar de pintar as unhas. Sei que parece uma mania fútil, mas não faço isso por estética ou para me sentir mais bonita; é uma forma de controle. Às vezes, são esses pequenos costumes que sempre tive que me ajudam a me manter sã em meio a tanto caos.

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