ꜱᴇɪꜱ-ɴᴏᴠᴏ ᴍᴜɴᴅᴏ

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Às vezes gosto de pensar que o mundo se calou para que eu finalmente pudesse mostrar minha voz. Nas últimas semanas comecei a treinar, acredito que como uma forma de manter a esperança e não pensar em nada. Nos últimos dias tentei fazer muito isso.

Antes de tudo acontecer, eu jamais acordaria nesse horário, mas agora quero aproveitar o máximo de tempo possível. São apenas cinco horas da manhã, o sol sequer deu sinal de vida e eu estou correndo na esteira com os fones no volume máximo. Estou correndo o mais rápido possível, meu rosto está vermelho e meu corpo está completamente suado, até que todas as luzes se apagam e a esteira para.

— O que aconteceu?— balbucio as palavras ainda ofegante.

Me sento no chão ainda confusa, tentando recuperar o fôlego. O sol começará a aparecer, então não estava mais tão escuro. Após tomar alguns goles de água e recuperar o fôlego, me levanto e vou em direção ao interruptor, o aperto algumas vezes, mas nada.

— Vamos, garota, acho que chega de treino por hoje— minha cadelinha, que estava sentada perto do bebedouro, se levanta correndo.

Não sei por que escolhi uma academia tão distante da minha casa, aliás, não sei nem por que ainda estou morando na mesma casa, já que posso ter literalmente qualquer casa no mundo. Acredito que seja um jeito de ainda sentir um pouco da presença da minha família, já que vivi minha vida inteira nessa casa.

Ao chegarmos, tudo está escuro, não como na academia, pois o dia já começava a amanhecer. Não sei o que aconteceu, mas adentro pela porta mesmo assim, dessa vez segurando uma lanterna que estava em minha mochila.

Tento ligar todas as luzes de casa, mas nenhuma presta, então descarto a ideia das lâmpadas terem queimado. Vou até a garagem de casa, onde fica o registro de energia, e aperto alguns botões na esperança da luz voltar, mas nada acontece. Merda, a energia havia acabado, sem ninguém para fazer manutenção dos cabos era claro que uma hora ela acabaria.

Pego meu celular, na esperança de achar algo sobre geradores de energia, mas sem energia significa sem Internet. Revoltada, jogo o telefone no chão.

Estava tudo escuro demais e Selena estava no canto brincando com algo, então decido abrir o portão da garagem. O empurro algumas vezes, mas ele estava tão enferrujado que acabou cedendo e caindo no chão.

Ao assobiar para chamar a pequena, ela vem correndo em minha direção. Não sei bem para onde estava indo, mas estava procurando algum lugar com energia. Saio sem rumo, andando sem ter aonde ir. Caminho por alguns minutos até chegar na frente da casa dos meus sonhos, os portões parecem me chamar e os pássaros nos muros cantarolavam para mim, sei lá, de alguma forma tudo naquela casa me atraía, gritava meu nome.

Não tenho para onde ir, então decido adentrar na casa. Passo pela porta de entrada e o local está iluminado, o que significa que aqui ainda há energia. Os antigos moradores devem ter sido muito importantes, pois havia diplomas por toda a parede da sala, fotos em família e troféus que me distraem facilmente.

Preciso focar, a energia daqui também não duraria para sempre, então preciso de alguma forma de gerar energia.

Tento me lembrar de algum momento em que meu pai tentou me ensinar algo do tipo, já que ele era um eletricista antes de se entregar à bebida, mas sequer me lembro de um momento em que tentou me ensinar algo. Em vez disso, me perco em momentos em que ele teria me agredido se minha mãe não intervisse. Odeio pensar naquele homem, o pior foram os olhares de pena dos parentes quando ele se foi, me olhavam como se tivesse perdido um pai, mas como poderia ter perdido algo que nunca tive?

Ao lembrar disso, meu sangue ferve. Eu o odeio, odeio com todas minhas forças. Respiro fundo tentando me acalmar e subo as escadas indo em direção à biblioteca que descobri da última vez em que visitei o local. Acredito que sempre ficarei impressionada ao entrar naquele lugar. Passo os olhos por cada categoria de livros à procura de algum livro que pudesse me ajudar. Pego alguns aleatórios empoeirados e folheio suas páginas, acho todo tipo de informação: mapas-múndi, tipos de flores venenosas e até nomes de condessas do século passado, mas nada sobre energia.

Me sento no sofá ao lado de uma enorme prateleira. Eu devia ter prestado atenção nas aulas de ciências. Derrotada, me escoro na prateleira. Ao olhar para baixo, percebo algumas gavetas.

Ao abrir uma delas, encontro um caderno velho e empoeirado. Suas páginas estavam amareladas pelo tempo, mas era possível ler as anotações. Folheio rapidamente até encontrar algo sobre energia. Meus olhos brilham de esperança ao ver alguns diagramas de geradores, esquemas de circuitos e até mesmo instruções detalhadas para a construção de um gerador caseiro. As anotações parecem ter sido feitas por um profissional experiente, e algumas páginas estão datadas de muitos anos atrás.

—Até que enfim!- as palavras saem dos meus lábios e uma sensação de alívio toma conta do meu corpo.

—Vamos pequena, temos muito trabalho pela frente - me levanto e vou em direção à saída.

Ao sair de lá, surge em mim uma nova esperança, um pensamento inusitado percorre minha mente, eu podia recomeçar, podia criar um mundo completamente novo do zero.

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